sexta-feira, 31 de agosto de 2012

3 asneiras juntas



Acabo de ver, no rodapé de um programa, num canal da Televisão que temos em Portugal, a seguinte inscrição: “…previlégio dos açoreanos…”. 

Ora, as palavras mencionadas escrevem-se com i e não com e, como se pode constatar em qualquer dicionário elementar. 

A falta de conhecimentos, a ignorância e a iliteracia campeiam, mesmo entre os responsáveis pelos serviços públicos. 

E não se pense que com mais Acordos, mais Decretos, ou mais Verbas, passaremos todos a ser melhor servidos. 

Anos de desleixo, incompetência e falta de rigor, levaram a um estado deplorável de ignorância e iliteracia no que se refere à Língua Portuguesa, mesmo por muitos dos responsáveis pela Cultura, pelo Governo e pelo Ensino. 

Os que teimosamente continuam a escrever e a usar, correctamente, a nossa Língua, são rotulados de puristas, conservadores e datados. 

Chega-se ao desplante de ouvir e ler opiniões de responsáveis de Governos que vamos tendo, defendendo que o que interessa é fazer-se entender. 

Pelos vistos, os erros de ortografia – generalizados em qualquer teste de acesso aos estudos superiores -, são irrelevantes para um candidato a futuro professor de Língua Portuguesa. 

Ao que nós chegámos!... 

Lembro-me do relato de um vizinho com quem me cruzava no prédio, onde ambos morávamos, que, muito incomodado, me dizia: 

Ainda estou a pensar, amigo professor, como é que raio não respeitei a pontuação e não dei a entoação devida, numa frase do programa de rádio, em que sou locutor!... 

Hei-de trazer a gravação e havemos, em conjunto, se estiver de acordo, de analisar bem as razões do meu supervisor. 

É que uma “não conformidade” custa muito a engolir, quando se é profissional!... 

Sabe, nós, os locutores profissionais, estamos na cabina e o supervisor acompanha, no gabinete, tudo o que dizemos e como o dizemos. Aquilo é a sério, caro professor. Temos muito orgulho em ser locutores de primeira! 

Não tenho visto, nem ouvido, aquela designação profissional. Hoje todos são repórteres, jornalistas, e muitas outras coisas, mas, certamente, os supervisores que estavam à coca de qualquer percalço ou erro, para imediatamente o corrigirem, terão acabado. 

Maleitas que o tempo teima em não sarar. 

Generalizou-se, o QI à brasileira, onde as iniciais já não têm o significado clássico, mas antes querem dizer: Quem Indicou. 

E, não sei porquê, veio-me à memória o meu velho professor de Português que costumava testar os caloiros com uma pergunta: 

Olha lá, serás capaz de escrever três asneiras juntas? 

O Casimiro, que chegou ao Colégio já espigadote, olhou o professor nos olhos, coçou a cabeça e, resolutamente, levantou-se e foi escrever no quadro preto: na sará fácel!... 

Ai é, é!..., como acabas de provar!.. 

Vais emendar-te, escrevendo cem vezes: Não será fácil .

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A beleza do simples


Lembro a declaração do júri num concurso de culinária, para justificar a classificação do vencedor, com o seguinte princípio: 

“Para nós, comida boa é a comida sob a perspectiva de nós próprios e do nosso mundo, sem esquecer os outros que irão confirmar, ainda mais, quem somos. 

Cozinhar bem é estar solto, sem vergonha de mostrar a cara, fiéis a nós mesmos, ao nosso grupo, à nossa gente.” 


No preâmbulo de um projecto de desenvolvimento e aproveitamento local, escrevia o arquitecto: 

“O princípio básico para se fazer arquitectura é procurar redescobrir e valorizar os materiais que nos são oferecidos no local, aceitá-los e expô-los, exaltando-os e dando força aos seus elementos mais simples”. 


A decisão do júri dos jogos florais, numa vila da nossa província, em que foi atribuído o primeiro prémio a um concorrente que apresentou uma simples folha de papel com o seu romance, assentou na seguinte declaração: 

“O trabalho premiado responde, completa e cabalmente, aos parâmetros de qualquer obra literária, pois tem princípio, meio e fim; é coerente e perfeitamente inteligível; é claro e de uma beleza inultrapassável; está correctamente redigido, quer morfológica, quer sintacticamente; tem cadência e tempos de acção totalmente síncronos e harmoniosos e envolve na sua inultrapassável singeleza um clima de incerteza e mistério, perfeitamente definidores de um verdadeiro romance”. 

O júri decidiu, não querendo abusar da vossa paciência, fazer a leitura do trabalho premiado, para que todos possam compreender a justeza e acerto da nossa decisão. 

Biografia do autor: Tónio, de 27 anos, do Monte Fundeiro, andou na mestra até ao 2º grau e é moiral de vacada, na herdade de S. Luís. 

Título: Gente simples. 

Texto do romance: Nasceu morto. FIM. 


Os júris dos concursos de culinária, de arquitectura e de literatura, independentemente dos seus atributos e larga competência académica, foram motivados pelos argumentos mais primários e mais próximos das personagens que melhor definiram e representaram a simplicidade das coisas simples. 

E, nas diversas declarações e justificações de voto definiram, magistralmente, a essência da beleza do simples.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Plutão


  Terra - Lua e, em baixo, à direita Plutão - Caronte

Plutão é um planeta-anão, do sistema solar,  desde que, em 24 de Agosto de 2006, a União Astronómica Internacional – UAI – alterou a sua designação de planeta principal.

Plutão é, agora, visto como o primeiro de uma categoria de objectos trans-neptunianos, cuja designação de “plutoides” foi aprovada, em Paris, pela News Release 0804 da UAI de 11 de Junho de 2008. 

Anteriormente, em Set de 2006, a UAI atribuiu a Plutão o nº 1340340, dos planetas menores, de modo a reflectir a sua condição de planeta-anão.

Localiza-se numa região do Universo conhecida como Cinturão de Kuiper e demora 248 anos terrestres a fazer a translação em volta do Sol.

Tem um satélite maior, chamado Caronte e dois menores, Nix e Hidra, descobertos em 2005.

Plutão foi descoberto em Fev de 1930, no Observatório Lowell, de Flagstaff, Arizona, pelo astrónomo, de 24 anos, Clyde Tombaugh, que foi o primeiro a fotografá-lo.

As características físicas de Plutão são, na maior parte, desconhecidas, devido à dificuldade de investigação e à falta de contacto de qualquer nave espacial terrestre.

Para observar Plutão é indispensável um telescópio especial, através do qual se pode determinar que tem uma cor castanho-clara, ligeiramente amarelada.

Nas décadas posteriores à descoberta de Plutão a sua massa e tamanho eram apenas estimativas; inicialmente pensou-se que era muito maior que a Terra.

Porém, após a descoberta de Caronte, em 1978, foi possível determinar a massa do sistema Plutão-Caronte, pela simples aplicação da formulação newtoniana da terceira Lei de Kepler. 

O diâmetro de Plutão foi calculado quando o planeta-anão foi ocultado por Caronte. 

A massa de Plutão é menos de 20% da da Lua (ver, na imagem, comparação Terra-Lua e Plutão-Caronte – em baixo à direita -).

Se os humanos vivessem no tempo de Plutão, nunca chegariam ao 1º ano de vida (248 anos) e um homem de 70Kg, na Terra, pesaria apenas 4Kg, em Plutão.

Um sinal de rádio, transmitido à velocidade da luz, leva cerca de 4,5 horas, da Terra a Plutão.

Imaginemos um modelo reduzido em que o Sol fosse uma bola de futebol (22 cm de diâmetro). 

A essa escala, a Terra estaria a 23,6 metros e seria uma esfera com 2 mm de diâmetro. A Lua ficaria a 5 cm da Terra e teria 0,5 mm de diâmetro. Plutão ficaria a 931 metros do Sol, com 0,36 mm de diâmetro. A estrela mais próxima, a Próxima Centauro, estaria a 6332 Km do Sol e a estrela Sírio a 13150 Km do Sol.

A cerca de 257 000 Km/hora, da Terra à Lua seria 1h e ¼; até ao Sol, 3 meses; até Saturno, 7 meses e até Plutão e deixar o sistema solar, 2 anos e meio. 

A partir dali, 17 600 anos até à estrela mais próxima e 35 000 anos até Sírio.   

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Queijo / memória



Aprendemos, em diversas fontes, que o queijo é um óptimo complemento alimentar. 

A sua importância e valor derivam da sua facilidade de transporte, longa durabilidade e alto teor de gordura, proteína, cálcio e fósforo.

Nestes atributos do queijo estão os principais factores que ajudam o cérebro a desenvolver a faculdade de conservar ideias, ou noções, anteriormente adquiridas – a memória –. 

Antes disso, desde criança, sempre ouvi dizer: 

Como te hás-de lembrar? Comes muito queijo! 

E pensava o que aconteceria à minha memória, já que comia bastante queijo. 

Mas, como tinha muito boa memória, acabei por não ligar, embora tenha continuado a interrogar-me sobre a razão de tal crença popular. 

Cientificamente nada parece existir; pelo menos não conhecemos nada escrito nesse sentido. 

Já na literatura encontramos várias referências à velha crendice que separa queijo e memória: 

O padre Manuel Bernardes, na “Nova Floresta”, diz: “há também memória artificial, da qual uma parte consiste na abstinência…. como os lacticínios….” 

Mestre João Ribeiro esclarece no seu “Folclore”: “É crença popular que os lacticínios, especialmente o queijo, são alimentos que prejudicam a memória”. 

Pereira da Costa, no “Vocabulário Pernambucano”, e Eduardo Campos, folclorista cearense, na “Medicina Popular”, referem que quem come casca de queijo, ficará “esquecido”, de memória fraca. 

José Lins do Rego, no livro “Meus verdes anos” escreve: “Botava a cartilha e a tabuada por baixo do travesseiro… E não comia queijo. Queijo fazia ficar rude …”. 

José da Fonseca Lebre, nas suas “Locuções e modos de dizer usados na província da Beira Alta” regista: “Homem, parece-me que tu comes muito queijo. Em certos dias pareces-me bruto. Então, é lá coisa que se compreenda, um disparate desse lote?” 

Na “Feira de Anexins”, obra póstuma de D. Francisco Manuel de Melo, nas suas desengraçadas metáforas sobre a memória, escreveu: “Você está em França, tem memória de galo. / - Tome anacardina. / - Basta que eu não coma queijo. / - Se eu o comera, já pensara que me morria.”. 

Sem nada concluir, finalizamos com uma recomendação, baseada nas propriedades do queijo: coma queijo; o cálcio, as proteínas e o fósforo, protegem o esmalte dentário. O queijo aumenta a salivação, livrando os dentes de açúcares e ácidos e exercendo um efeito anti-bacteriano na cavidade bucal.