sábado, 23 de fevereiro de 2013

LUIZ GOES - Homenagem



Personagem marcante da “Canção de Coimbra”, nasceu na cidade do Mondego, em 05JAN1933, e veio a falecer em Mafra, em 18MAR2012. 

Estudante, em Coimbra, e médico estomatologista em Lisboa, nunca deixou de cultivar a música. 

Assinou, como autor, 18 baladas e 25 fados e como intérprete, ao longo de seis décadas, produziu um vastíssimo reportório, elevando, como ninguém, a Canção de Coimbra. 

Nunca foi profissional, mas mereceu as mais altas distinções, quer nacionais, quer internacionais. 

Foi um dos artistas portugueses mais internacionalizado (Congresso da Cultura da Língua Portuguesa, na Universidade de Georgetown, nos E.U.A.; Homenagem a Beethoven, na Áustria; programas televisivos no Brasil, França, Espanha, Suécia, África do Sul, Estados Unidos e Áustria. 

Viveu os tempos de estudante, num ambiente familiar onde a mãe tocava piano e o tio, Armando Goes, cultor do fado de Coimbra na década de 20, o incentivaram para o canto e, aos 14 anos já cantava em público. 

No Liceu D. João III, foi colega e amigo de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira e foi padrinho musical de ambos: todavia, a sua maior referência foi Edmundo Bettencourt. 

Licenciou-se em medicina em 1958 e cruzou-se com muitas figuras marcantes da vida do tempo: Miguel Torga, Manuel Alegre, Bernardo Santareno, Teolinda Gersão, Yvette Centeno, entre outros. 

Formou o Coimbra Quintet com António Portugal, Manuel Pepe, Levy Baptista e Jorge Godinho. 

Foi mobilizado, para a Guiné, de 63 a 65, como Alf. Miliciano Médico. Depois regressou a Lisboa, onde exerceu a profissão de médico estomatologista, até 2003, ano em que se reformou. 

Mas, diz quem o conhecia bem, aqueles tempos de Guiné, fizeram-lhe muito mal; embora sempre tenha sido um homem equilibrado e com um rumo perfeitamente definido e identificado, ficou muito quebrado: a guerra, os amores e os ideais, não perdoaram e foram sempre minando aquele homem íntegro e amigo do seu amigo. 

Autor e intérprete de muitas canções de intervenção e oposição ao regime, nunca caiu para o outro lado – andou sempre no fio da navalha. 

Foi defensor não de um Fado, não de uma Balada, mas de uma Canção de Coimbra. São verdadeiros marcos indeléveis, a Toada Beirã; o Fado da Despedida; a Balada da Distância; a Romagem à Lapa; a Canção do Regresso; É preciso acreditar; Homem só, meu irmão; Entre muitas outras. 

O album Serenata de Coimbra, gravado nos anos 50, com Carlos Paredes, João Bagão e António Portugal é, segundo Manuel Alegre Portugal, o disco português mais vendido. 

Escolho estas suas quadras, auto-retrato de um homem, regressado a Lisboa, vindo da guerra: 
Volto de mãos vazias  
Sem ter nada do que quis. 
P´ra morrer bastam dois palmos  
De terra do meu país

E também: 
Pobre de quem regressa  
Ao jardim e acha um deserto. 
Já perdeu o que está longe  
Já não tem o que está perto.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

LUIZ GOES “A voz do Fado de Coimbra”




Uma viagem, em FEV66, num navio patrulha, entre Bissau e o Xime, levou-me ao conhecimento da voz do grande senhor do Fado de Coimbra – Luiz Goes. 

Regressado de licença de férias na Metrópole, ao chegar a Bissau, fui informado que a minha C.Caç. tinha sido transferida de Binta – junto do rio Cacheu, Zona de Farim -, para o Xime - junto do rio Geba, na zona de Bambadinca - e que a melhor ligação seria o Patrulha da Marinha que se encontrava no cais de Bissau. 

Fui às falas com o Comandante Malheiro, que durante 1965 recebera várias vezes em Binta, e tive as primeiras notícias, por sinal nada animadoras, sobre o novo sector para onde ia. 

O meu comandante de Companhia já deixara recado, em Bissau, que no meu regresso de férias me encaminhassem para o novo destino, via Marinha. 

Durante a viagem, fiquei maravilhado com o gravador Sony que rodava as bobines de fita magnética, durante três horas, fazendo ouvir uma bela série de Fados e Baladas de Coimbra. 

Olhe, este cantor – Luiz Goes -, esteve até há pouco tempo cá na Guiné, como Alf. Mil. Médico e aí sentado, onde está o senhor Alferes, ouviu-se a si próprio. 

O gravador, um Sony TC500, estava a tocar e, ao lado, outro mais pequeno – Sony TC200, servia de apoio, para fazer cópias, etc. 

Fora encomendado por um outro Alferes que antes de recebê-lo foi evacuado. 

Chegámos a acordo e, por dois contos de réis, o gravador ficou comigo, no Xime. 

Logo ali ficou combinado que na próxima viagem a S. Vicente – Cabo Verde - me trariam um Sony TC500A – a nova bomba, recentemente saída. 

Também me foram oferecidas 3 fitas de 180 minutos, duas com Fados e Baladas de Coimbra e uma com Fados de Lisboa e música ligeira. 

No Xime, a nova coqueluche, trabalhava à noite – quando ligávamos o gerador para iluminação eléctrica do acampamento. 

Às vezes, para manutenção dos frigoríficos, também ligávamos durante uma parte do dia. 

A vinda do TC500A veio dar outras possibilidades – uma vez que o anterior foi passado ao Alf. Estrela pelos mesmos 2 contos e eu dei os restantes três, para pagar o novo. 

Com a colaboração do Alf. Guerra, que viera de Medicina, lá de Coimbra, ouviu-se e gravou-se tudo o que foi possível – Fados e Baladas de Coimbra, sobretudo de Luiz Goes, Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira. 

Trouxe, do Xime, quase 30 fitas gravadas. 

A recente partida de Luiz Goes – 18SET12 – motivou esta Folha solta – como uma singela homenagem. 

Nascido em Coimbra, estudou com os grandes cantores de intervenção – Zeca Afonso e A. Correia de Oliveira – no Liceu D. João III e depois na Universidade. 

Com uma voz magnífica e um sentido musical invulgar, representa para a música de Coimbra o que Amália Rodrigues representa para a música Portuguesa. 

Merece uma Folha solta especial, pois além dos 25 Fados e 18 Baladas de sua autoria, tem um vasto reportório.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Utopias e Dogmas…



A vida está cheia de utopias e dogmas, sendo que é utópico o que se imagina como sendo perfeito, ideal, porém, imaginário; e dogmático o que é tido como ponto fundamental e indiscutível de uma crença ou doutrina, sendo, pois, uma verdade absoluta, definitiva e imutável.

Nas várias décadas que levamos de vida – uma partícula, se comparada com a eternidade -, vemos nascer e morrer utopias e desmoronarem-se dogmas. 

Na política, na religião, na ciência e no simples dia a dia, não faltam exemplos do que acabamos de dizer. 

Daí o apuramento do sentido crítico, a dúvida metódica e a dificuldade de embarcar em qualquer teoria ou doutrina, sem o mínimo de garantias ou a menor base de sustentação.

Lembro-me da primeira definição de célula que há mais de meio século ouvi a um professor de anatomia: 

"São os milhões de pequeníssimos componentes do nosso corpo, sendo a actividade de cada uma, incomparavelmente superior à da maior petroquímica do mundo em plena laboração." 

E tudo isso provém de um óvulo fecundado por um espermatozoide – origem da vida.

Agora, sentado no sofá, vendo televisão, lendo os milhares de amigos que repousam nas estantes, em meu redor, consultando o computador, o telemóvel ou o simples tablet digital, vejo o Mundo encurtar-se, ao contrário do que me foi revelado nos anos de colégio – era a Dona Elisa que nô-lo mostrava nas aulas de História e de Geografia, ou o Dr. Baptista nas Ciências Naturais.

Depois, vejo a minha neta, que nos seus sete anos, lê e escreve em línguas portuguesa e francesa, abre o Skype e conversa com a tia que está na Suíça e pesquisa os desertos da Austrália; ou vê os DVD do homem sobre a Lua; ou a NASA a corrigir a rota de uma sonda a milhões de quilómetros da Terra.

Leio também um velho relatório, em que, há pouco mais de vinte anos, propus a substituição gradual do sistema informático “main-fraim” por computadores pessoais, sendo severamente acusado de utópico. 

Todavia, uma década depois havia mais de duas centenas de PC na Empresa.

Lembro a primeira vez que o Comendador – meu patrão, ao tempo – me entregou um artigo sobre nano-tecnologia. 

Tudo hoje se cria e destrói à velocidade da luz e… de utopias, estou imunizado. 

Porém, quanto a dogmas restam-me o da criação da vida e o de Deus… Ambos aceites, sem reticências…

(Homenagem à Srª Dª Elisa, minha profª no Colégio D. Pedro V, de Mação,  falecida há poucos dias )