sexta-feira, 31 de maio de 2013

Brasas, “crescente”e raminho de salsa…

Na cozinha da casa estava a lareira, debaixo da chaminé, com as varas do fumeiro, o canto da lenha e os assentos da família: bancos, cadeiras, tripeças e o sobrado, aí uns vinte centímetros acima das lajes onde se fazia a fogueira que, além de cozinhar a panela das refeições, os caldeiros dos porcos e uma panela de água quente para lavagens, era o aquecimento no Inverno. 

A divisão, de telha vã e pouco pé direito, tinha uma porta para a casa de cima e outra para a cabana da tapada onde estava a porta da despensa, a talha da água, o poial onde se lavava a loiça e se preparavam as refeições. 

Sobre o acesso à lareira, a verga da chaminé e a prateleira corrida, com a caldeira e as sertãs, as panelas e os tachos e as provisões de mercearias a recato de gatos e ratos. 

E no canto do lado direito, ao lado do furtado que cobria o canto da lenha, uma tigelita de barro guardava as parcas economias, provenientes das vendas dos ovos, de alguns litros de azeite, dumas botijas de aguardente e uns queijos frescos, muito procurados lá em casa. 

Era o pé-de-meia com que se pagava na loja, à sardinheira e os trapos ao Tio João Gregório e à Ti Carlota. 

Ao fundo dos três degraus, a cantareira com o cântaro e o asado, com o púcaro da água, e por cima, as prateleiras dos pratos e tigelas. 

Ao canto da parede da casa do Ti João Pardal e da Ti Clementina, a maceira da farinha e, encostadas à parede, as tábuas do pão e do queijo penduradas dos barrotes do tecto, por arames. 

Já junto da porta para a tapada, a francela onde se fazia o queijo. 

Junto da parede, a mesa, em frente das pilheiras onde se guardava o pão, a tijela das azeitonas, a almotolia do azeite. 

Na gaveta da mesa estava a toalha, os guardanapos e os talheres. As facas da cozinha e os pratos. 

Penduradas do tecto, duas lanternas de pavios embebidos no azeite e com resguardos de vidro, para as saídas aos cortelhos do gado, ao palheiro da mula, ou às outras divisões da casa: casa de cima, casa de fora e quartos de dormir.

Interessante era o buraco, junto do chão, na parede entre as duas casas, por onde se passavam as brasas com que se acendia o lume, se recebia ou dava o crescente do pão, ou um raminho de salsa. 

Recebiam-se e davam-se recados e até, em certas alturas, se rezavam orações em conjunto, depois da ceia. 

Também os gatos por ali passavam em direcção à ceia que melhor lhes cheirasse...

sábado, 25 de maio de 2013

Picota



Desde tempos imemoriais a necessidade de puxar a água dos poços para a superfície levou à utilização de diversos processos desenvolvidos pelo espírito e invenção do homem, por forma a minorar o esforço.

Um dos engenhos mais difundidos, vem do tempo das primeiras civilizações e aparece referido num selo de Sargão, na Mesopotâmia, datado de 2.000 a.C..

Depois, a grande divulgação da picota terá sido feita pelos Árabes, que estiveram entre nós, na Península Ibérica, por mais de sete séculos, até ao séc. XV.

As picotas têm, de um modo geral uma estrutura e aspecto transversal às diferentes civilizações e regiões do Globo Terrestre, tendo, todavia, as três partes fundamentais, nomes diversos, segundo as regiões: 

Na Beira Alta o pau enterrado no chão e bem fixado na vertical, com uma bifurcação na parte superior, chama-se esteio, gancha ou galhada

Na Beira Baixa, esta peça chama-se pegão

O pau que bascula sobre o esteio, suportado pelo eixo, pode chamar-se cambo, travessal ou cavaleiro

A vara ou varela, presa na ponta do cambo e na vertical do poço, recebe na parte inferior o balde que desce até à água e, depois de cheio é içado até ao aguadoiro, onde começa a levada, ou onde estão os recipientes para guardar a água.

O contrapeso que auxilia a subida do balde depois de cheio é constituído por pedras furadas presas na parte do cambo oposta à amarração da varela, isto é, na parte de trás da picota, que além de outros e variados nomes, se chama burra, burra de augar (ógar ou ugar), ogadoiro, picanço, esteio, cambo, na região da raia do Sabugal. Na Beira Baixa estão generalizados os nomes de cegonha, engenho e, sobretudo, picota.

Os poucos exemplares que ainda restam, verdadeiros monumentos nacionais, parte integrante da paisagem humanizada até há pouco tempo, irão desaparecer. 

Se havia picota, havia água, havia verde e havia gente; coisas que vão rareando.

Picota, foi o nome popular do pelourinho; talvez por isso, o povo o deteste.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Ignorantes, distraídos, enganados…



A ilustração “imprensa – manipulação” publicada por um blog que seguimos habitualmente, serve-nos de título à “Folha solta”, e enquadra, na perfeição, as reflexões desencadeadas por qualquer publicação, anúncio, publicidade ou comportamento, quando se vende abaixo do preço de custo, se paga acima do desempenho, ou se recompensa sem exigência de reais contrapartidas. 

Embora nos sintamos ofendidos no amor-próprio, vendo-nos retratados nas marionetas que, comandadas por uma grande mão, parecem ler com toda a atenção e empenho, convenhamos que esta verdade omnipresente não faz parte das preocupações dos agentes e comunicadores que criam, alimentam e robustecem os mídia e o seu expoente máximo - imprensa

Quando, há pouco mais de uma década, começámos a aceitar na rua e nos transportes públicos, ou a retirar de caixas habilmente colocadas no nosso caminho os “Jornais grátis”, quando nos colocamos numa fila para receber uma coisa que estão a dar lá à frente, sem sequer sabermos o que é, ou se nos interessa, quando todos os dias retiramos das nossas caixas de correio, material publicitário, quando decoramos os folhetos do supermercado… não pensamos que nada é grátis, que tudo tem um custo e tudo se paga. 

Um jornal, uma revista, um espectáculo, são vendidos abaixo do preço de custo. Mas o preço de custo é totalmente suportado. Então quem paga a diferença? Muito simplesmente, a publicidade quer expressa, quer latente e, ainda claramente patente, ou encoberta. 

Não é necessário saber muito de Economia, ter estudado ou cursado Marketing, alardear dotes de Politólogo, ou subscrever o nome com cátedra em qualquer coisa, para perceber que a difusão de notícias, ou ideias, está, totalmente, sob a dependência do dinheiro

Qualquer órgão de comunicação social, seja qual for o estatuto por que se reja, não pode atacar certos temas, tem de esconder certas matérias, dourar determinadas pílulas, passar ao lado, por baixo, ou por cima de determinados obstáculos. Dizer a verdade, toda a verdade e só a verdade, corresponderia a uma opção impossível, levaria qualquer agente ou organismo ao absurdo, à morte. 

A ideia de público, ou privado, tem sido panaceia para entreter a plebe. A compartimentação da Sociedade em Direita, Centro, ou Esquerda nada acrescentam hoje aos que defendem essas ideias datadas e rigorosamente obsoletas. As teorias económicas e as doutrinas políticas estão um pouco como os midia: as forças ocultas que dominam, controlam e alimentam as crises formam e destroem Governos, alimentam ou esvaziam Organismos. Então o que fazer? 

Promovamos a Educação. Não como placebo para atacar os verdadeiros males da Sociedade do nosso tempo; mas como fundamento de afirmação cultural, social, profissional e humano. Coloquem-se os profissionais por normas e atributos de competência, recompensem-se os mais capazes e com provas de maior produtividade. Desenvolva-se a ética social, dando valor a todas as organizações de cultura, altruísmo, entretenimento, lazer, desporto, bem-estar. Reajustem-se os apoios sociais para os que efectivamente precisem deles e estabeleçam-se justas recompensas para os inovadores, investidores e impulsionadores da criação de riqueza. Defina-se o verdadeiro significado do conceito de riqueza. Ponha-se, de uma vez por todas, o interesse colectivo acima do individual.

sábado, 11 de maio de 2013

O SOL




Diz Konstantim E. Tsiolkovsky, cientista hodierno nas pesquisas sobre o astro-rei, que: 

“Os homens não permanecerão na Terra para sempre, mas nas suas buscas de Luz e Espaço, penetrarão primeiro, timidamente, além da nossa atmosfera, e, mais tarde, conquistarão, para si, todo o Espaço perto do Sol.” 

Por seu lado, uma criança de hoje – um dos futuros homens de amanhã – vê o sol como o desenho anexo nos mostra.

Quanto a nós e ao que nos é dado a conhecer, diremos que, não raro, vamos além do possível, mas não cremos que nas mais próximas gerações seja exequível a conquista a que se refere Tsiolkovsky. 

Já não tanto pela distância que nos separa da estrela centro do nosso sistema, mas, principalmente, pela dificuldade em encontrar materiais suficientemente resistentes para que seja viável a qualquer meio terrestre aproximar-se do Sol.

Passando aos dados objectivos, necessariamente expressos em números, se não inconcebíveis, pelo menos dificilmente compreensíveis, que correspondem às dimensões, às características, às reacções químicas, às radiações e deixaremos todo o resto livre para a sua imaginação.

Assim: 

O Sol ocupa mais de 98% de todo o sistema que influencia. 

Se quiséssemos ocultar o disco que vemos, necessitaríamos 109 Terras e no seu interior caberiam 1.300.000 planetas como o nosso. 

Em números absolutos, a massa do Sol, em kg, é expressa pelo número 1.989 seguido de trinta zeros (um pouco mais de 330.000 vezes a massa da Terra). 

O diâmetro do Sol aproxima-se de 1.600.000 km; quase 110 vezes o diâmetro do nosso planeta. 

A temperatura, à superfície, ronda os 6.000ºC. e no núcleo, gerador da energia, é de 15.000.000ºC.

Na composição química do Sol destaca-se o Hidrogénio (92,1%) e Hélio (7,8%), ficando para os restantes componentes 0,1%.

A temperatura no núcleo (15.000.000ºC) e a pressão (340 biliões de vezes a pressão atmosférica na Terra ao nível do mar), são tão elevadas e intensas que originam reacções nucleares. 

A cada segundo, 700 milhões de toneladas de hidrogénio são convertidos em cinza de hélio e libertadas 5 milhões de toneladas de energia, que leva um milhão de anos a chegar à superfície.

O Sol está activo há 4,6 biliões de anos e tem combustível suficiente para continuar por mais 5 biliões de anos, antes de colapsar numa anã branca. 

No final da sua vida, expandir-se-á, crescendo tanto que engolirá a Terra. 

Poderá depois levar um trilião de anos a esfriar completamente. 

Podemos, e devemos, dormir sossegados!...

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Simplicidade…Sabedoria


Recordamos 4 sentenças que, além de simplicidade, transmitem a elegância de estilo e a sabedoria dos seus autores.

Não é por muito falar, ou por nada dizer, que somos, ou deixamos de ser, ouvidos. E, muito menos, entendidos.

“Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar”- Esopo.

“A elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir”- P. Valéry.

“A personalidade assemelha-se a um perfume de qualidade; quem o usa é o único que não o sente”- G. Cesbrin.

“Um dos paradoxos dolorosos, do nosso tempo, reside no facto de serem os estúpidos que detêm as certezas, enquanto os que possuem imaginação e inteligência se debatem com dúvidas e incertezas”- B.Russel.

Deixamos, para os leitores, os comentários e as conclusões; nós quedamo-nos com o aforismo alemão que diz que “as árvores mais velhas, dão os frutos mais doces”.

E, como consolo, que agradecemos aos muitos leitores que, diariamente, nos lêm, nos quatro cantos do mundo, onde chegam os nossos blogues, continuamos a cultivar a simplicidade, aspirando ao último grau da sabedoria, seguindo os ensinamentos de Khalil Gibran.

Nota: Deixamos estas pequenas reflexões na altura em que se completam 5 anos sobre o lançamento dos nossos blogues:

Acrescentando, apenas, que nada mais temos feito que retribuir a paciência que têm tido por ler-nos, criticar-nos e louvar-nos, os mais de cem leitores diários de cada blogue. Bem hajam!...