quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Réquia por um Homem Grande



Francisco de Matos Roseiro e Maia, de 94 anos – faleceu em Lisboa e foi sepultado em Mação, sua terra natal, em 28 de Dezembro de 2013.. 

Acrescentaríamos a estas duas linhas uma vasta bibliografia e uma infinidade de factos que preencheram a longa vida deste nosso conterrâneo, se soubéssemos que isso seria o seu gosto.

Mas nem ele precisa de elogios fúnebres, nem nós queremos deixar aqui discursos maçadores.

Todavia manda a verdade e o interesse do exemplo, deixado por este Homem, que todo o concelho conhecia por Senhor Francisco Roseiro e nós, que tivemos o privilégio da sua palavra e o prazer do seu convívio, chamando-lhe Ti’ Chico Roseiro, que se apresente a ponta visível deste grande iceberg.

Personalidade “low profile”, estava com o mesmo à-vontade, na mais tosca adega da mais insignificante aldeia, como no mais elegante copo-de-água do mais requintado cerimonial.

Nunca é de mais lembrar o seu conceito de liderança tão bem descrito uma vez que coincidimos numa reunião de gente ilustre. 

Disse-me ele: felizmente Deus deu-me altura suficiente para não precisar de me pôr em bicos de pés, para ver o que preciso.

Não posso deixar de referir uma das acções mais nobres em que se empenhou e que nunca terá chegado ao conhecimento dos muitos beneficiados: pertencendo ao grupo que financiou o Professor Lalanda no projecto do colégio, foi, por várias vezes, impulsionador e congregador de vontades. 

Numa reunião, na sua adega, entre quatro ou cinco pessoas, o construtor esticou a corda ao máximo: ou se arranjavam ali sessenta contos para poder avançar com a obra, ou teria de parar. 

Perante o impasse foi a palavra do sr. Roseiro que se fez ouvir: não pára nada. Amanhã, antes do fim do dia, levo-lhe o dinheiro. 

E o colégio fez-se.

Perdoe-nos, Ti’Chico, as inconfidências. Sabemos que teve muitas vezes o coração nas mãos e nunca decidiu, liminarmente, pela parte mais forte. 

Nas estremas, que rachava como ninguém, nas conciliações, nas pequenas demandas, onde mãos que agrediram acabaram apertadas, nas avaliações, nos conselhos graciosos, nas orientações de culturas agrícolas e no incentivo aos pais indecisos que acabaram mandando os filhos estudar, sempre foi eficaz e discreto.

Não precisou de cursos nem galões para chegar aos ouvidos de quem queria que o ouvisse, nem falava muito alto, calando-se, às vezes, para se fazer ouvir.

Fica esta singela homenagem, retrato esbatido de uma existência escrita a letras de ouro no grande Livro da Vida. 

Com a nossa sentida saudade…

Descanse em Paz! 

 Prof. José Valente

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O sonho..…a vida

Nas histórias e nos diálogos, criados de mim para mim, dou comigo a olhar não sei para onde e a pensar não sei em quê. 

Porém para completar o nome desta “Folha solta”, faltou-me uma palavra, entre as várias que me vieram à mente. 

Fui atrás do espelho e, no fundo escuro, sobressaía um conjunto de hipóteses, ligadas a letras: estava lá o V da vida, o S do sonho, depois, por ali, um T invertido, um A deitado, dois Os, lado a lado, e um K ao lado do L

Não há aqui, nesta janela de sonho, nenhum C, pelo que não vou pelo filosofal - comando - do poema de A. Gedeão. 

Bem, deixemos então as letras substracto do sonho, com as evidências assinaladas e como que formando um lastro semi-obscuro que acaba por dar origem às imagens do espelho, isto é, da vida. 

Estava encontrado o meu título: o sonho reflecte a vida

Mas viver a vida é olhar para a frente, é seguir os raios luminosos, do espelho, que se projectam no futuro. 

E se sempre olhei para a frente e para cima, porque irei deter-me, agora, nestas conjecturas?

Depois, socorrendo-me do que os anos me ensinaram, das experiências e caminhos que a vida me abriu, das pessoas que ensinei e me ensinaram, do que sonhei, imaginei e deduzi, dos êxitos e insucessos, acabo por concluir que tudo assenta numa base, caldeada ano, após ano; experiência após experiência; livro após livro; amigo após amigo… 

E que sem essa capacidade crítica, sem saber guardar e eliminar, traduzido no sonho, reduzido às letras do obscurecido lado do espelho da vida, não é possível definir os bons caminhos e chegar aos comportamentos da excelência.

Chegados aqui, diante da confusão medonha da vida dos nossos dias; sem tempo para pensar e muito menos para reflectir e analisar aquilo que se pensou, chegamos aos resultados catastróficos que todos os dias presenciamos: guerras declaradas ou veladas que mais não resolverão que os problemas dos que as iniciaram e nelas, normalmente, não participam; degradação das condições ambientais e catástrofes ecológicas que afectarão sobretudo os mais vulneráveis mas acabarão por destruir os seus próprios autores; políticas e regimes sociais comandados por forças que em nome dos povos se vão revelando como os maiores inimigos dos que apontam como sua base de apoio.

Hoje, a depuração de toda a informação que nos chega, a definição do bom e do mau, a eleição dos competentes e dos ineptos, é difícil. 

As escolhas são condicionadas e as opções impostas. 

Uma minoria de Países comanda o Mundo, não abertamente, mas por forças ocultas e meios escondidos do comum dos cidadãos. 

Tudo, evidentemente, em favor das grandes liberdades e da democracia. 

Os meios económicos condicionam governos; através deles, países e, consequentemente, pessoas.

Salvo a falsa benevolência e excelência dos avanços tecnológicos, que caminho teve a inteligência nos últimos séculos? Que progresso tiveram as artes? Que benefícios tiveram as pessoas no seu dia- a-dia? Que esbatimento tiveram as diferenças sociais? Que liberdade, igualdade e fraternidade, foram proporcionadas ao comum dos mortais? Que diferenças foram introduzidas na Sociedade em benefício da coletividade?

Quando quem engana quem, atingir a capacidade de auto análise e quem se sentir enganado descobrir quem o enganou, haverá condições de paz social? 

Quando quem vive para sobreviver estiver à altura de analisar, conscienciosa e inteligentemente a sua vida, continuará disposto a dar de comer, aos que ignoram a sua fome? 

Como será, então, a reflexão do grande espelho da vida?

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

BELVER – museu do sabão


Aí pelos anos 90 – já lá vão uns vinte – assisti, durante uma Feira de Ciência e Tecnologia, na cidade de Barcelona, a uma sessão promocional do Governo da Catalunha. 

Entre várias iniciativas pedagógicas, foi descrito o ciclo biológico de um rio, feito pelos alunos de várias localidades situadas nas margens de um curso de água que descia dos Pirenéus para o Mediterrâneo.

No trabalho era referido, e muito bem apresentado, um museu do sabão, com a indicação de que se tratava de um raro exemplar. 

Em todo o Mundo, segundo o assessor científico da Empresa de material didáctico, nossa representada, só haveria outra coisa idêntica, no Líbano.

E explicou-me o Dr. Martin Molinero, que não tanto pelo processo de fabricação de sabão que é, em si, muito simples, mas pelo desenvolvimento histórico das diversas fases por que passou aquela indústria, era um local bastante visitado pelos alunos das escolas e pelo público.

Trouxe documentação, falei com algumas escolas, sobretudo no Norte e não consegui que qualquer autarquia, ou escola, se interessasse pelo projecto de preparar um museu de sabão.

Há dias, em buscas na Internet, parei, por mero acaso, no “site” sobre o Museu do sabão, recentemente inaugurado no edifício de uma ex-escola primária de Belver

E veio-me à memória a cena de introdução desta “Folha solta”, que irei completar com as transcrições que se seguem, com a devida vénia às Autarquias que puseram de pé a louvável iniciativa.

Transcrevo, sendo o realce e sublinhado, meus:

“O espaço pretende «perpetuar a memória da indústria de saponificação em Belver desde o século XVI até à primeira metade do século XX», segundo informa a autarquia, mais concretamente aos seus saboeiros, nome pelo qual ficaram conhecidos os cidadãos desta localidade situada entre o Norte Alentejano e a Beira Baixa.

Os promotores do Museu salientam que todos os que visitarem o espaço vão encontrar-se com a história saboeira que outrora incentivou a economia local na região, e de forma «muito moderna», através das novas tecnologias e ferramentas interactivas que ajudam os visitantes a perceber como se produzia este produto.

Um saber-fazer ancestral concebido a partir de cinzas e borras de azeite.

O espaço conta a história saboeira da região, recordando a estatização de todas as saboarias do Reino (em 1766), centrando-se, em particular, no desenvolvimento da Real Fábrica de Sabão, situada em Belver, que laborou em regime de monopólio régio até 1858, e que se dedicava à produção de sabão mole e sabão de pedra.


As visitas ao Museu podem ser efectuadas de quarta a sexta-feira, das 10 às 17h00 e aos sábados e domingos das 14h00 às 18h00.”

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

James Cameron

Nasceu (16AGO1954) em Ontário (Canadá) e cresceu junto de Niagara Falls. Estudou na Stamford Collegiate. 

Foi para a Califórnia aos 17 anos e estudou Filosofia na Univ. Toronto e, depois, de graduado em Física, interessou-se pelo cinema, aprendendo técnicas de filmagem, equipamentos, efeitos especiais e, especialmente como Direcção, Produção, Argumento, Roteiros, Edição, etc.. 

Produziu 15 filmes, de que destacamos: O exterminador do futuro (1984), Aliens (1986), Terminator 2 (1991), Titanic (1997) e Avatar (2009). 

Os 2 últimos foram galardoados com vários Óscares da Academia e Globos de Ouro – melhor filme, melhor director, melhor editor.

Mas a carreira deste homem não se resume ao cinema. 

O projecto da sua Associação com a National Geographic Society, a Rolex e o Instituto Scripps de Oceanografia de San Diego, visou a exploração dos fundos marinhos, com o fim de recolher, pessoalmente, espécimes, amostras e indícios de utilidade científica. 

Até então, essas recolhas só eram possíveis pela intervenção de robots, pelo que a presença humana traria grandes vantagens para a pesquisa científica.

Cameron tornou-se no primeiro homem a viajar sozinho ao ponto mais profundo dos oceanos – a Fossa das Marianas, 11 mil metros abaixo do nível do Oceano Pacífico -. 

A expedição demorou 2h36m, foi levada a cabo em 26MAR2012, e visou o vale Challenger Deep, para recolher dados científicos e captar imagens do fundo do mar.

Utilizando um submersível com oito metros de comprimento, especialmente criado para o efeito, Cameron desceu aos 10.898 metros de profundidade e, de lá, através de uma mensagem no Twitter, disse: “Chegar ao fundo nunca soube tão bem. Mal posso esperar para partilhar convosco aquilo que estou a ver”. 

Demorou, depois, 70 minutos a regressar à superfície, 500 km a sul da ilha de Guam. 

A viagem foi o corolário de 2 anos de trabalho da equipa de Cameron, formada por engenheiros e investigadores.

Cameron manobrou o submersível por regiões nunca antes exploradas, captando imagens para um documentário de promoção da exploração e descoberta científica dos oceanos. 

O comentário de Doug Bartlett, biólogo marinho do Instituto Scripps de Oceanografia em San Diego, confirmou que as imagens eram totalmente diferentes das que alguma vez tinham sido vistas, a bordo de outros submarinos ou veículos operados remotamente.

O submersível estava equipado com um braço robotizado para recolher rochas e animais e várias câmaras para captação de imagens. 

O material a recolher visava o estudo e melhor compreensão dos sismos e dos tsunamis e as forças tectónicas que ajudam a dar forma ao planeta e ainda conhecer a fauna que habita e sobrevive em ambiente tão inóspito.

Especialmente para Cameron era um desejo de há muito tempo. 

Dizia ele: “A imaginação alimenta a exploração” e continuava: “Temos de imaginar que é possível antes de partirmos.”


quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

-Ãos -Ões -Ães …plurais


Os plurais dos nomes terminados em –ão não poderiam ser tratados numa simples Folha Solta. 

Da escrita à acentuação, da analogia à etimologia popular, passando pela regionalização, há imensos factos a considerar. 

Deter-nos-emos, por isso, no que consideramos essencial para o comum dos mortais, deixando o resto aos técnicos e investigadores.

Os nomes terminados em –ão, apresentam 3 tipos de plural, de acordo com a terminação latina correspondente, ou por influência da analogia:

· Derivados de nome latino terminado em –ones, formam o plural em –ões.
Ex. acção (actione)- acções. E, de igual modo: leão, oração, ladrão, lição, canção, etc..

·  Derivados de nome latino terminado em –anus, acrescentam a desinência –s.
Ex. mão (manus) – mãos. E, do mesmo modo: irmão, órfão, grão, cristão, cidadão, etc..

· Derivados de nome latino terminado em –anes, formam o plural em –ães.
Ex. cão (cane) – cães. E também: pão, capitão, hortelão, sacristão, etc..

Nota-1: Seria tudo relativamente simples se estes 3 tipos fossem gerais e universais. Mas a complicação começa agora e vai ao ponto de mesmo os bons gramáticos não estarem de acordo.

·  Há nomes que oscilam entre 2 das formas, podendo adoptar-se qualquer delas: Corrimão / corrimões ou corrimãos.  Verão / verões ou verãos.

· Outros nomes admitem 3 tipos de plural: Ancião / anciões, anciães e anciãos.  Ermitão / ermitões, ermitães e ermitãos.
E também neste caso: aldeão, alão, sultão.

OBS.: Nestes casos preferimos o plural em –ões (processo de analogia), dado que a maioria das palavras vindas do Latim, formam o plural em –ões.

Nota-2: Tomemos, como referência, a palavra Ancião e as 3 formas de plural, sem uma distribuição geográfica disponível nem uma justificação taxativa, para cada uma das formas. 

Verificamos que os linguistas se dividem entre os que defendem que em Portugal se usa mais anciões e no Brasil anciãos. Os Dicionários dos dois países são omissos quanto a esta questão.

Todavia dados recolhidos em corpora em linha indicam, exactamente, o contrário:

Consulta a 2 corpora, da Linguateca – o cetem Público (189,6 milhões de palavras provenientes do Jornal “Público”) e o ProjectoAC/DC corpoNILC/S. Carlos (32,5 milhões de palavras de textos jornalísticos brasileiros), fornecem os seguintes resultados:
Cetem Público: anciãos – 106 ocorrências, anciões – 17 ocorrências e anciães – 1 ocorrência.
Projecto AC/DC: anciãos – 13 ocorrências, anciões – 36 ocorrências e anciães – 0 ocorrências.

Nota-3: Referimos agora a palavra Artesão, que admite 2 formas de plural, tendo, cada forma de plural um significado próprio:

· Artesão – plural artesões (lavores para decorar ou enfeitar, tectos ou abóbadas).
· Artesão – plural artesãos (artistas q/ trabalham, artesanalmente).


Por isso, não critique se tiver oportunidade de encontrar a seguinte frase: “Os artesões das abóbadas das capelas, foram concebidos e produzidos por artesãos portugueses”.