domingo, 29 de junho de 2014

António Aleixo


A sátira e a ironia aparecem tão bem jogadas nas quadras de António Aleixo que revelam, pelo menos, o domínio de certos enquadramentos e raciocínios lógicos, indiciadores de treino intelectual e muita leitura.

A simplicidade com que se exprime e o rigor cirúrgico com que manipula e resume as ideias, evidenciam largas horas de leitura e, sabendo nós que um dos livros que mais utilizava era o dicionário, grande domínio das palavras.

A maior profundidade é alcançada em quadras e, até mesmo, em versos isolados, que nada mais fazem, depois, que dar cor aos quadros que pintam. 

E, na simplicidade e beleza dessas imagens, na realidade e clareza dessas observações, reside a subtileza da sua obra, em que raramente se lê uma palavra menos comum, ou de difícil compreensão.

Algumas pérolas:

A mosca

          Uma mosca sem valor
          Poisa com a mesma alegria
          Na careca de um doutor
          Como em qualquer porcaria.

Ironia

          Julgando um dever cumprir
          Sem descer no meu critério
          Digo verdades a rir
          Aos que me mentem a sério.

Trocadilho

          Entre leigos ou letrados
          Fala só de vez em quando
          Que nós às vezes calados
          Dizemos mais que falando

Jogo de palavras

          P’ra não fazeres ofensas
          E teres dias felizes
          Não digas tudo o que pensas
          Mas pensa tudo o que dizes.

Imponderabilidade

          Quem prende a água que corre
          É por si próprio enganado.
          O ribeirinho não morre
          Vai correr para outro lado.

Destino, fatalidade

          Vinho que vai p’ra vinagre
          Não retrocede o caminho.
          Só por obra de milagre
          Pode, de novo, ser vinho.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O novo milénio



A discussão à volta do começo de cada século reanima-se cada cem anos e, particularmente, neste caso, tão especial, que nos cabe viver, em que nos interrogamos sobre o instante em que começará, também, o novo milénio.

As pessoas emocionam-se, fortemente, ante a iminência da chegada do ano 2000. 

Todavia, a fixação por este número é apenas um caso especial da atracção que exerce nos seres humanos a “quantidade redonda”, sobretudo os múltiplos de 5 e de 10. 

Tal é devido à circunstância, absolutamente fortuita, de termos cinco dedos em cada mão e dez no total e daí derivar o facto dos nossos sistemas métricos estarem, geralmente, baseados no número 10. 

Em várias culturas subsiste a numeração baseada no 20, o que se deve a usarem também os dedos dos pés, para contagens. 

No entanto, se só tivéssemos tido oito dedos, em ambas as mãos, teríamos desenvolvido um sistema baseado no 8, denominado, tecnicamente “octal”, como o que se emprega em vários procedimentos de computação electrónica. 

Em tal sistema, o próximo ano 2000 representar-se-ia com o número 4952, enquanto o mesmo ano 2000, no sistema “octal”, já teria passado há muito, pois correspondeu ao nosso ano 1024.

Os anos, que correspondem ao tempo em que a Terra dá uma volta ao redor do Sol, são numerados pelos seres humanos, e, cada civilização, decidiu dar-lhes um número a partir de um começo arbitrário. 

Também o dia do início de cada ano resulta de uma convenção e não corresponde a nenhum facto astronómico. 

A Terra já deu mais de 5000 milhões de voltas ao Sol, mas os humanos começaram a contá-las há uns 6000 anos, ao surgirem as primeiras civilizações.

A Era Cristã - a mais utilizada neste momento - impôs-se, sobretudo, pelo predomínio político e tecnológico do Ocidente e não por qualquer razão mística. 

Este registo foi adoptado no ano 540 d.C. quando o Papa Vigílio I designou o monge Dionísio para que calculasse, com exactidão, o ano do nascimento de Cristo. 

Naquela época estava em uso a Era contada a partir do ano da fundação de Roma e Dionísio determinou que Cristo nascera em 25 de Dezembro, do ano 753 da Era Romana, pelo que 754 se considerou o “ano um” da nova Era. 

Por toda a Europa ordenaram-se as trocas de calendários e documentos e o ano em uso mudou de 1294, da Era Romana, para 540, da nova Era, chamada Cristã.

Não houve “ano zero”, porque este conceito matemático era desconhecido de Dionísio e do comum das pessoas cultas, sendo apenas manejado por alguns matemáticos, de Alexandria. 

Mas resultou que Dionísio se enganou na conta; determinou-se, com exactidão, que Herodes – o Grande – morreu no ano 4 a.C., pelo que Cristo teve de ter nascido antes que tivesse podido ocorrer a matança dos Inocentes. 

Assim, na realidade, a data do Seu nascimento deve fixar-se antes da Era Cristã. 

Não se fez a correcção, pois seria ocioso e devido aos problemas que isso implicaria.

O que acabamos de dizer significa que os “charlatães”, que anunciam o fim do mundo para o ano 2000, estão equivocados, já que o autêntico ano 2000 foi em 1994, verdadeiro bimilénio do nascimento de Jesus Cristo e, que se saiba, o Mundo não terminou no ano 1000, nem em nenhum outro, que se tenha já anunciado como o “fim dos tempos”.

Realçamos o facto de não ter existido ”ano Zero”, como não há “dia Zero”, em cada mês, nem “século Zero”, nem “milénio Zero”. 

Os primeiros 100 anos – 1º século – da nossa Era cumpriram-se, justamente, no ano 100, tendo então começado o segundo século, no ano 101. 

De modo análogo, o século XX começou em 1901 e o século XXI começará no ano 2001 o que quer dizer que o 3º milénio se iniciará, também, nesse ano. 

O ano 2000 é o “ano secular” do século XX, no qual este se completa. 

Será, também, o “ano milenar”, em que se completará o segundo milénio da nossa Era.

domingo, 15 de junho de 2014

PRESENTE!...


Sou da geração dos que fizeram a Guerra Colonial que tantos sacrifícios pediu, aos jovens da nossa Pátria, e tão pouco lhes deu, em troca, votando-os ao mais ignóbil esquecimento e ostracismo. 

Nem há figura jurídica para enquadrar os EX-COMBATENTES.

É, por isso, que, junto convosco, CAMARADAS, digo PRESENTE!... Ao recordar e homenagear aqueles que deram tudo!...

Todavia, não se pense que apenas os que deram a vida, no teatro das operações, morreram em consequência da Guerra. 

Muitos outros viram carreiras cortadas, saúde arruinada, família desfeita, morte prematura, em resultado daqueles fatídicos anos.

Também, por esses, eu venho dizer PRESENTE!...

Dos 130 homens que comigo, e sob o meu comando, percorreram as matas da Guiné, 3 caíram no terreno e 40 dos que voltaram, morreram, já, antes dos 70 anos de idade. 

Muitas terão sido as causas dessas mortes, mas, não tenhamos dúvidas, as sequelas da guerra são evidentes – não é normal que num grupo de 130 homens, saudáveis aos vinte anos, quase um terço morra antes de completar 70 anos –.

Por aqueles que, muitas vezes, não tiveram sequer meios para comprar medicamentos e cuidados de saúde, indispensáveis à continuação da vida, dizemos PRESENTE!...

E, de Governo em Governo, todos vão esperando que estes números aumentem; até que todos morram e ninguém mais se lembre deles.

É por isso, CAMARADAS, que aqueles que aprenderam o significado da solidariedade e da amizade em condições tão adversas, que selaram com sangue sentimentos tão nobres como a luta pela vida e a preservação da espécie, não podem aceitar que a nossa Pátria tenha meios para tudo e quase todos, incluindo aqueles que nunca nada fizeram, ou muito fizeram contra as normas estabelecidas e os direitos dos seus semelhantes e, para os que por ELA lutaram…NADA!...

Contra este estado de coisas, exorto-vos, CAMARADAS, a dizer PRESENTE!...

Já que ninguém, com poderes, se preocupa; já que nenhum Governo deste País reconhece as doenças adquiridas, ou com causas nas condições que a Pátria pôs à disposição destes seus filhos, quando deles se serviu, peço-vos que ajudem a minorar o sofrimento de muitos CAMARADAS que, já desiludidos, aguardam…o fim. 

Para eles e por eles, PRESENTE!...

Alferes-Miliciano, louvado por diversos graus da hierarquia militar, condecorado com Cruz de Guerra de 2ª classe (prata), galardoado com o Prémio Governador da Guiné, por acções em combate – 

Felizmente, vivo!....

domingo, 8 de junho de 2014

INTERNET- Visão em1999, e 15 anos depois.

…para gozo de entusiastas e ponderação de dirigentes….Dez1999.

O Departamento Norte-americano de Defesa, em conjunto com empresas e universidades, criou, nos finais dos anos 60 – em plena “guerra-fria” – uma rede de comunicações, a que chamou ARPANET. 

O objectivo do então novo sistema era conseguir sobreviver a uma guerra nuclear.

Felizmente não foi necessária para os fins em vista, mas deu origem a um dos maiores fenómenos de comunicação social da história da Humanidade – a INTERNET –.

Nos 30 anos de existência a World Wide Web não tem tido um desenvolvimento regular: o acelerar dos factos atinge tal proporção que podemos dizer que ninguém poderá prever o que irá passar-se a alguns meses de distância. 

Eis alguns números e factos, sobre o que se passa, nos nossos dias (há 15 anos atrás, entenda-se): 

· Nos EUA, 60 a 70 milhões de adultos, visitam, em cada mês, 800 milhões de “sites”.

· Quase 60% das empresas norte-americanas venderão produtos “on-line”, no ano 2000 – em 98 aquele número rondava os 25% –.

· Os americanos vão atingir, em breve, 10 milhões de redes domésticas.

· A “Cisco”, maior “site” de comércio electrónico, vende 32 milhões de dólares, por dia. 

A “Amazon”, maior livraria “on-line”, detém já todos os troféus de crescimento e recordes de vendas.

· Mais de 80% dos licenciados dos EUA, procuram emprego, “on-line”.

· Os sectores económicos ligados às tecnologias da informação (TI) estão a crescer ao dobro do ritmo de toda a economia. 

Em 30 anos (69 / 99), a quota de gastos empresariais em TI, passou de 3% para mais de 50%, sendo já dos maiores dos EUA, dando origem a ¼ do crescimento económico e empregando mais de 6 milhões de pessoas, com salários quase duplos dos sectores tradicionais.

· Os EUA detêm a maior taxa de utilizadores da Internet – uma em cada seis pessoas – e só nos últimos 6 anos (93 / 99) o crescimento do número de americanos ligados à WWW passou de 3 para 80 milhões, o que representa 40% dos utentes em todo o Mundo (estimados em 200 milhões).

· As empresas que utilizam a Internet apresentam crescimentos 50% mais rápidos que as restantes.

· Quase metade das empresas dos EUA vendem “on-line” e metade das que não estão ainda ligadas pensam fazê-lo até ao fim do próximo ano (2000).

· No final dos próximos 3 anos (2002), o comércio electrónico da Europa ultrapassará o dos EUA. 

Haverá quase 50 milhões de lares europeus, com Internet e, não esqueçamos que mais de metade dos clientes das empresas americanas é do estrangeiro e, destes, a maior quota é europeia.

Os mais recentes estudos apontam para uma probabilidade de compra “on-line”, em língua nativa, 3 vezes superior às compras em línguas estrangeira.

Nota: Por razões de ética profissional não refiro a reacção que este documento provocou nos elementos do Conselho de Administração do Grupo Empresarial em que era Director Comercial.