quarta-feira, 30 de julho de 2014

Liber…(dade, tário, tino)


Todos reconhecem – pelo menos qualquer compêndio assim define – que a liberdade tem limites e, por isso, é necessário interpretá-la. 

O mais vulgarizado dos princípios é o que determina como termo da liberdade de cada um o exacto ponto em que começa a liberdade alheia. 

Muitos desses limites estão, mesmo, contemplados nas leis protectoras e reguladoras das liberdades. 

Alguns em leis fundamentais de diversos países.

Já o libertário, geralmente associado à ideia de anarquista e o libertino, filosoficamente tido como o ímpio, irreligioso, ou incrédulo – no sentido de não crente –, têm muito mais liberdade, pois as suas convicções, em sentido ideológico, não colidem com a liberdade dos outros.

A Sociedade organizada e civilizada tolera os ignorantes; todavia não os elege como heróis e, muito menos, não os proclama exemplos de sabedoria.

Quando um ébrio ignorante, em plena praça pública, desata a debitar vitupérios, contra tudo e contra todos, ou é desprezado por inimputável, ou detido por ofender a Ordem e Moral públicas. 

Porém, se um Prémio Nobel de Medicina, por exemplo, se lembrar de pôr em causa os teoremas de Pitágoras, ou de Euclides, os Princípios de Arquimedes, ou de Pascal, proclama-se como respeitável, porque a sua liberdade lhe permite dizer, ou escrever, o que muito bem entender. 

Arroga-se o direito de expressar, livremente, a sua ignorância, arrogância, loucura, e por aí fora, até onde lhe apetecer.

E como classificaremos, então, a prova de exame do aluno que tem toda a liberdade de debitar a mais pura ignorância, exprimindo-se como entender, pondo em causa, inclusive, tudo o que o seu desconhecimento não tem capacidade de analisar e criticar? 

Haverá algum estatuto que legitime o que é disparate, no consenso geral?

Mas voltemos ao Prémio Nobel, que nos habituámos a ver como um semi-deus, um poço de sabedoria, um sábio omnisciente e infalível. 

Depois lembremos a lição de Apeles que mostrou ao sapateiro/sábio que não devia subir além da chinela…

Meditemos no princípio de Peter, que, inexoravelmente, demonstra que todos tendemos para a incompetência e, para finalizar, tenhamos a certeza de que quando o centro de gravidade da Torre de Pisa, sair da vertical da base de sustentação, ela cairá.

Toda a vida tenho vindo a aprender; sou dos que não herdaram “back ground” como trampolim de partida e, a pulso, cheguei aos patamares de Peter. 

Mas os poços de sabedoria onde sempre gostei mais de beber foram, e são ainda, os da gente simples: sem lodo e com alguma profundidade. 

Gente que não precisa de invocar a sua liberdade para dizer o que pensa e usa o bom senso para não ofender, escandalizar e menosprezar os semelhantes. 

Gente que, se gosta e acredita, ama; todavia, se tem dúvidas ou é traída, despreza e abomina. 

Gente que não sabe ler diplomas, ou reconhecer prémios, mas detecta e sente o afecto, a dignidade, a honradez e, sobretudo…a autenticidade.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Língua Portuguesa

Lembro-me das aulas de Português, no Colégio D. PedroV, em Mação, em que o Sr. Prof. Lalanda nos dava muitos conselhos e regras e explicava que sem sabermos a nossa Língua, nada mais conseguiríamos aprender, correctamente.

Entre vários apontamentos que chegaram até aos nossos dias, numas “Sebentas” deixadas sob o peso do pó lá nas gavetas da minha casa, na Serra, descobri, há pouco, as 5 primeiras regras do “Português”, ditadas pelo Sr. Prof. Lalanda:

1.      Usar e abusar do Dicionário.

2.    Na leitura e interpretação, nunca passar por cima dum palavra cujo significado se desconhece. Se não tivermos um Dicionário à mão, tomar nota e fazer a consulta logo que se chegue a casa; neste caso escrever, 3 vezes, a palavra e o significado.

3.    Ler devagar e não passar por cima de frases que nos causem dúvidas; quanto mais leituras dos nossos bons escritores, mais conhecimento da Língua Portuguesa. Quem mais lê, melhor escreve.

4.      Na escrita usar palavras vulgares; nunca qualquer termo cujo significado nos causa dúvidas.

5.      Usar e abusar das regras da pontuação, da concordância e da clareza.


Notas: Tive vários Professores de “Português”ao longo de uma vida de aprendizagem e, eu próprio, ensinei muitos alunos. Todavia, não encontrei melhores Prontuários, nem melhores regras, que as do grande mestre no ensino da Língua Portuguesa, que tive o privilégio de ter naqueles seis anos, em Mação. 

O prof. Lalanda, tinha muito orgulho nas notas conseguidas pelos seus alunos, nos exames feitos no Liceu Nacional de Santarém e várias vezes comentámos um 19,7 que um aluno conseguiu na prova de "Português". O que teria levado o prof. que corrigiu a prova a retirar 0,3 valores à nota máxima?  

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Máquina de costura



Havia, lá em casa, uma velha máquina, que minha mãe recebera quando terminou o “corte e costura” que fez na “mestra”. 

No fundo negro do corpo da máquina, além de umas flores, sobressaía o nome “Singer”, em letras douradas. 

Na máquina foi confeccionada a roupa para toda a família e uma ou outra peça encomendada por alguma vizinha. 

Falamos, diga-se, dos anos quarenta do já pretérito século XX.

Anos mais tarde, ao aprender inglês, veio-me à ideia aquela palavra “singer”, que, pensava eu, quereria dizer cantor, uma vez que “to sing” significa cantar. 

Porém, ou porque não me quadrasse bem, ou porque sempre gostei de saber mais, sobre certas coisas simples, investiguei e, à guisa de curiosidade, aqui fica o resultado:

A industrialização, no séc. XVIII, trouxe a mecanização da fiação e da tecelagem, mas a milenar arte da costura continuou a fazer-se à mão, por batalhões de costureiras e alfaiates. 

Só no séc. XIX se aperfeiçoou a máquina de costura, como tantas outras com o objectivo de aliviar as tarefas domésticas e paralelamente desenvolver a indústria.

Em 1810, Balthazar Krems, operário alemão de uma fábrica de artigos de retrosaria, criou a agulha e construiu com ela uma máquina, movida por uma alavanca, que dava pontos em cadeia, fixando duas telas. 

Em 1830, o alfaiate francês Barthélemy Thimonnier construiu uma máquina parecida, com a qual obteve enorme êxito, a ponto de instalar uma fábrica em Paris, com 80 máquinas, para confeccionar uniformes para o exército. 

No ano seguinte as máquinas foram destruídas, por uma manifestação de alfaiates, que temiam pela sua subsistência.

Dois anos depois, em 1833, o norte-americano Walter Hunt – conhecido como o homem que inventou o imperdível –, criou uma máquina de pespontar, movida por uma manivela e que já trabalhava com dois fios, formando um ponto entrelaçado. 

O invento foi vendido ao nova-iorquino George Arrowsmith, em 1834, que nunca o comercializou, por falta de capital.

Sucederam-se os inventos e patentes, nos próximos vinte anos, até que, em 1854, Wilson inventou a barra dentada situada por baixo da tela para fazê-la avançar, regularmente, depois de cada ponto. 

Entretanto neste período, em 1851, o mecânico de Nova York, Isaac Merritt Singer patenteou uma máquina de sua invenção, para pespontar, accionada por um pedal. 

Uma roda dentada fazia avançar a tela, entre pontos e um calcador mantinha os tecidos no seu lugar. A agulha movia-se, verticalmente...

O sócio de Singer, advogado Edward Clark, iniciou um sistema de vendas a prazo, em 1856. 

Comprada a pronto, uma Singer custava 50 dólares; a prazo, com 5 dólares de entrega inicial e 3 dólares por mês, chegava a 100 dólares. 

Em 1858, Singer produziu o modelo portátil “Familiar”; as suas máquinas anteriores passaram a modelos industriais. 

Singer abriu fábricas na Europa, onde obteve êxitos idênticos e, quando morreu, em 1875, as suas empresas foram avaliadas em 13 milhões de dólares.