Todos reconhecem – pelo menos qualquer compêndio assim define – que a liberdade tem limites e, por isso, é necessário interpretá-la.
O mais vulgarizado dos princípios é o que determina como termo da liberdade de cada um o exacto ponto em que começa a liberdade alheia.
Muitos desses limites estão, mesmo, contemplados nas leis protectoras e reguladoras das liberdades.
Alguns em leis fundamentais de diversos países.
Já o libertário, geralmente associado à ideia de anarquista e o libertino, filosoficamente tido como o ímpio, irreligioso, ou incrédulo – no sentido de não crente –, têm muito mais liberdade, pois as suas convicções, em sentido ideológico, não colidem com a liberdade dos outros.
A Sociedade organizada e civilizada tolera os ignorantes; todavia não os elege como heróis e, muito menos, não os proclama exemplos de sabedoria.
Quando um ébrio ignorante, em plena praça pública, desata a debitar vitupérios, contra tudo e contra todos, ou é desprezado por inimputável, ou detido por ofender a Ordem e Moral públicas.
Porém, se um Prémio Nobel de Medicina, por exemplo, se lembrar de pôr em causa os teoremas de Pitágoras, ou de Euclides, os Princípios de Arquimedes, ou de Pascal, proclama-se como respeitável, porque a sua liberdade lhe permite dizer, ou escrever, o que muito bem entender.
Arroga-se o direito de expressar, livremente, a sua ignorância, arrogância, loucura, e por aí fora, até onde lhe apetecer.
E como classificaremos, então, a prova de exame do aluno que tem toda a liberdade de debitar a mais pura ignorância, exprimindo-se como entender, pondo em causa, inclusive, tudo o que o seu desconhecimento não tem capacidade de analisar e criticar?
Haverá algum estatuto que legitime o que é disparate, no consenso geral?
Mas voltemos ao Prémio Nobel, que nos habituámos a ver como um semi-deus, um poço de sabedoria, um sábio omnisciente e infalível.
Depois lembremos a lição de Apeles que mostrou ao sapateiro/sábio que não devia subir além da chinela…
Meditemos no princípio de Peter, que, inexoravelmente, demonstra que todos tendemos para a incompetência e, para finalizar, tenhamos a certeza de que quando o centro de gravidade da Torre de Pisa, sair da vertical da base de sustentação, ela cairá.
Toda a vida tenho vindo a aprender; sou dos que não herdaram “back ground” como trampolim de partida e, a pulso, cheguei aos patamares de Peter.
Mas os poços de sabedoria onde sempre gostei mais de beber foram, e são ainda, os da gente simples: sem lodo e com alguma profundidade.
Gente que não precisa de invocar a sua liberdade para dizer o que pensa e usa o bom senso para não ofender, escandalizar e menosprezar os semelhantes.
Gente que, se gosta e acredita, ama; todavia, se tem dúvidas ou é traída, despreza e abomina.
Gente que não sabe ler diplomas, ou reconhecer prémios, mas detecta e sente o afecto, a dignidade, a honradez e, sobretudo…a autenticidade.