sábado, 30 de agosto de 2014

Ler um livro


Ao contrário do que dizia o filósofo grego – Plínio, de seu nome –, os espíritos imortais fugiram das estantes das bibliotecas, sacudiram poeiras e algumas teias de aranha e pairam no virtual, chegando num simples clic ao visor de qualquer “note book”, mesmo de baixo custo.

A memória que tanto cuidado nos dava quando estudámos os compêndios escolares, tantas atenções merecia e tanto era enaltecida, terá perdido a importância? 

Creio que não, continua a ser base indispensável da estrutura do saber. 

Mas a massa cinzenta necessária ao ensino de há décadas, é libertada para outras actividades do intelecto.

Hoje temos muito saber acumulado, disponível sem intervenção da memória; embora provavelmente as sinapses das células nervosas trabalhem em maior complexidade e muito maior quantidade que nos tempos, acima referidos. 

A informação disponível no dia-a-dia, metendo-se pelos olhos dentro, agredindo a capacidade de qualquer criança, espevitando-a, pode equiparar-se à que manipulava qualquer licenciado de então.

Volta a surgir a importância da leitura, estimulante da compreensão rápida, factor de fácil expressão, de capacidade de selecção e de velocidade de reacção e elaboração de decisão. 

Meditemos nas palavras de José Luís Borges: “que outros se gabem dos livros que lhes foi dado escrever; eu gabo-me dos que me foi dado ler…”

Pousando nas brasas do “red-line” da vida moderna, arrefeçamos os nossos observadores e estimulemos o seu sentido crítico – qual advogados do diabo –, lembrando-lhes que para dispormos de todos esses terabytes /nanobytes, de informação, nesses galácticos armazéns de informação avulsa e nem sempre expurgada de joio, alguém trabalhou horas, meses, lustros e, daqui a dias, séculos, para compilar, sistematizar, digitar e digitalizar tudo isso.

A inteligência virará, um dia, digital, virtual, ou outra coisa qualquer, mas a sensibilidade, o riso e o choro, o sopro da vida de uma qualquer personagem, perdurarão e não é líquido poder-se hoje admitir que venham a entrar nos computadores, ou seus sucessores. 

A cultura será tudo isso, mas os livros continuarão a existir e regressarão às estantes, após o desassossego. Leia-os.

sábado, 23 de agosto de 2014

Os Números…

 

Sob o ponto de vista da Matemática, eis uma análise despretensiosa do conceito “os números”, que sempre tem ocupado o homem na sua necessidade de contar.

Depois dos números mais pequenos, que vêm de tempos pré-históricos, chega o passo seguinte, com o aparecimento da escrita – escrever números. 

No início os números eram representados por sinais iguais que se repetiam, uns a seguir aos outros, até ao número desejado. 

A dificuldade de ler números grandes trouxe a separação desses sinais em conjuntos de dez e, posteriormente, criou-se um símbolo para dez grupos de dez, ou seja o cem e, assim, sucessivamente. 

Este era o sistema babilónico, cujo conjunto cuneiforme era representado por desenhos de cobaias desenhadas sobre argila.

Os gregos, nomeadamente Pitágoras, inventaram os números irracionais. 

Os hindus, nos anos 500, inventaram o zero, chamando-lhe “sunya”que queria dizer vazio. 

A invenção foi um grande avanço, já que os espaços deixados vazios entre os números geravam muitas confusões. 

Os árabes, no séc. VIII, aproveitaram o símbolo zero e chamaram-lhe “céfer”, que significa vazio. 

Este termo deu origem à palavra portuguesa zero, e às castelhanas cero e cifra.

Leonardo Fibonacci (1170-1240), matemático italiano, foi o primeiro a escrever sobre os números árabes, no ocidente. 

Depois de percorrer todo o norte de África, onde aprendeu a numeração árabe, e a notação posicional – o zero -, escreveu um livro em 1202, “liber abaci” (o livro do ábaco) que serviu para introduzir os números árabes na Europa. 

Porém a numeração romana ainda prevaleceu no ocidente por mais três séculos.

O matemático italiano Gerónimo Cardano (1501-1575) demonstrou, em 1545, que as dívidas e casos similares se podiam tratar com os números negativos. 

Até então os matemáticos pensavam que todos os números tinham que ser maiores que zero.

Na Antiguidade contavam-se apenas vários milhares; quando queriam exprimir quantidades muito grandes diziam “centos de milhares” ou “mais que as estrelas”. 

A palavra milhão, derivada do latim, onde significava “grande milhar”, que equivale a mil milhares, vem da Idade Média, época em que o comércio se expandiu e obrigou a utilizar uma palavra especial. 

Os biliões e os triliões vieram mais tarde.

Em 1646, John Napie (Neper ou Neperius), inventou os logaritmos – número que indica a potência a que se tem de elevar um dado para que resulte um 3º também conhecido -.

O inglês John Wallis (1616-1703) deu sentido a nºs imaginários e nºs complexos.

Em 1744, o suíço, Leonhard Euler (1701-1783) descobriu os nºs transcendentais – que nunca constituirão uma solução para qualquer equação algébrica que possa escrever-se.

Em 1845, o matemático irlandês William Rowan Hamilton (1815-1865) começou a trabalhar com números hipercomplexos a que chamou quaternos, ou quaternários. 

E….Ficamos por aqui, embora com muito para acrescentar.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Valores, utopias e exemplos

 

Nasci na Beira Baixa, num meio rural, de baixos recursos materiais, longe de quase tudo, onde os horizontes não chegavam à maioria das mordomias – já as havia – que a sociedade vai proporcionando aos mais favorecidos, desde que o mundo é mundo.

Apreciei e ambicionei ser protagonista das vidas de heróis e santos. 

Por isso aprendi a gostar de História e de Literatura, que relatavam vidas de sucesso, de valores, não de utopias. 

Vi fechar negócios com apertos de mão e rejeitar vantagens por cumprimento da palavra dada. 

Vi árvores diversas crescerem de forma diferente em cada ano, mas também as havia da mesma espécie com progressos completamente diferentes.

Os negócios eram vias para atingir patamares apreciados e desejados - verdadeiros objectivos de vida -. 

As negociatas eram liminarmente rejeitadas, porque ultrapassavam a dignidade e pressupunham sempre uma vítima, versus um beneficiado, gerada indevida, ou injustamente.

Passei ao lado de muitas situações apetitosas, apenas separadas pelos custos de compromissos e alinhamentos duvidosos. 

Vi muitos valores materiais, ao alcance de um simples golpe de mão, serem ignorados porque se não coadunavam com os valores que caldearam a minha matriz genética e a conduta comportamental. 

E, sem ignorar, nem trair os princípios definidos como valores, atingi o topo das carreiras por onde passei. 

Rejeitei determinadas actividades, que admito, mas não perfilho: todas as que não assentavam no trabalho, indo directas aos benefícios e às contrapartidas; as que visavam os fins sem olhar aos meios.

Depois, quando parei e tive mais tempo para pensar, apercebi-me, melhor, das utopias que submergem tudo e todos. 

Hoje tudo está mais perto de todos – menos os valores -. 

Mostram-se, despudoradamente, mordomias a quem as não pode vir a usufruir, vende-se a quem se sabe que não vai poder pagar, promete-se o que se sabe não poder vir a dar-se, apregoa-se a igualdade e a fraternidade numa sociedade de desigualdades gritantes e onde o amor e respeito pelo próximo são mais estigmas, para quem os pratica, que exemplos a seguir.

Os telejornais, as grandes reportagens, as manchetes de jornais, as capas de revistas, centram-se nas utopias, convidam à contemplação do inacessível, relatam o sucesso fácil, publicitam as verbas astronómicas de actividades duvidosas, se não, declaradamente, perniciosas para o comum dos cidadãos.


É, por tudo isto que louvo a atitude de um dos beirões mais grados da actualidade, que depois de ser Presidente da República, recusou centenas de milhares de euros que os tribunais lhe atribuíram, como retroactivos, em acumulação com a sua reforma, depois de, já antes, ter recusado o bastão de marechal.

 Que o seu exemplo frutifique, Sr. General.

 Bem haja!...