A religião, sempre distante, era tida como algo de superior,
inatingível para o comum dos mortais; semelhante ao seguro de vida, que de
pouco, ou nada, nos serve, enquanto vivos, mas ninguém quer deixar de pagar e
aceitar, com receio do que lhe possa suceder quando morrer.
A superstição andava-lhe muito perto e misturavam-se, promiscuamente,
uma vez que mesmo que não se acreditasse, não se desmentia.
E para aqueles que evidenciavam
dúvida, logo se lhes aconselhava que… era melhor aceitar, pois…nunca se
sabe!...
A justiça, quanto mais longe melhor – segundo o povo – como aquelas
coisas que andam a poder de dinheiro e acabam por não satisfazer ninguém: nem
quem come, nem quem, sem comer, sofre as dores de barriga, pela fome que passa.
Sobra sempre para os mesmos.
A educação, uma das poucas saídas que só serviam para muito poucos:
os Seminários, para os protegidos, bem nascidos, ou bem gerados; os que moravam
ou tinham alguém nas cidades distantes e os filhos de gente abastada.
Restava, assim, nos meados do
século passado, ao comum das gentes do povo, o consolo dos pobres para que a
prole aumentasse e alimentasse o manancial de mão-de-obra.
De crença
bastava-lhes ser tementes e aceitarem… o trabalho, que saciava a fome, tirava o
frio ou o calor, em excesso, alimentava a prole e retemperava as forças.
Animais e plantas tomavam, no
contexto, uma deificação e redobrar de cuidados; dali vinha o quanto bastasse
para comer, beber e parecer.
A frugalidade era sustentada e aceite – não se
invejava, nem se ostentava.
Acima de todos, alinhados segundo as linhas do
destino, estava Deus, longínquo e inatingível, mas consolo e recompensa, quando
chegasse a hora.
Naqueles tempos em que as notícias
rareavam – havia poucos jornais e mesmo que abundassem não havia tempo nem
sabedoria para lê-los; não havia rádios a não ser para transmitir as cerimónias
de Fátima e pouco mais.
As notícias controladas e filtradas pela Censura, eram
difundidas como convinha.
Até que, a partir de 1957 as pessoas passaram a
juntar-se em frente das montras e das casas de aparelhos eléctricos.
SALVÉ
TELEVISÃO!...