sábado, 25 de outubro de 2014

Salvé Televisão


A religião, sempre distante, era tida como algo de superior, inatingível para o comum dos mortais; semelhante ao seguro de vida, que de pouco, ou nada, nos serve, enquanto vivos, mas ninguém quer deixar de pagar e aceitar, com receio do que lhe possa suceder quando morrer.

A superstição andava-lhe muito perto e misturavam-se, promiscuamente, uma vez que mesmo que não se acreditasse, não se desmentia. 

E para aqueles que evidenciavam dúvida, logo se lhes aconselhava que… era melhor aceitar, pois…nunca se sabe!...

A justiça, quanto mais longe melhor – segundo o povo – como aquelas coisas que andam a poder de dinheiro e acabam por não satisfazer ninguém: nem quem come, nem quem, sem comer, sofre as dores de barriga, pela fome que passa. Sobra sempre para os mesmos.

A educação, uma das poucas saídas que só serviam para muito poucos: os Seminários, para os protegidos, bem nascidos, ou bem gerados; os que moravam ou tinham alguém nas cidades distantes e os filhos de gente abastada.  

Restava, assim, nos meados do século passado, ao comum das gentes do povo, o consolo dos pobres para que a prole aumentasse e alimentasse o manancial de mão-de-obra. 

De crença bastava-lhes ser tementes e aceitarem… o trabalho, que saciava a fome, tirava o frio ou o calor, em excesso, alimentava a prole e retemperava as forças.

Animais e plantas tomavam, no contexto, uma deificação e redobrar de cuidados; dali vinha o quanto bastasse para comer, beber e parecer. 

A frugalidade era sustentada e aceite – não se invejava, nem se ostentava. 

Acima de todos, alinhados segundo as linhas do destino, estava Deus, longínquo e inatingível, mas consolo e recompensa, quando chegasse a hora.


Naqueles tempos em que as notícias rareavam – havia poucos jornais e mesmo que abundassem não havia tempo nem sabedoria para lê-los; não havia rádios a não ser para transmitir as cerimónias de Fátima e pouco mais. 

As notícias controladas e filtradas pela Censura, eram difundidas como convinha. 

Até que, a partir de 1957 as pessoas passaram a juntar-se em frente das montras e das casas de aparelhos eléctricos. 

SALVÉ TELEVISÃO!...

sábado, 18 de outubro de 2014

domingo, 12 de outubro de 2014

Carta para Garcia




Ao encontrar no meio dos meus livros mais velhos este exemplar de “Uma carta para Garcia”, lembrei as três ocasiões em que fui confrontado com a descrição do episódio, relatado por Elbert Hubbard (1856-1915), jornalista e escritor norte-americano, em 22 de Fevereiro de 1899, na revista Phillistene.

Em 1960, numa aula de Psicologia, foi lido e comentado o episódio e, confesso que nunca mais me esqueci da atitude de Rowan, que, ao receber uma missão, partiu para ela sem pestanejar e com o seu querer e determinação, fez chegar a carta a Garcia.

Mais tarde, na preparação de comando e desempenho operacional, durante o curso para oficial miliciano, foi-nos relatada a pequena história em que o coronel Rowan se saiu a contento, nada mais tendo sido acrescentado que a expressão do dever cumprido.

“Quando rebentou a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos da América –1898–, era necessário entrar rapidamente em comunicação com o chefe dos insurrectos cubanos. 

O general Garcia encontrava-se nas montanhas agrestes de Cuba – ninguém sabia onde. 

Nem o correio nem o telégrafo o poderiam alcançar. 

O Presidente dos Estados Unidos da América tinha de assegurar, com a maior urgência, a sua cooperação.”

Foi então que alguém disse ao Presidente William McKinley que conhecia um homem, um jovem coronel, chamado Rowan, capaz de entregar a carta ao general cubano. 

E, quatro dias depois, Rowan “desembarcou, a coberto da noite, num pequeno barco, na costa de Cuba e internou-se, imediatamente, no mato, com a carta guardada num saco de pele, impermeável, e guardado junto do coração. Ao cabo de três semanas saiu pelo outro lado da ilha, depois de atravessar, a pé, um país hostil e de entregar a carta a Garcia”.

A história e as peripécias da viagem serão interessantes e, quiçá, tema para romance de viagens e aventuras, mas Hubbard diz que não pretende relatá-la. 

“O que desejo sublinhar é isto: O Presidente McKinley deu uma carta a Rowan para a entregar a Garcia. Rowan pegou na carta e não perguntou: Onde é que ele se encontra?” 

Ora aí está um homem cuja figura devia ser esculpida em bronze”,diz Hubbard.

Rowan recebe uma missão e, sem fazer perguntas, executa-a, com total autonomia, revelando excelente capacidade de iniciativa e espírito empreendedor. 

Ser competente, ou seja agir com competência, como aconteceu com Rowan, é resultado de saber agir, querer agir e poder agir.

Hoje, os certificados de qualificação apenas provam que as pessoas “sabem agir”; não há garantia de que “possam agir”, ou “queiram agir”. 

Diz Alvin Toffler: Os analfabetos do séc.XXI são os que não sabem aprender, desaprender e reaprender; não mais os que não sabem ler, nem escrever.