Se saber significa, entre outras coisas, ter conhecimento, não deveríamos começar este ensaio parafraseando o prémio Nobel sul-americano, que afirmou:
Hoje temos mais conhecimento e menos saber.
Mas, porque estou de acordo com a afirmação e ela não se me afigura paradoxal, vou tentar interpretá-la, enquadrando-a no que o dia-a-dia por aí nos mostra.
Recuando no tempo – e uso esse privilégio por cinco ou seis décadas -, aprendi nos livros de Psicologia, também nos de Pedagogia e quiçá nos de Didáctica, que os conceitos de saber e conhecer não são uma e a mesma coisa e, no limite, podem até ser incompatíveis; se não, antagónicos.
Já na Filosofia o mestre mandou-me abordar o tema pela Retórica.
Começando pelos pensadores de antanho, vemos que, para Platão o conhecimento é a crença verdadeira e justificada.
Leonardo da Vinci dizia que todo o conhecimento se inicia com sentimento.
Anos mais tarde, Francis Bacon afirmou que o conhecimento é poder.
Actualmente insiste-se na especialização: conhecer cada vez mais, de cada vez menos.
Nestas teorias, o conhecimento, tal como o saber, implicam limitação; isso, porém, contraria a essência do conhecimento.
Essa é, a nosso ver, a característica pobre da especialização hodierna, que cria “super-células”, vogando no plasma, sem ligação e articulação: qualquer coisa como robots sem coordenação e comando lógico e racional.
Todos os dias nos deparamos com leis, decisões, análises, previsões e enunciados teóricos, sem a mínima ligação entre si, sem aplicação viável e na maior parte dos casos com resultados perniciosos e contrários ao fim em vista.
Orçamentos não consentâneos com a realidade do dia-a-dia, contratos que não resistiriam a uma primeira análise se tivessem sido minimamente aferidos antes de celebrados.
Tudo isso é fruto de gente cada vez mais conhecedora, com mais meios de diagnóstico e análise; mas que sabem cada vez menos.
Pelos anos setenta, quando o Marketing, se difundiu em Portugal e se começou a programar, a debater campanhas e a estabelecer objectivos, os empíricos resistiram enquanto puderam e acabaram por contratar, para as suas empresas, equipas de marketing, a utilizar estudos de mercado, a estudar tendências e oportunidades de negócios.
Um facto curioso, que recordo ao pensar no que por aí vejo: durante alguns anos nenhum director ou quadro intermédio das multinacionais era nomeado se tivesse mais de 40 anos; mais tarde, com menos dessa idade ninguém ascendia aos lugares de direcção.
Hoje parece que voltámos aos tempos antigos, esquecendo-nos que, embora parecendo mais simples, a gestão é muito mais complicada, quer se trate de sistemas privados, quer se entre no sector público, onde a complexidade implica alta capacidade de gestão e decisão.
E, como a História não volta para trás, a falta de capacidade, já visível a olho nu, é gritante no sector da Administração Pública e na condução da Política de que todos dependemos.
Porque não se cria no ensino uma preparação de quadros para a administração e governo?