terça-feira, 6 de novembro de 2012

História;Romance



Carlos Ruiz Zafón, escreveu o seguinte: “Há alturas e locais em que não ser ninguém é mais honroso do que ser alguém”, para caracterizar cenários actuais.

Não podendo esquivar-me ao choque que estas palavras me causaram, reflecti: Ao que nós chegámos! 

E olhando para a minha neta, como faço muitas vezes, em circunstâncias semelhantes, interroguei-me: daqui a uma ou duas dúzias de anos, como será isto tudo? Que valores servirão de matriz ao comportamento da colectividade humana? Que regime político vigorará?

E acabei pondo-me, como ponto de ordem, as palavas do meu avô, ditas há perto de sessenta anos: adeus mundo; cada vez melhor!... 

Embora, até agora, mais de meio século decorrido, haja uma parte, incomensuravelmente melhor, e outra ainda se não tenha revelado, não quero perder a esperança.

Todavia, quem havia de dizer, quando cresci, entre gente simples e honrada, respeitadora de diversos estatutos: o da idade, o da educação, o da honradez, o da luta pela vida, o do respeito pela velhice, pela deficiência de qualquer espécie, que não ser ninguém poderia vir a ser mais honroso que ser alguém!...

Quem havia de dizer que haveria cursos sem qualquer utilidade, diplomas sem exames sérios, honestos e universais, comprados por favores, por numerário ou por nome de família ou filiação em qualquer coisa, indefinida e obscura?

Quem havia de dizer, quando brincávamos com as anedotas do Q.I. que haveríamos de ver realidades tão absurdas como as que hoje, proliferam?

Continuo a ter muita honra em todos os que comigo colaboraram, durante quase cinquenta anos de trabalho; tenho orgulho em todos os que ajudei a subir nas carreiras profissionais, nos que subiram muito mais alto do que eu, nos que desenvolveram actividades muito mais conseguidas do que eu. 

É para eles que escrevo. São largas dezenas de amigos que ajudei a crescer e sem nunca mandar inscrever ninguém fosse no que fosse, para além das Faculdades para fazer exames reais e alcançar cursos úteis e acrescentadores de valor curricular.

Como seria bom se pudéssemos transformar e dar vida às personagens que manejamos no que escrevemos; voltar a ter, no comum dos mortais, os grandes génios que já cá não estão. 

Ou seja, dar ao Historiador e ao Homem Simples a possibilidade de que dispõe o Romancista. 

Teríamos menos inquietações!...

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