Carlos Ruiz Zafón, escreveu o seguinte: “Há
alturas e locais em que não ser ninguém é mais honroso do que ser alguém”,
para caracterizar cenários actuais.
Não podendo esquivar-me
ao choque que estas palavras me causaram, reflecti: Ao que nós chegámos!
E
olhando para a minha neta, como faço muitas vezes, em circunstâncias
semelhantes, interroguei-me: daqui a uma ou duas dúzias de anos, como será isto
tudo? Que valores servirão de matriz ao comportamento da colectividade humana?
Que regime político vigorará?
E acabei pondo-me, como ponto de ordem, as
palavas do meu avô, ditas há perto de sessenta anos: adeus mundo; cada vez melhor!...
Embora, até agora, mais de meio século decorrido, haja uma parte,
incomensuravelmente melhor, e outra ainda se não tenha revelado, não quero
perder a esperança.
Todavia, quem havia de dizer, quando cresci,
entre gente simples e honrada, respeitadora de diversos estatutos: o da idade,
o da educação, o da honradez, o da luta pela vida, o do respeito pela velhice,
pela deficiência de qualquer espécie, que não ser ninguém poderia vir a ser mais
honroso que ser alguém!...
Quem havia de dizer que haveria cursos sem qualquer
utilidade, diplomas sem exames sérios, honestos e universais, comprados por
favores, por numerário ou por nome de família ou filiação em qualquer coisa,
indefinida e obscura?
Quem havia de dizer, quando brincávamos com as
anedotas do Q.I. que haveríamos de ver realidades tão absurdas como as que
hoje, proliferam?
Continuo a ter muita honra em todos os que
comigo colaboraram, durante quase cinquenta anos de trabalho; tenho orgulho em
todos os que ajudei a subir nas carreiras profissionais, nos que subiram muito
mais alto do que eu, nos que desenvolveram actividades muito mais conseguidas do
que eu.
É para eles que escrevo. São largas dezenas de amigos que ajudei a
crescer e sem nunca mandar inscrever ninguém fosse no que fosse, para além das Faculdades
para fazer exames reais e alcançar cursos úteis e acrescentadores de valor
curricular.
Como seria bom se pudéssemos transformar e dar
vida às personagens que manejamos no que escrevemos; voltar a ter, no comum dos
mortais, os grandes génios que já cá não estão.
Ou seja, dar ao Historiador e
ao Homem Simples a possibilidade de que dispõe o Romancista.
Teríamos menos
inquietações!...
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