Os dicionários definem-na como “sentimento de quem é amigo”.
Dizem, ainda, que se trata de “afeição mútua, dedicação…”.
…Mas, as conversas entre amigos são contínuas!...
Não se cingem a simples trocas de palavras; já que ainda que fiquem apartados durante anos, os amigos retomam-nas, sempre no ponto em que ficaram, empenhando, todavia, a experiência entretanto adquirida e vivida.
Serão intemporais?...
Os grandes amigos não carecem de comunicação constante e ininterrupta...
Podem não dizer nada um ao outro, entre os encontros. Porém, quando se tornam a ver, a sensação é a de que se tinham visto no dia anterior.
Esse dia podia ter sido ontem, há um ano, ou quarenta anos atrás.
O tempo que medeia entre os encontros é trocado por um abraço, um aperto das mãos, ou mesmo um simples olhar.
As bibliotecas, cheias de livros, relatam histórias que podem ser utilizadas como ilustradoras de amizades indescritíveis.
Desde a mais remota antiguidade os grandes autores e pensadores deram lugar de destaque aos sentimentos de amizade, muitas vezes conotando-a com o amor.
Porém, sem fugirmos ao tema, vamos deixar isso à filosofia e aos filósofos e atentaremos, antes, no mais primário e simples sentimento da amizade.
Desde um instinto de sobrevivência da espécie, com necessidade e cumplicidade na protecção por, e de outros seres semelhantes ou não, distinguem-se diferentes e diversas origens e variados níveis, para o sentimento da amizade.
Entram aqui as motivações primárias e, perdoe-se-nos a redundância, a pureza de sentimentos, tão mais perto da pureza quanto a simplicidade dos seus sujeitos.
Disse Aristóteles que a amizade é uma alma com dois corpos.
Difícil não é o significado da definição: dois corpos, ainda que um cão e um gato, vêem-se facilmente; já a alma, que, supostamente, lhes está subjacente, não é tão evidente.
Dizer-se que a ONU decretou o dia 20 de JUL como Dia Mundial da Amizade, que o cão é o melhor amigo do homem, que os três mosqueteiros são o símbolo da amizade, ou despedir-nos “com amizade” no final de uma carta, são conceitos tão distantes e díspares, que em nada nos poderão elucidar sobre a amizade.
Já a compreensão de uma palavra, ou acto, menos reflectidos, a mão nas costas num momento difícil, ou a ajuda anónima, podem estar muito acima daqueles conceitos universais.
Um pai, uma mãe, que vêem partir um filho para a guerra, quando o olham e apertam pela última vez, sem dizerem uma palavra, manifestam a maior prova de amizade; será ela que ficará a sublimar o amor de pais.
É que o amor e a paixão são mais exigentes, mais arrebatadores, mais visíveis; não mais verdadeiros, seguramente.
Foi por algumas destas razões que intitulei…laços…o sentimento com que tentei definir a ligação de um grupo de camaradas que, há 40 anos, combateram na Guiné e, sempre que se reencontram vão continuando a conversa...como se nunca se separassem…