quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O“anónimo”

Quanto mais consultas faço, mais se afasta a hipótese de qualquer justificação para defender e, muito menos aceitar, a figura – já que outra coisa não me parece – de “anónimo” (para mim, escuro, sombrio, maldoso...). 

Nas Sociedades ancestrais, por razões compreensíveis, foi muito usada a figura “anónimo”. 

Porém, com a evolução do Pensamento e o progresso dos direitos literários e de autor, o anonimato, se não for pedido por razões aristocráticas, pela sátira anónima que se quer pôr a salvo, ou por diversas resistências literárias, é cada vez mais raro e injustificado. 

Desde o séc.XVII e, acentuadamente no séc.XVIII, houve muita curiosidade de descobrir os autores de obras anónimas. 

Foi, porém, no séc.XIX que se publicaram variadíssimas colectâneas, de muito útil e vasta consulta. 

Entre as portuguesas, salientamos a de Martinho A. Fonseca – Subsídios para um Dicionário de Pseudónimos, Iniciais e Obras Anónimas, de Escritores Portugueses – Lx. 1896. 

Também o Hagiológio – Relação anónima, de Jorge Cardoso, impressa em Lisboa, foi um sucesso. 

Anónimo, do grego anónimos – usados caracteres latinos para representar os sons da palavra grega -, significa: “sem nome”, “que não recebeu nome”, “que não se deve nomear”, “que não se dá a conhecer”, “desconhecido” (segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, do Dr. José Pedro Machado – Editorial Confluência, 1ª edição publicada em fascículos – iniciada em NOV1952). 

Já o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia das Ciências de Lisboa – Edição Verbo, em 2001, dá a seguinte entrada: “sem nome”, “que oculta a sua identidade”, “de quem não se sabe o nome”, “que não é notável”, etc. 

Filosoficamente, chegaremos facilmente a um não ser, não concreto, não visível e, portanto a uma coisa inexistente, concretamente. 

Por oposição o ser , que tem um nome, existe, dá-se a conhecer, exibe o seu nome, para o bem e para o mal quer ser reconhecido, identificado. Não esconde a identidade, embora possa fazer reserva do seu nome. 

O nome é um direito natural, que ninguém aceitaria substituído, por exemplo, por um número. Não compreendemos, pois, que alguém aceite ser referido como anónimo. 

Pensamos mesmo que o conceito de anónimo não merece sequer consideração, pois quem não quer, ou não pode, ser nomeado, deverá fazê-lo usando a expressão incógnito

Essa sim com o significado de identificado, mas com reserva de publicação do nome, por razões pessoais, legais e de defesa de interesses vitais. 

Também o uso de pseudónimo é aceitável, pois subentende uma reserva de nome, longe e contrária, portanto do anónimo e sem o sentido pejorativo atribuído a este. 

Todavia, podemos aceitar, por razões de força e ênfase: “manifestações e contribuições anónimas”.


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