Nasci na Beira Baixa, num meio rural, de baixos recursos materiais, longe de quase tudo, onde os horizontes não chegavam à maioria das mordomias – já as havia – que a sociedade vai proporcionando aos mais favorecidos, desde que o mundo é mundo.
Apreciei e ambicionei ser protagonista das vidas de heróis e santos.
Por isso aprendi a gostar de História e de Literatura, que relatavam vidas de sucesso, de valores, não de utopias.
Vi fechar negócios com apertos de mão e rejeitar vantagens por cumprimento da palavra dada.
Vi árvores diversas crescerem de forma diferente em cada ano, mas também as havia da mesma espécie com progressos completamente diferentes.
Os negócios eram vias para atingir patamares apreciados e desejados - verdadeiros objectivos de vida -.
As negociatas eram liminarmente rejeitadas, porque ultrapassavam a dignidade e pressupunham sempre uma vítima, versus um beneficiado, gerada indevida, ou injustamente.
Passei ao lado de muitas situações apetitosas, apenas separadas pelos custos de compromissos e alinhamentos duvidosos.
Vi muitos valores materiais, ao alcance de um simples golpe de mão, serem ignorados porque se não coadunavam com os valores que caldearam a minha matriz genética e a conduta comportamental.
E, sem ignorar, nem trair os princípios definidos como valores, atingi o topo das carreiras por onde passei.
Rejeitei determinadas actividades, que admito, mas não perfilho: todas as que não assentavam no trabalho, indo directas aos benefícios e às contrapartidas; as que visavam os fins sem olhar aos meios.
Depois, quando parei e tive mais tempo para pensar, apercebi-me, melhor, das utopias que submergem tudo e todos.
Hoje tudo está mais perto de todos – menos os valores -.
Mostram-se, despudoradamente, mordomias a quem as não pode vir a usufruir, vende-se a quem se sabe que não vai poder pagar, promete-se o que se sabe não poder vir a dar-se, apregoa-se a igualdade e a fraternidade numa sociedade de desigualdades gritantes e onde o amor e respeito pelo próximo são mais estigmas, para quem os pratica, que exemplos a seguir.
Os telejornais, as grandes reportagens, as manchetes de jornais, as capas de revistas, centram-se nas utopias, convidam à contemplação do inacessível, relatam o sucesso fácil, publicitam as verbas astronómicas de actividades duvidosas, se não, declaradamente, perniciosas para o comum dos cidadãos.
É, por tudo isto que louvo a atitude de um dos beirões mais grados da actualidade, que depois de ser Presidente da República, recusou centenas de milhares de euros que os tribunais lhe atribuíram, como retroactivos, em acumulação com a sua reforma, depois de, já antes, ter recusado o bastão de marechal.
Que o seu exemplo frutifique, Sr. General.
Bem haja!...
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