quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Mundo novo, a sério!



Não aceito as opiniões dos analistas do “nosso jornal” que, dão a entender que, não sabem quando, o concelho estará deserto.

Não percebo os desígnios que condicionam tais raciocínios, mas não acredito que sejam o bairrismo, o altruísmo, ou a motivação de novos moradores.

O que move cada um, o que pensa, ou mandam pensar, não nos interessa. 

Porém, o que se escreve, é diferente e merece meia dúzia de palavras, com outras tantas reflexões, que, por desconhecimento, ou outras finalidades, os analistas não referem.

Vejamos, por exemplo, uma recente análise em que era apresentado um quadro com os 10 “concelhos com maior quebra percentual de população (2001-2007)”.

O nosso concelho ocupa, nesse quadro, o 6º lugar e é administrado pelo PSD, estando em igualdade com outras autarquias com administrações do PS.

Em todos os concelhos há residentes que não têm no local de residência a morada oficial. Seria interessante juntar esses dados.

Das 4 colunas do artigo, coluna e meia é ocupada com números, comparações absolutas e relativas, de concelhos limítrofes, da totalidade do país.

Depois, uma coluna e meia, com “O que falhou…”, “O que falhou…” em dois extensos parágrafos e “Primeiro porque na década de 90…”, “Depois porque, nos últimos anos..”

Finalmente a “importância da floresta para o concelho…”.

Todavia, embora concordando critica-se e…acaba-se a análise. 

Dirão muitos, mas faltam as sugestões, as ideias, os assuntos inovadores, os bons exemplos, as medidas apresentadas e não aproveitadas pelo poder, os programas de investimento, as reivindicações a apresentar ao poder central, etc..

É também o que pensamos que falta, mas… 

Será isso o que interessa a quem vive no regime do bota abaixo, para subir, com os seus? 

Esta é, quanto a mim, uma das maiores dúvidas do povo. Entenderá o povo o que querem, realmente, os políticos?

Estamos sempre ávidos de poder ler os relatos do que se vai fazendo, do progresso e desenvolvimento das nossas terras, mas começamos a ficar enjoados de tanta roupa suja lavada nas páginas de um jornal que apreciaríamos mais, se fosse mais simples…

Democraticamente, reconhecemos o direito à expressão livre, de todos, mesmo dos que nada mais têm para dizer que mais do mesmo.

Não acreditamos que seja assim, que lá cheguem, os que lá não estão e talvez seja pena que o povo continue a não dispor de todos os dados, quando é chamado a votar.

Têm receio do que dizia um dos expoentes máximos do nosso povo (António Aleixo)?

               Vós que lá do vosso Império
               Proclamais um mundo novo
               Calai-vos, que pode o povo
               Querer um mundo novo, a sério!...

sábado, 6 de setembro de 2014

Verdade, ficção, personagens, histórias e vida…


 A verdade é o que foi, as pessoas e os factos tal e qual como foram, como ficaram na nossa memória, como os nossos olhos a viram e os nossos neurónios a guardaram no recanto apropriado do cérebro.

A ficção constrói-se, dá-se-lhe vida e move-se com o que fica gravado do passado. 

Alguns, mais afortunados, procuram-na no futuro – uma espécie de projecção lida no espelho da imaginação em que, invariavelmente, entre muitos figurantes, estamos sempre nós próprios, como ponto de referência -.

A ficção é o motor da nossa imaginação, a força impulsionadora da nossa inércia, a tinta das nossas imagens do futuro, projectadas do passado. 

É lá que encontramos as pessoas de quem escrevemos – não fossem elas parte da nossa vida -. 

Mais chegadas ou, simplesmente, meras conhecidas, foram elas que criaram os nossos protótipos, que alimentam os nossos projectos, que dão alma e estrutura às personagens dos nossos contos, vulgarmente chamados de histórias. 

Quase sempre gente de família, ou conhecidos, pois a árvore genealógica, mais ou menos rebuscada, é uma só.

Contar a vida dos outros implica correr muitos riscos; temos, forçosamente, que nos respaldar na nossa – verídica ou fictícia, real ou imaginária, que tivémos ou que gostaríamos de ter tido -. 

Mas o passado não é vida, serve-lhe de substracto e sustenta-a. 

Mas, vida, como muito bem disse o poeta, é “ai que mal soa”. 

E, sendo assim, será o espaço entre o passado e o futuro, naturalmente fugaz, mais ido que tido.

É por isso que a ficção é uma arte tão difícil de praticar, contrariamente ao que pensam muitos, menos avisados ou pouco apetrechados. 

Embora comparável a um quadro, lido sobre o futuro, assenta em bases voláteis e suposições, por natureza pessoais e de difíceis contornos. 

Já o quadro, respeitando, ou não, as normas e preceitos da beleza, as características dos materiais utilizados, as formas mais heterodoxas, ou totalmente abstractas, qualquer um pode pintar. 

E não vem mal ao mundo se no final resultar um borrão de cores sobre a tela que a poucos dirá qualquer coisa.

E, então, o que somos nós?

A essência fugaz e naturalmente efémera de cada momento, o substracto do que fomos, emergente dos cenários que ajudámos a constituir e em cuja existência participámos, ou a ficção do futuro que construímos passo a passo, no universo em que nos movemos?

Os contos que escrevemos são o retrato do momento e, por isso, quando relidos, algum tempo depois de escritos, parecem-nos desajustados, desafiam-nos a alterá-los, criam-nos dúvidas. 

É que, quando por eles perpassou a vida, algo mudou desde que haviam sido escritos. 

E se há coisa que a escrita não consegue retratar é a realidade da ficção, ou a ficção da realidade. 

Nós, os escritores de histórias, apenas queremos que elas sejam lidas e relidas e, sobretudo, revividas!...