terça-feira, 24 de julho de 2012

PAU PARA TODA A OBRA


Durante muitos anos assinei e li as Selecções do Reader’s Digest. 

De vez em quando, folheio alguns números e, há tempos, deparei-me com uma prosa deliciosa, em que o regedor da Sertã, em 1910, há mais de cem anos, portanto, publicitava a sua actividade. 

Segue a publicação, mantendo a grafia da época, sem mais comentários e com o título que cremos seja da autoria das Selecções: 

Manuel Ferreira, surgião, rigedor, comerciante e agente de enterros. 
Respeitosamente informa as senhoras e cavalheiros que tira dentes sem esperar um minuto, apelica cataplasmas e salapismos a baixo preço, e vixas a 20 réis cada, garantidas. Vende plumas, cordas, corta calos, janetes, aços partidos, tosquia burros uma vez por mez, e trata das unhas ao ano. Amolla facas e tizoiras, apitos a 10 réis, castiçais, fregideiras e outros instrumentos musicais a preços reduzidos. Ensina gramática e discursos de maneiras finas, acim como cathecysmo e oretographia, canto e danças, jogos de suciedade e bordados. Perfumes de todas as qualidades. Como os tempos vão maus, pesso licença para dizer que comecei também a vender galinhas, lans, porcos e outra criassão. Camisolas, lenços, ratueiras, enchadas, pás, pregos, tejolos, carnes, chourissos e outras ferramentas de jardim e lavoira, cigarros, pitrol, augardente e outros meriais inflamáveis. Hortaliças, frutas, músicas, lavatórios, pedras de amolar, sementes e loiças e manteiga de vaca de porco. 

Tenho um grande çurtimento de tapetes, cerveja, velas e phosphoros, e outras conservas como tintas, sabão, vinagre, compro e vendo trapos e ferros velhos, chumbo e latão. Ovos frescos meus, paçaros de canto como moxos, jumentos, piruns, grilos e deposito de vinhos da minha lavra. Tualhas, cobertores e todas as qualidades de roupas. Ensino jiografia, aritmética, jimnástica e outras chinezisses.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Licença de isqueiro



Aqui, sobre estas palavras, está a imagem de uma das coisas caricatas antes do 25 de Abril: a licença para usar acendedores e isqueiros. 

Lembro-me de tirar um, ou dois anos, a referida licença, pois ali pelos cafés Martinho, Paladium, Restauração, Gelo, Patinhas, e outros onde se jogava bilhar, tertuliava e estudava, era permitido fumar e, pululavam os fiscais que, escondidos atrás de um jornal, espreitavam quem acendesse o cigarro com um isqueiro para pedirem a licença de isqueiro, ou o pagamento de uma multa que era de 2$50 – vinte e cinco tostões, na linguagem daqueles anos sessenta -. 

E não havia estudante que não gozasse com fiscais e polícias, quer acendendo fósforos com uma só mão, imitando isqueiro, quer resguardando-se para acender o cigarro, como que protegendo a chama de um isqueiro e ostensivamente desafiando a atenção de suspeitos fiscais e outros que já eram conhecíamos de outras andanças. 

Depois o expediente de junto da multa fazer uma doação de 10 ou 20 centavos, para o Socorro Social . É que a operação burocrática de aceitação de doação consistia no preenchimento de vários papéis e recibos que o doador exigia da autoridade autuante. 

Vistos agora, à distância de umas décadas, aqueles fiscais e informadores, facilmente detectados e olhados com um misto de raiva, desprezo e revolta, não tanto pelo mal que causavam, mas pela imagem de agiotagem, servilismo e pobreza moral e intelectual que retratavam. 

Funcionários que a troco de uns parcos escudos, sacrificavam o descanso e fora das horas de trabalho, espreitavam estas e outras pequenas hipóteses de ganhar uns tostões, ou de agradar a um chefe que lhes dava algumas benesses na função, ou no trabalho. 

Um dia estávamos no átrio do velho cine-teatro Odéon, no intervalo do cinema, fumando uma cigarrada. 

O Américo, meu colega de pensão na Rua dos Douradores, puxou do isqueiro, acendeu o cigarro e, pouco depois, um desses fiscais, mostrou-lhe uma espécie de crachá e pediu-lhe a licença do isqueiro. 

Como já tínhamos referido o sujeito e eu disse que se tratava do pai de um aluno da Escola onde eu era professor, o meu amigo voltou-se para mim e disse-me: 

Oh! Senhor Professor, veja-me aqui, se faz favor, quem é este sujeito que me está a mostrar uma identificação qualquer e a pedir a licença de isqueiro. É que, como o meu amigo sabe, eu não sei ler o que este sujeito me está a mostrar e também não tenho isqueiro. 

Quando o homem encarou comigo, fez-se de mil cores, baixou os olhos e dirigindo-se a mim, pediu imensa desculpa, mas aquilo era a maneira dele ganhar a vida e que não levássemos a mal. 

E, com o rabo entre as pernas, desapareceu, certamente para outras paragens, interpelando outros pagantes, para ganhar alguns cobres. 

Infelizmente os filhos, que frequentavam a escola, passavam fome. 

Soube, mais tarde, que o homenzito levava os apanhados a um polícia reformado que dividia com ele a percentagem do autuante nas multas que aplicava. 

Recebia quatro tostões por cada captação que fazia para o polícia. 

Sem comentários!…

domingo, 1 de julho de 2012

Planeta TERRA - idade



A aplicação da radioactividade na medição da antiguidade permitiu à Paleontologia e Estratigrafia calcular a idade da Terra e definir as várias etapas (Éones, Eras e Períodos), ao longo dos 4.600 milhões de anos do nosso planeta.

Os aparecimentos do ser humano (um dos últimos a surgir na Terra) e das outras formas de vida, ocorreram no Éon Fanerozoico ( do grego: faneros - visível + zoikos – vida), que na escala do tempo geológico abrange os últimos 543 milhões de anos. 

Note-se que estes números, incómodos para a nossa compreensão, representam apenas um pequeno período na vida da Terra que tem a bagatela de 4.600 milhões de anos.

Esse tempo é dividido, pelos cientistas, em três grandes períodos ou éones: Éon Arcaico (até aos 2.500 milhões de anos), Éon Proterozoico (dos 2.500 aos 570 milhões de anos) e Éon Fanerozoico ( desde os 570 milhões de anos até à actualidade). 

Dentro deste último éon distinguem-se várias eras (Paleozoico, Mesozoico e Cenozoico). As eras dividem-se em períodos e estes em unidades menores.

Apresentados estes termos científicos, passaremos aos acontecimentos que ocorreram em cada uma das eras do Éon Fanerozoico, atendendo a que nele surgiu a vida humana:

No Paleozoico apareceram os invertebrados marinhos com conchas, os peixes e anfíbios, as plantas terrestres – sobretudo fetos – e os primeiros répteis.

No Mesozoico, durante o qual se renovou a fauna e a flora, surgiram as gimnospérmicas, ocupando o lugar dos fetos, vários animais terrestres e outras faunas modernas, plantas complexas, evolução dos peixes. Apareceram, também nesta era, os mamíferos e as aves.

No Cenozoico – que abarca o período de há 65 milhões de anos até à actualidade – os continentes derivaram, tendo, eventualmente, colidido, dividindo-se, em seguida, nas massas continentais actuais. O clima evoluiu, caracterizando-se pela alternância de épocas glaciares e interglaciares. Evoluíram e expandiram-se os mamíferos e as aves, apareceram os hominídeos e, depois, o homo sapiens. Quer dizer: nós.

Resumidos nas vinte e cinco linhas antecedentes os 4.600 milhões de anos da evolução da Terra, referiremos agora como se fazem estes cálculos e estas medidas astronómicas.

Como é óbvio, as investigações mais complexas são as referentes aos períodos mais longínquos: anteriores àqueles em que se originou a vida no nosso planeta. 

Até ao princípio do séc.XX, os Físicos basearam-se na velocidade de sedimentação dos estratos rochosos – Método Estratigráfico -. 

Porém, tinham dificuldade em trabalhar as rochas do período Pré-câmbrico cujos fósseis são muito raros e se apresentam em formas muito primitivas.

A descoberta das desintegrações radioactivas – fenómeno que evolui sempre da mesma maneira, nos restos orgânicos -, trouxe a solução. 

É o Método Carbono 14, inventado a partir das descobertas de Einstein e de que nos ocuparemos noutra Folha Solta.