Personagem marcante da “Canção de Coimbra”, nasceu na cidade do Mondego, em 05JAN1933, e veio a falecer em Mafra, em 18MAR2012.
Estudante, em Coimbra, e médico estomatologista em Lisboa, nunca deixou de cultivar a música.
Assinou, como autor, 18 baladas e 25 fados e como intérprete, ao longo de seis décadas, produziu um vastíssimo reportório, elevando, como ninguém, a Canção de Coimbra.
Nunca foi profissional, mas mereceu as mais altas distinções, quer nacionais, quer internacionais.
Foi um dos artistas portugueses mais internacionalizado (Congresso da Cultura da Língua Portuguesa, na Universidade de Georgetown, nos E.U.A.; Homenagem a Beethoven, na Áustria; programas televisivos no Brasil, França, Espanha, Suécia, África do Sul, Estados Unidos e Áustria.
Viveu os tempos de estudante, num ambiente familiar onde a mãe tocava piano e o tio, Armando Goes, cultor do fado de Coimbra na década de 20, o incentivaram para o canto e, aos 14 anos já cantava em público.
No Liceu D. João III, foi colega e amigo de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira e foi padrinho musical de ambos: todavia, a sua maior referência foi Edmundo Bettencourt.
Licenciou-se em medicina em 1958 e cruzou-se com muitas figuras marcantes da vida do tempo: Miguel Torga, Manuel Alegre, Bernardo Santareno, Teolinda Gersão, Yvette Centeno, entre outros.
Formou o Coimbra Quintet com António Portugal, Manuel Pepe, Levy Baptista e Jorge Godinho.
Foi mobilizado, para a Guiné, de 63 a 65, como Alf. Miliciano Médico. Depois regressou a Lisboa, onde exerceu a profissão de médico estomatologista, até 2003, ano em que se reformou.
Mas, diz quem o conhecia bem, aqueles tempos de Guiné, fizeram-lhe muito mal; embora sempre tenha sido um homem equilibrado e com um rumo perfeitamente definido e identificado, ficou muito quebrado: a guerra, os amores e os ideais, não perdoaram e foram sempre minando aquele homem íntegro e amigo do seu amigo.
Autor e intérprete de muitas canções de intervenção e oposição ao regime, nunca caiu para o outro lado – andou sempre no fio da navalha.
Foi defensor não de um Fado, não de uma Balada, mas de uma Canção de Coimbra. São verdadeiros marcos indeléveis, a Toada Beirã; o Fado da Despedida; a Balada da Distância; a Romagem à Lapa; a Canção do Regresso; É preciso acreditar; Homem só, meu irmão; Entre muitas outras.
O album Serenata de Coimbra, gravado nos anos 50, com Carlos Paredes, João Bagão e António Portugal é, segundo Manuel Alegre Portugal, o disco português mais vendido.
Escolho estas suas quadras, auto-retrato de um homem, regressado a Lisboa, vindo da guerra:
Volto de mãos vazias
Sem ter nada do que quis.
P´ra morrer bastam dois palmos
De terra do meu país.
E também:
Pobre de quem regressa
Ao jardim e acha um deserto.
Já perdeu o que está longe
Já não tem o que está perto.