Uma viagem, em FEV66, num navio patrulha, entre Bissau e o Xime, levou-me ao conhecimento da voz do grande senhor do Fado de Coimbra – Luiz Goes.
Regressado de licença de férias na Metrópole, ao chegar a Bissau, fui informado que a minha C.Caç. tinha sido transferida de Binta – junto do rio Cacheu, Zona de Farim -, para o Xime - junto do rio Geba, na zona de Bambadinca - e que a melhor ligação seria o Patrulha da Marinha que se encontrava no cais de Bissau.
Fui às falas com o Comandante Malheiro, que durante 1965 recebera várias vezes em Binta, e tive as primeiras notícias, por sinal nada animadoras, sobre o novo sector para onde ia.
O meu comandante de Companhia já deixara recado, em Bissau, que no meu regresso de férias me encaminhassem para o novo destino, via Marinha.
Durante a viagem, fiquei maravilhado com o gravador Sony que rodava as bobines de fita magnética, durante três horas, fazendo ouvir uma bela série de Fados e Baladas de Coimbra.
Olhe, este cantor – Luiz Goes -, esteve até há pouco tempo cá na Guiné, como Alf. Mil. Médico e aí sentado, onde está o senhor Alferes, ouviu-se a si próprio.
O gravador, um Sony TC500, estava a tocar e, ao lado, outro mais pequeno – Sony TC200, servia de apoio, para fazer cópias, etc.
Fora encomendado por um outro Alferes que antes de recebê-lo foi evacuado.
Chegámos a acordo e, por dois contos de réis, o gravador ficou comigo, no Xime.
Logo ali ficou combinado que na próxima viagem a S. Vicente – Cabo Verde - me trariam um Sony TC500A – a nova bomba, recentemente saída.
Também me foram oferecidas 3 fitas de 180 minutos, duas com Fados e Baladas de Coimbra e uma com Fados de Lisboa e música ligeira.
No Xime, a nova coqueluche, trabalhava à noite – quando ligávamos o gerador para iluminação eléctrica do acampamento.
Às vezes, para manutenção dos frigoríficos, também ligávamos durante uma parte do dia.
A vinda do TC500A veio dar outras possibilidades – uma vez que o anterior foi passado ao Alf. Estrela pelos mesmos 2 contos e eu dei os restantes três, para pagar o novo.
Com a colaboração do Alf. Guerra, que viera de Medicina, lá de Coimbra, ouviu-se e gravou-se tudo o que foi possível – Fados e Baladas de Coimbra, sobretudo de Luiz Goes, Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.
Trouxe, do Xime, quase 30 fitas gravadas.
A recente partida de Luiz Goes – 18SET12 – motivou esta Folha solta – como uma singela homenagem.
Nascido em Coimbra, estudou com os grandes cantores de intervenção – Zeca Afonso e A. Correia de Oliveira – no Liceu D. João III e depois na Universidade.
Com uma voz magnífica e um sentido musical invulgar, representa para a música de Coimbra o que Amália Rodrigues representa para a música Portuguesa.
Merece uma Folha solta especial, pois além dos 25 Fados e 18 Baladas de sua autoria, tem um vasto reportório.
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