segunda-feira, 4 de março de 2013

Parábola do púcaro de água


                                                       Augusto Gil

A parte mais glosada da Parábola do púcaro de água”, com dedicatória do seu autor, Augusto Gil a Manuel Penteado, trata dos rios, com a reprodução que se segue:
     
Depois de tratar a água e a sede, o grande poeta da Guarda, escreve:

“Nem só da água
 Que vem da terra
 Tem sede o homem…”

E, genialmente, continua:

Nasce uma fonte
Rumorejante
Na encosta dum monte;
E, mal que do seio
Da terra brotou,
Logo o seu veio
Transparente
E diligente
Buscou e achou
Mais baixo lugar..

E sempre descendo,
E sempre a cantar,
Vai andando,
Galgando,
(Ou tenta vencer…)

Numa confiante e persistente lida
Folha, raiz, areia, o que tolher
A sua descida…

Ao brotar da dura frágua,
- É uma lágrima…


Nota: OBRA POÉTICA I, de Augusto Gil, Clássicos da Língua Portuguesa (C. de Leitores).
Mas esse humilde fiozinho,
Que um destino bom impele,
Encontra pelo caminho
Um outro que é como ele…

Reúnem-se, fundem-se os dois,
Prosseguem na companhia,
E fica dupla, depois,
A força que os leva e guia…

Junta-se aos dois um terceiro,
Outros confluindo vão,
E o regato é já ribeiro,
E o ribeiro é rio então…

E nada agora o domina
Ao fiozinho da fonte;
Entre colina e colina,
Ou entre um monte e outro monte,

Caminha sem descansar,
Circula através do mundo
- Até à beira do mar
Omnipotente e profundo…
                                       Augusto Gil

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