sábado, 23 de março de 2013

Vinho “da Chave Dourada”


Vinho "da Chave Dourada"
Almanaque Bertrand 1910

Recebi, de uma amável leitora das “histórias de gente simples” um esclarecimento acerca da designação “chave dourada”, que transcrevo, com o devido respeito:



Vinho da Chave Dourada - Almanaque Bertrand 1910
“Amigo José, quero dar-lhe os parabéns por este seu blog, que é uma relíquia de memoria e que muito me apraz ler, pois como descendente da Queixoperra é uma maravilha ouvir e neste caso ler as histórias desta terra e até mesmo de alguns antepassados meus. Durante uma leitura encontrei um texto intitulado “Lagar Cooperativo”, ao começar a leitura de mais esta publicação sua deparei-me com um grande erro, ao qual não podia ficar indiferente e teria de fazer alguma coisa para repor a verdade.  Espero que não me leve a mal, a minha intenção é única e exclusivamente esclarecer o que é a conhecida de todos os maçaences Chave Dourada. No excerto “O azeite “chave dourada”, da região de Mação, era afamado, desde que, em tempos passados, segundo cronistas locais, chegou à mesa do Rei.” Reparei que o amigo não sabe o que é a Chave Dourada. Chave Dourada é um vinho em vias de extinção desde as invasões francesas, de textura licorosa é produzido com base numa matriz, em termos de comparação podemos dizer que este é o Vinho do Porto da Beira Baixa. Atualmente há uma tentativa de recuperação deste vinho por parte da autarquia.”

Passo, de seguida, a transcrever a minha resposta e, agradeço, desde já, toda e qualquer ajuda que possam dar-me, no sentido de completar a minha informação, para que, quando possível, possa tratar este tema nos meus escritos sobre a “nossa terra”.

 “Resposta ao comentário" 
Cara amiga …………:

Os meus agradecimentos pelas suas amáveis palavras quanto ao meu blog - 
historiasdegentesimples.blogspot.com.
Quanto à sua observação sobre a frase em que, por extensão, chamei, entre aspas, "chave dourada", ao azeite puro e genuíno das nossas terras, tenho de concordar que, do seu ponto de vista, tal designação possa ser considerada incorrecta. 

Mas, não tão reveladora de ignorância como sublinha, no que se refere ao vinho "da Chave Dourada". Se não, vejamos:



Quando os Árcades celebrizaram o vinho "da Chave dourada", num sarau no palácio de Oeiras, em honra da proprietária, condessa e esposa do Marquês de Pombal, nos versos que se seguem:


"...d'esse que goarda na cuba, / Doce çumo Mação excellente.""camarista estimado e valido."


Sem dúvida trata-se do vinho "da Chave Dourada" e do ilustre Teólogo e Latinista Padre António Pereira de Figueiredo, íntimo do Marquês de Pombal e do próprio rei D. José.

                                                                                             Continuando a seguir o raciocínio da introdução histórica, para publicação "vinho da Chave Dourada - Elemento estruturante do desenvolvimento local", levada a cabo por To Zé Cardoso, na sua tese, chegamos aos três versos, já na parte final do sarau:

"De Evio Lysio na Casa enramada, / Por isso chamado / Da Chave dourada".

Conclui o autor que a Casa enramada será a igreja Matriz de Mação, ou seja a Igreja. O que, porventura, quererá dizer que seria produzido pela Igreja, ou em terras da Igreja e que, por isso, se lhe dava o nome "da Chave dourada", figura recorrente nos brasões eclesiásticos, inclusivé no do Papa.


Sendo assim, o vinho é "da Chave dourada", porque provém das terras da Igreja / Diocese, ou de alguém a elas ligado.

O Padre António Pereira de Figueiredo, que ao tempo se deslocava entre Lisboa e Mação, terá sido o introdutor do vinho "da Chave dourada" na Corte, onde o distribuía, ou comercializava, quer como representante da Igreja, quer a título particular.

E, como junto do vinho iriam os cabritos, queijos, azeite e mel, das terras que escorrem para o Tejo, não me pareceu, nem parece, tão crasso o erro de "por extensão" adjectivar o azeite com a designação "chave dourada".

Quanto ao vinho "da Chave Dourada", tenho, ao longo de alguns anos, reunido um acervo, razoável, entre documentação e testemunhos.

Sinto, todavia, que ainda muito se pode colher junto dos mais velhos maçaenses e haverá ainda documentação desconhecida que, como o vinho, necessita muita maturação para ver a luz do dia, com verdade e autenticidade. 

Parece-me que ainda se não sabe muito, sobretudo para falar, com rigor histórico, desta preciosidade ímpar.

É, por isso, que ainda não me senti, suficientemente seguro para escrever sobre o vinho "da Chave Dourada".

Faço votos para que as autoridades e forças vivas da "nossa terra" desenvolvam estes temas e criem condições para termos a possibilidade e o prazer de saborear as coisas autênticas e genuínas da região.

Aceite os meus melhores cumprimentos.

Ao seu dispor

José Valente”

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