Não me canso de reler os
livros de António Aleixo e, quando posso, vou aumentando o pecúlio das quadras
extra – livros.
Vem este meu gosto dos
anos 70, dos serões n’O Meu Café, em Faro, com os contadores de histórias e os
poetas populares algarvios.
O Pardal, da Quarteira,
era imparável quando começava a desfiar as histórias que, anos mais tarde,
seriam editadas no livro “Em cima do mar salgado”.
O Ti Liberato tinha as
suas glosas, mas fazia mais o seu número em prosa, descrevendo peripécias e
aventuras que trazia do mar, todos os dias.
O ponto alto era o
momento em que cada um dos presentes dizia quadras do Aleixo, menos conhecidas,
ou inéditas, com traços de verdadeira realidade.
O Ti’Zé da Alfarrobeira, que
vendeu cautelas ao lado do António, como ele dizia, lembrava:
Um dia, no mercado da
Quarteira, acenei ao António: Olá “poeta!”…Ele respondeu:
Poeta,
não, camarada
Eu
também sou cauteleiro;
Ser
poeta não dá nada
Vender
jogo dá dinheiro.
Depois, ao dar-lhe
parabéns por ter sido rei dos jogos florais, de Faro, no dia anterior:
Ontem
rei, hoje sem trono
Cá
ando outra vez na rua.
Entreguei
a roupa ao dono
E a
miséria continua.
Já na pensão do Pontes,
onde comíamos um carapau, cruzando com uma “flausina”, atirou:
Riem
d’outras com desdém
Certas
damas bem vestidas;
Quantas…p’ra
vestir bem
Se
despem às escondidas.
E, quando lhe apontaram
duas “suecas”, loiraças e muito envolvidas, atrás de uma tosta, com um ar de
compreensão, eis o comentário do António:
Mas
que grande aberração!
Porque
será que fazem isso!...
A
comerem pão com pão…
Quando
é tão bom com chouriço….
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