Vinte anos depois da morte do
poeta, ouvimos, encantados, versos repassados de oportunidade, de traço simples
e palavras comuns.
Era na simplicidade, fácil de
perceber e profunda no entender, que residia o encanto e popularidade dos
versos de António Aleixo – um dos
maiores poetas populares portugueses:
Sem mais comentários, deixamos um
pequeno entrecho do Zé Carrapato, montanheiro que se juntou muitas vezes com o poeta,
nos mercados de Loulé, chegando a deixar de apregoar o seu jogo para seguir o
“senhor Aleixo” – como dizia - e ouvir as suas prosas.
Lembro, quando conversávamos, em
Loulé, e passaram duas mulheres, de preto:
Certas
viúvas discretas
De
luto pesado em cima
Lembram
cachos de uvas pretas
A
pedir outra vindima.
Mais à frente, na nova avenida,
exclamou o “senhor Aleixo”:
Vem
da serra um infeliz
Vender
sêmea por farinha;
Passado
tempo já diz:
-
Esta rua é toda minha!
Cruzámos com o Dr. Madeira,
Administrador do concelho. E saiu outra pérola:
Há
tantos burros mandando
Em
homens de inteligência
Que
às vezes fico pensando
Que a
burrice é uma ciência
Logo adiante um pobre que numa
lenga-lenga chorosa pedia esmola. Disse o poeta:
Se
pedir, peço cantando;
Sou
mais atendido assim.
Porque
se pedir chorando,
Ninguém
tem pena de mim.
Encontrámos o sr. José Neves
Cabrita, da Bordeira; trabalhava em campas, jazigos….
Um
homem sonha acordado,
Sonhando
a vida percorre.
E
desse sonho dourado
Só
acorda quando morre.
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