segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Alecrim


alecrim (Rosmarinus officinalis) é um arbusto  vulgar, na zona mediterrânica, entre 0 e 1500 m de altitude, em solos calcários.

Devido ao seu aroma típico, em Latim era rosmarinus, que significava orvalho do mar.

Como qualquer outro nome vernáculo, o nome alecrim é por vezes usado para referir outras espécies, nomeadamente o rosmaninho, que possui exactamente o étimo rosmarinus

No entanto estas espécies de plantas, alecrim e rosmaninho, pertencem a dois géneros distintos, Rosmarinus e Lavandula, apresentando diferenças as morfologias das duas espécies, em particular, a forma, coloração e inserção da flor.

Descrição - Arbusto muito ramificado, sempre verde, com hastes lenhosas, folhas pequenas e finas, opostas, lanceoladas. A parte inferior das folhas é de cor verde-acinzentada, enquanto a superior é verde brilhante. 

As flores reúnem-se em espiguilhas terminais e são de cor azul ou esbranquiçada. O fruto é um aquénio – seco, monospérmico, indeiscente, com semente erecta -. Floresce quase todo o ano e não necessita de cuidados especiais nos jardins. 

Toda a planta exala um aroma forte e agradável.

Utilizada com fins culináriosmedicinais e religiosos, a sua essência também é utilizada em perfumaria - na produção da água-de-colônia -, pois contém taninoóleo essencialpinenocânfora e outros princípios activos que lhe conferem propriedades excitantes, tónicas e estimulantes.

A sua flor é muito apreciada pelas abelhas produzindo assim um mel de extrema qualidade. É vulgar a plantação de alecrim perto dos apiários, para influenciar o sabor do mel.

Cultivo - Devido à sua atractividade estética e razoável tolerância à seca, é utilizado em arquitectura paisagista, especialmente em áreas com clima mediterrânico. É considerada fácil de cultivar para jardineiros principiantes, tendo uma boa tolerância a pragas.

O alecrim é facilmente podado em diferentes formas e tem sido utilizado em topiária – arte de formar várias configurações, através das plantas -. 

Quando cultivado em vasos, deverá ser mantido de preferência aparado, de forma a evitar o crescimento excessivo e a perda de folhas nos seus ramos interiores e inferiores, o que poderá torná-lo um arbusto sem forma e rebelde. Apesar disso, quando cultivado em jardim, o alecrim pode crescer até um tamanho considerável e continuar uma planta atraente.

Pode ser propagado a partir de uma planta já existente, através do corte de um ramo novo com cerca de 10 a15 cm, retirando algumas folhas da base e plantando directamente no solo.

Entre as variedades seleccionadas para uso em jardim, referimos: Albus - flores brancas, Arp - folhas verde-claro, fragrância a limão, Aureus - folhas com pintas amarelas, Benenden Blue - folhas estreitas, verde-azulado-escuro, Blue Boy - anã, folhas pequenas, Golden Rain - folhas verdes, com raios amarelos, Irene - ramagem laxa, rastejante, Lockwood de Forest – selecção rastejante de Tuscan Blue, Ken Taylor – arbustiva, Majorica Pink - flores cor-de-rosa, Miss Jessop's Upright - alta, erecta, Pinkie - flores cor-de-rosa, Prostratus, Pyramidalis (também conhecida como Erectus) - flores azul-pálido, Roseus - flores cor-de-rosa, Salem - flores azul-pálido, resistente ao frio e semelhante à Arp, Severn Sea - baixa, espalhando-se e enraizando-se pelo solo, com ramos em arco; flores violeta profundo, Tuscan Blue - erecta.

Plantio - Deve ser plantado preferencialmente na Primavera ou no Verão. O ideal é por meio de mudas, mas pode ser plantado através de sementes. Neste caso a planta demora bastante tempo para se desenvolver. 

Deve regar-se a planta, levemente, apenas quando o solo estiver seco a mais de 2 cm de profundidade.

Utilização culinária – Fresco (preferencialmente), ou seco. É utilizado na preparação de avescaça, carne de porco, salsichas, linguiças e batatas assadasNa Itália utiliza-se em assados de carneirocabrito e vitela. Em churrascos, espalha-se um punhado sobre as brasas do carvão , perfumando a carne e difundindo um agradável odor no ambiente. Usa-se em sopas e molhos.

Aplicações medicinais - Flor do Alecrim - A medicina popular recomenda o alecrim, como um estimulante, às pessoas débeis, e como analgésico, adstringente, antidepressivo, antirreumático, antisséptico e antiespasmódico. Usa-se, ainda,  para combater febres intermitentes e a febre tifóide.

Uma tosse pertinaz desaparecerá com infusões de alecrim, que também se recomendam às pessoas cujo estômago seja preguiçoso. 

Tem propriedades carminativas – expulsão de gases intestinais -, emenagogas – provoca ou favorece a menstruação -, desinfetantes e aromáticas, registando-se, recentemente, uma importância crescente na aromoterapia. É relaxante muscular, activador da memória e fortalecedor dos músculos cardíacos. Favorece a concentração mental e estimula a capacidade de memória.

Estudos recentes têm evidenciado a importância do alecrim no combate à Doença de Alzheimer e na protecção das células contra os radicais livres que favorecem o surgimento do câncer e doenças cardíacas, entre outras.

Tradicionalmente usado para combater pulgas e piolhos, bem como o tratamento de problemas capilares.

Uma infusão de alecrim faz-se com quatro gramas de folhas numa chávena de água a ferver. Toma-se depois das refeições. Possui grande quantidade de hesperidina - um bioflavanóide com efeitos anti-nociceptivos – contra agentes nocivos ao nível da pele ou mucosas – comprovados, contra a gota -.

Utilização religiosa – Nos templos e igrejas, o alecrim é queimado, como incenso, desde a mais remota  antiguidade. Na Igreja Ortodoxa Grega, o seu óleo é utilizado, até aos nossos dias, para unção.

Nos cultos de afro-religiões, como Umbanda e Candomblé, é utilizado em banhos e como incenso.

O povo costuma esfregar folhas de alecrim nas mãos e depois cheirá-las. Garantem os utilizadores de tal práctica que não há dor de cabeça que resista e coisas que há mito tempos andavam longe da memória surgem como que por milagre.

Lembro-me de uma Professora da escola da minha aldeia que pendurava, regularmente, ramos de alecrim nos quatro cantos da sala de aula. Gabava-se que os seus alunos eram bastante bons nas contas e nas disciplinas que envolviam mais memória, devido a essas plantas.


E, já que o alecrim é uma planta tão vulgar, porque não acreditar nos velhos hábitos da minha professora e esfregar umas folhas de alecrim nas mãos, aproveitando-lhes, depois, o aroma? 

E, já agora, verifique se demora menos tempo a fazer as palavras cruzadas, ou a completar o sudoku de nível mais difícil? 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Curral tradicional na Beira Alta raiana

O curral situava-se, normalmente, em frente da casa. 

Bem murado, por paredes altas, de pedra seca. 

Entrava-se nele por uma larga abertura com portões de ferro, de madeira chapeada com folha metálica, ou apenas de madeira. Nas casas menos abastadas a entrada no curral era apenas protegida por cancelas. E havia até alguns completamente abertos.

As giestas e a lenha iam para um monte num canto do curral, ou eram colocada nas “tchapanas” (choupanas). 

Os carros de vacas, carroças das burras, arados, grades, rastras, corças (zorras grosseiras) e outras ferramentas e alfaias agrícolas, arrumavam-se também no curral, junto dos sêtos de caniço ou madeira (usados à frente e na retaguarda dos carros de vacas) e os estadulhos que só se usavam nas carradas de palhas, fenos e ramas de árvores.

No Verão, ou quando o calor do sol quebrava o frio, as vacas, cabras e ovelhas saíam das cortes e iam ajudando a enriquecer o estrume que à medida que ia estando pronto se juntava num canto, antes de ser carrejado para as terras de cultivo e lameiros.

O estrume, saído da “lóije” ou da corte do gado, amontoava-se na parte mais baixa do curral. 

Era um dos lugares predilectos das galinhas que, depois de debicarem as viandas que lhes deitavam, ali se entretinham, a rapar, para descobrir vermes e outros bichitos com que se iam satisfazendo, nos intervalos das idas e vindas ao bebedouro, onde molhavam o bico.

Essas pias eram de granito, mas havia algumas de ferro, que, ao que se dizia, foram deixadas pelos franceses das Invasões Francesas. Eram restos de munições dos canhões.

Até meados do século passado, as galinhas e até os porcos, andavam livremente na rua que, na testada de cada casa, estava juncada com palha, rama, mato e outros restos de plantas. 

Ao anoitecer todo o “vivo” sabia onde devia ir ter, recolhendo às cortes e aos poleiros.

Pelos anos oitenta, foram proibidas as estrumeiras nas vias públicas e a GNR começou a multar os proprietários dos porcos e galinhas encontrados na rua. 

Alteraram-se, assim, os hábitos; muitas ruas foram calcetadas e posteriormente asfaltadas. 

Em muitas localidades foram feitas redes de esgotos, canalizações de água ao domicílio e todas as casas construídas ou modificadas passaram a ter, obrigatoriamente, casa de banho, ou, pelo menos, retrete.

Os poleiros onde dormiam as galinhas e as cortelhas dos porcos situavam-se debaixo das escaleiras que davam acesso aos balcões do piso de cima, ou numa pequena construção autónoma, ligada ao curral. 

Nestes casos o poleiro era sobreposto à cortelha.

Ao lado da habitação e, não raro, como continuação desta, erguia-se o cabanal. 

Era uma construção que abrigava a corte (para vacas, burra ou cavalo), o palheiro (para palha e feno) ou servia de arrecadação. 

Tinha, por vezes, uma cozinha onde se faziam as refeições e se preparavam as viandas para o “vivo”. 

Podia albergar o poleiro e a cortelha.

As aberturas por onde as galinhas entravam e saiam do poleiro eram pequenas e, à tarde ou à noite, depois delas entrarem, era fechada com uma pedra pesada para evitar a entrada das raposas. 

No poleiro fazia-se o “linheiro”, onde se conservava sempre um ovo: o “indês”. 

Actualmente os currais são logradouros, a corte é a adega e a cabana do carro a garagem. 

Outros tempos.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Agiotagem

       
Os princípios basilares de qualquer país atravessam, transversalmente, os mais elementares preceitos e normas de vida em sociedade e da preservação dos direitos humanos.

Qualquer cartilha constitucional, de qualquer país, segue, na essência, as mesmas doutrinas filosóficas e sociais. Nunca se viu uma ditadura que, na boca dos seus dirigentes, não seja a mais pura das democracias. 

Passando do plano teórico e retórico ao prático e real, vemos que as noções básicas e nobres, que sempre caracterizaram os portugueses e outros povos, tais como a simplicidade, honradez e dignidade, a par do humanismo, bom senso e lucidez, estão a ser trocadas, menosprezadas e até achincalhadas.

Os dirigentes e candidatos a qualquer coisa, aceitam, com aparente plena tranquilidade de consciência, que o futuro do filho do operário será diferente do do filho do quadro superior, ou do endinheirado. 

A diferenciação dos cuidados médicos, educação, enquadramento social, preparação académica e profissional, com curso superior garantido, mesmo que seja pelo dinheiro da família. 

Mantêm-se, em Portugal, quase quarenta anos após a criação das grandes esperanças, a inércia e o poder; na essência, o “status quo”, que garanta a estabilidade social.

A agiotagem prolifera numa sociedade cada vez mais fechada. Os negócios escuros, ou não completamente claros, movimentam um submundo, desprezível do ponto de vista ideológico mas, economicamente, condicionador de grande fatia da economia global.

A tradicional “cunha” está aí, para lavar e durar. 

A enorme mole de funcionários públicos já não tem caracterização condigna, está a ser implacavelmente substituída por quadros técnicos, e deixados os resistentes entregues a si próprios, em muitos casos, de esquema em esquema, de avaliação em avaliação, até que surja um ponto de arrumação.

Os pilares básicos da ordem social, nomeadamente a família, são ignorados, ou atacados. 

As acções de educação e alfabetização de adultos e apoio a reformados e inválidos, são atropeladas por apoio a tóxico-dependentes, criminosos e marginais e pelo controlo de grupos com capacidade de intervenção política e peso eleitoral.

Surgem então os eternos candidatos a qualquer coisa, sob a forma de subsídio, emprego – não confundir com trabalho –, cargo político, administrativo, governamental. 

Depois vêm os que detendo qualquer influência – ou tal fazendo crer –, estão sempre dispostos a ajudar quem precisa, a conseguir isto ou aquilo, a furar os esquemas da burocracia…A troco de… 

A agiotagem chegou aos sindicatos, talvez melhor dizendo aos sindicalistas, que vão ao despudor de cobrar, aos trabalhadores, altas percentagens das indemnizações, por extinção de postos de trabalho, em empresas extintas.