quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Curral tradicional na Beira Alta raiana

O curral situava-se, normalmente, em frente da casa. 

Bem murado, por paredes altas, de pedra seca. 

Entrava-se nele por uma larga abertura com portões de ferro, de madeira chapeada com folha metálica, ou apenas de madeira. Nas casas menos abastadas a entrada no curral era apenas protegida por cancelas. E havia até alguns completamente abertos.

As giestas e a lenha iam para um monte num canto do curral, ou eram colocada nas “tchapanas” (choupanas). 

Os carros de vacas, carroças das burras, arados, grades, rastras, corças (zorras grosseiras) e outras ferramentas e alfaias agrícolas, arrumavam-se também no curral, junto dos sêtos de caniço ou madeira (usados à frente e na retaguarda dos carros de vacas) e os estadulhos que só se usavam nas carradas de palhas, fenos e ramas de árvores.

No Verão, ou quando o calor do sol quebrava o frio, as vacas, cabras e ovelhas saíam das cortes e iam ajudando a enriquecer o estrume que à medida que ia estando pronto se juntava num canto, antes de ser carrejado para as terras de cultivo e lameiros.

O estrume, saído da “lóije” ou da corte do gado, amontoava-se na parte mais baixa do curral. 

Era um dos lugares predilectos das galinhas que, depois de debicarem as viandas que lhes deitavam, ali se entretinham, a rapar, para descobrir vermes e outros bichitos com que se iam satisfazendo, nos intervalos das idas e vindas ao bebedouro, onde molhavam o bico.

Essas pias eram de granito, mas havia algumas de ferro, que, ao que se dizia, foram deixadas pelos franceses das Invasões Francesas. Eram restos de munições dos canhões.

Até meados do século passado, as galinhas e até os porcos, andavam livremente na rua que, na testada de cada casa, estava juncada com palha, rama, mato e outros restos de plantas. 

Ao anoitecer todo o “vivo” sabia onde devia ir ter, recolhendo às cortes e aos poleiros.

Pelos anos oitenta, foram proibidas as estrumeiras nas vias públicas e a GNR começou a multar os proprietários dos porcos e galinhas encontrados na rua. 

Alteraram-se, assim, os hábitos; muitas ruas foram calcetadas e posteriormente asfaltadas. 

Em muitas localidades foram feitas redes de esgotos, canalizações de água ao domicílio e todas as casas construídas ou modificadas passaram a ter, obrigatoriamente, casa de banho, ou, pelo menos, retrete.

Os poleiros onde dormiam as galinhas e as cortelhas dos porcos situavam-se debaixo das escaleiras que davam acesso aos balcões do piso de cima, ou numa pequena construção autónoma, ligada ao curral. 

Nestes casos o poleiro era sobreposto à cortelha.

Ao lado da habitação e, não raro, como continuação desta, erguia-se o cabanal. 

Era uma construção que abrigava a corte (para vacas, burra ou cavalo), o palheiro (para palha e feno) ou servia de arrecadação. 

Tinha, por vezes, uma cozinha onde se faziam as refeições e se preparavam as viandas para o “vivo”. 

Podia albergar o poleiro e a cortelha.

As aberturas por onde as galinhas entravam e saiam do poleiro eram pequenas e, à tarde ou à noite, depois delas entrarem, era fechada com uma pedra pesada para evitar a entrada das raposas. 

No poleiro fazia-se o “linheiro”, onde se conservava sempre um ovo: o “indês”. 

Actualmente os currais são logradouros, a corte é a adega e a cabana do carro a garagem. 

Outros tempos.

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