Francisco de Matos Roseiro e Maia, de 94 anos – faleceu em Lisboa e foi sepultado em Mação, sua terra natal, em 28 de Dezembro de 2013..
Acrescentaríamos a estas duas linhas uma vasta bibliografia e uma infinidade de factos que preencheram a longa vida deste nosso conterrâneo, se soubéssemos que isso seria o seu gosto.
Mas nem ele precisa de elogios fúnebres, nem nós queremos deixar aqui discursos maçadores.
Todavia manda a verdade e o interesse do exemplo, deixado por este Homem, que todo o concelho conhecia por Senhor Francisco Roseiro e nós, que tivemos o privilégio da sua palavra e o prazer do seu convívio, chamando-lhe Ti’ Chico Roseiro, que se apresente a ponta visível deste grande iceberg.
Personalidade “low profile”, estava com o mesmo à-vontade, na mais tosca adega da mais insignificante aldeia, como no mais elegante copo-de-água do mais requintado cerimonial.
Nunca é de mais lembrar o seu conceito de liderança tão bem descrito uma vez que coincidimos numa reunião de gente ilustre.
Disse-me ele: felizmente Deus deu-me altura suficiente para não precisar de me pôr em bicos de pés, para ver o que preciso.
Não posso deixar de referir uma das acções mais nobres em que se empenhou e que nunca terá chegado ao conhecimento dos muitos beneficiados: pertencendo ao grupo que financiou o Professor Lalanda no projecto do colégio, foi, por várias vezes, impulsionador e congregador de vontades.
Numa reunião, na sua adega, entre quatro ou cinco pessoas, o construtor esticou a corda ao máximo: ou se arranjavam ali sessenta contos para poder avançar com a obra, ou teria de parar.
Perante o impasse foi a palavra do sr. Roseiro que se fez ouvir: não pára nada. Amanhã, antes do fim do dia, levo-lhe o dinheiro.
E o colégio fez-se.
Perdoe-nos, Ti’Chico, as inconfidências. Sabemos que teve muitas vezes o coração nas mãos e nunca decidiu, liminarmente, pela parte mais forte.
Nas estremas, que rachava como ninguém, nas conciliações, nas pequenas demandas, onde mãos que agrediram acabaram apertadas, nas avaliações, nos conselhos graciosos, nas orientações de culturas agrícolas e no incentivo aos pais indecisos que acabaram mandando os filhos estudar, sempre foi eficaz e discreto.
Não precisou de cursos nem galões para chegar aos ouvidos de quem queria que o ouvisse, nem falava muito alto, calando-se, às vezes, para se fazer ouvir.
Fica esta singela homenagem, retrato esbatido de uma existência escrita a letras de ouro no grande Livro da Vida.
Com a nossa sentida saudade…
Descanse em Paz!
Prof. José Valente