Nas histórias e nos diálogos, criados de mim para mim, dou comigo a olhar não sei para onde e a pensar não sei em quê.
Porém para completar o nome desta “Folha solta”, faltou-me uma palavra, entre as várias que me vieram à mente.
Fui atrás do espelho e, no fundo escuro, sobressaía um conjunto de hipóteses, ligadas a letras: estava lá o V da vida, o S do sonho, depois, por ali, um T invertido, um A deitado, dois Os, lado a lado, e um K ao lado do L.
Não há aqui, nesta janela de sonho, nenhum C, pelo que não vou pelo filosofal - comando - do poema de A. Gedeão.
Bem, deixemos então as letras substracto do sonho, com as evidências assinaladas e como que formando um lastro semi-obscuro que acaba por dar origem às imagens do espelho, isto é, da vida.
Estava encontrado o meu título: o sonho reflecte a vida.
Mas viver a vida é olhar para a frente, é seguir os raios luminosos, do espelho, que se projectam no futuro.
E se sempre olhei para a frente e para cima, porque irei deter-me, agora, nestas conjecturas?
Depois, socorrendo-me do que os anos me ensinaram, das experiências e caminhos que a vida me abriu, das pessoas que ensinei e me ensinaram, do que sonhei, imaginei e deduzi, dos êxitos e insucessos, acabo por concluir que tudo assenta numa base, caldeada ano, após ano; experiência após experiência; livro após livro; amigo após amigo…
E que sem essa capacidade crítica, sem saber guardar e eliminar, traduzido no sonho, reduzido às letras do obscurecido lado do espelho da vida, não é possível definir os bons caminhos e chegar aos comportamentos da excelência.
Chegados aqui, diante da confusão medonha da vida dos nossos dias; sem tempo para pensar e muito menos para reflectir e analisar aquilo que se pensou, chegamos aos resultados catastróficos que todos os dias presenciamos: guerras declaradas ou veladas que mais não resolverão que os problemas dos que as iniciaram e nelas, normalmente, não participam; degradação das condições ambientais e catástrofes ecológicas que afectarão sobretudo os mais vulneráveis mas acabarão por destruir os seus próprios autores; políticas e regimes sociais comandados por forças que em nome dos povos se vão revelando como os maiores inimigos dos que apontam como sua base de apoio.
Hoje, a depuração de toda a informação que nos chega, a definição do bom e do mau, a eleição dos competentes e dos ineptos, é difícil.
As escolhas são condicionadas e as opções impostas.
Uma minoria de Países comanda o Mundo, não abertamente, mas por forças ocultas e meios escondidos do comum dos cidadãos.
Tudo, evidentemente, em favor das grandes liberdades e da democracia.
Os meios económicos condicionam governos; através deles, países e, consequentemente, pessoas.
Salvo a falsa benevolência e excelência dos avanços tecnológicos, que caminho teve a inteligência nos últimos séculos? Que progresso tiveram as artes? Que benefícios tiveram as pessoas no seu dia- a-dia? Que esbatimento tiveram as diferenças sociais? Que liberdade, igualdade e fraternidade, foram proporcionadas ao comum dos mortais? Que diferenças foram introduzidas na Sociedade em benefício da coletividade?
Quando quem engana quem, atingir a capacidade de auto análise e quem se sentir enganado descobrir quem o enganou, haverá condições de paz social?
Quando quem vive para sobreviver estiver à altura de analisar, conscienciosa e inteligentemente a sua vida, continuará disposto a dar de comer, aos que ignoram a sua fome?
Como será, então, a reflexão do grande espelho da vida?
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