quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Grimpa do cata-vento

A maior parte dos que olham para um cata-vento fazem-no para saber a direcção do vento, ou para admirar as composições que se foram criando à volta das grimpas. E, dos vulgares galos aos mais variados motivos regionais, passando pela simples seta, podem ver-se verdadeiras obras de arte popular.

A do cata-vento colocado na chaminé de uma escola do meu concelho (Mação), documenta uma actividade local – o pastor e a cabra, junto duma árvore – e homenageia a arte dos artesãos, quer sejam ferreiros ou latoeiros, das nossas terras.

Mas então o que é a grimpa? Nada mais, nada menos que a lâmina, habitualmente metálica que fixada ao eixo vertical, rotativo, do cata-vento, indica a direcção de onde o mesmo sopra E, mais eficaz que qualquer informação meteorológica, está sempre actualizado, movendo-se ao mais leve sopro de vento.

Porém o motivo que me leva a rabiscar estas linhas é a expressão muito ouvida: “baixa a grimpa!...” É que, se apurarmos o ouvido, acabaremos por concluir que muitas vezes se diz garimpa, em vez de grimpa. Talvez, por isso, valha a pena esclarecer as coisas, mesmo sem perfilharmos o famigerado novo Acordo Ortográfico, que, quanto a nós, nada virá contribuir para esclarecer coisa nenhuma.

Depois de ouvir dizer: …mal viste o polícia, baixáste logo a garimpa!... fiquei na dúvida se estaria correcta essa forma de dizer e, como sempre, consultei os vário dicionários de que disponho, verifiquei a etimologia de ambas as palavras e não tive grande dificuldade em concluir:

Garimpa, como substantivo não existe; há apenas a forma do verbo garimpar, que significa exercer o ofício de garimpeiro, isto é, pesquisar, ou explorar, metais ou pedras preciosas. Mas a gíria, sobretudo a brasileira, usa o termo garimpo para indicar o local onde pesquisa o garimpeiro e para significar moço de fretes, ou de recados e, também, indivíduo sem morada e trabalho, certos.

Grimpa, significa lâmina móvel do cata-vento; parte mais elevada de uma coisa: cocuruto, crista, cume ou píncaro. Emprega-se, na gíria, como cabeça. Associado a “baixar” e “levantar”, significa, respectivamente, acatar qualquer coisa sem protestar, sumeter-se, ou sujeitar-se e, inversamente, mostrar-se insolente, insubmisso, recusar uma ordem, ou fazer um protesto.

E, esclarecidas que estão as coisas, havemos de reconhecer e aceitar, com humildade, que quanto mais sabemos, mais nos apercebemos do muito que não sabemos. O filósofo disse: “só sei que nada sei” e isso parece-nos exagerado. Até porque, quanto mais soubermos, mais conheceremos sobre o que não sabíamos; mas também mais alargaremos o conhecimento sobre o que não sabemos!...


Filosofias à parte, recordo com os que comigo aprenderam Português, com o Prof. Lalanda, no velho Colégio D. Pedro V. Dizia ele: “Queres aprender Português? Lê muito e bom e estuda, todos os dias o Dicionário!” E, logo explicava: “Lê os nossos clássicos; os que escrevem e redigem, correctamente, em bom Português; e nunca deixes de consultar o Dicionário quando encontrares alguma palavra cujo significado desconheces, ou ouvires algo que não entendes!”

1 comentário:

RH disse...

"Garimpa" como substantivo existe, sim senhor: http://www.priberam.pt/dlpo/garimpa. O Houaiss também atesta.