A maior parte dos que olham para
um cata-vento fazem-no para saber a direcção do vento, ou para admirar as
composições que se foram criando à volta das grimpas. E, dos vulgares galos aos
mais variados motivos regionais, passando pela simples seta, podem ver-se
verdadeiras obras de arte popular.
A do cata-vento colocado na
chaminé de uma escola do meu concelho (Mação), documenta uma actividade local –
o pastor e a cabra, junto duma árvore – e homenageia a arte dos artesãos, quer
sejam ferreiros ou latoeiros, das nossas terras.
Mas então o que é a grimpa? Nada
mais, nada menos que a lâmina, habitualmente metálica que fixada ao eixo
vertical, rotativo, do cata-vento, indica a direcção de onde o mesmo sopra E,
mais eficaz que qualquer informação meteorológica, está sempre actualizado,
movendo-se ao mais leve sopro de vento.
Porém o motivo que me leva a
rabiscar estas linhas é a expressão muito ouvida: “baixa a grimpa!...” É
que, se apurarmos o ouvido, acabaremos por concluir que muitas vezes se diz
garimpa, em vez de grimpa. Talvez, por isso, valha a pena esclarecer as coisas,
mesmo sem perfilharmos o famigerado novo Acordo Ortográfico, que, quanto a nós,
nada virá contribuir para esclarecer coisa nenhuma.
Depois de ouvir dizer: …mal viste
o polícia, baixáste logo a garimpa!... fiquei na dúvida se estaria correcta
essa forma de dizer e, como sempre, consultei os vário dicionários de que
disponho, verifiquei a etimologia de ambas as palavras e não tive grande
dificuldade em concluir:
Garimpa, como substantivo não existe; há apenas a forma do verbo
garimpar, que significa exercer o ofício de garimpeiro, isto é, pesquisar, ou
explorar, metais ou pedras preciosas. Mas a gíria, sobretudo a brasileira, usa
o termo garimpo para indicar
o local onde pesquisa o garimpeiro e para significar moço de fretes, ou de
recados e, também, indivíduo sem morada e trabalho, certos.
Grimpa, significa lâmina móvel do
cata-vento; parte mais elevada de uma coisa: cocuruto, crista, cume ou píncaro.
Emprega-se, na gíria, como cabeça. Associado a “baixar” e “levantar”,
significa, respectivamente, acatar qualquer coisa sem protestar, sumeter-se, ou
sujeitar-se e, inversamente, mostrar-se insolente, insubmisso, recusar uma
ordem, ou fazer um protesto.
E, esclarecidas que estão as
coisas, havemos de reconhecer e aceitar, com humildade, que quanto mais
sabemos, mais nos apercebemos do muito que não sabemos. O filósofo disse: “só
sei que nada sei” e isso parece-nos exagerado. Até porque, quanto mais
soubermos, mais conheceremos sobre o que não sabíamos; mas também mais
alargaremos o conhecimento sobre o que não sabemos!...
Filosofias à parte, recordo com os
que comigo aprenderam Português, com o Prof. Lalanda, no velho Colégio D. Pedro
V. Dizia ele: “Queres aprender Português? Lê muito e bom e estuda, todos os dias o
Dicionário!” E, logo explicava: “Lê os nossos clássicos; os que escrevem e
redigem, correctamente, em bom Português; e nunca deixes de consultar o
Dicionário quando encontrares alguma palavra cujo significado desconheces, ou
ouvires algo que não entendes!”
1 comentário:
"Garimpa" como substantivo existe, sim senhor: http://www.priberam.pt/dlpo/garimpa. O Houaiss também atesta.
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