quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Estradas romanas – II





Na imagem, por cima, podemos ver o aspecto actual de um troço da estrada romana de Setúbal. 

Quais eram então as técnicas de construção que permitiram deixar obras tão duradouras e tão bem lançadas e enquadradas? 

Para construir uma estrada abria-se uma caixa, no solo, até ao terreno firme. 

Este cabouco era, em seguida nivelado e calcado, ou cilindrado, sendo algumas vezes fixadas estacas de consolidação. 

Sobre a base, nivelada e compactada, como podemos acompanhar no esquema em corte, abaixo apresentado, estendia-se uma camada de areia, argila e argamassa, de 20 a 35 cm de espessura e comprimia-se, fortemente. 

Sobre esta primeira base elevavam-se duas, três, ou mesmo quatro camadas de alvenaria: 

Primeiro, uma ou duas fiadas de lajes – pedras chatas – ligadas por um cimento, ou por argila. 

Depois, uma segunda camada, com 25 a 50 cm de espessura, de betão e tijolos ou calhaus. 

A seguir, uma terceira camada, de 30 a 50 cm, de betão de cascalho cilindrado, por pequenas camadas sucessivas.

E, por fim, a quarta camada, de 20 a 40 cm, constituída com diversos materiais disponíveis na região –, para formar um revestimento muito duro e, sobretudo, muito resistente – o calcetamento.


As mais belas estradas eram empedradas em toda a sua extensão. 

Nos arredores de Roma, a Via Ápia era coberta de mármore, sendo as juntas tão perfeitas e ajustadas que não caberia entre elas um cabelo, segundo a descrição dos historiadores da época. 

Mesmo nas vias com calcetamento de sílex a face superior era cuidadosamente talhada e as juntas executadas com extrema precisão. 

Esta plataforma era estabelecida em relevo e assegurada a secagem por meio de fossos laterais, afastados de 2 a dois metros e meio. 

Os aterros, de 3 a 6 metros, atingiam extensões de 28 quilómetros. 

Nos vales estreitos construíram viadutos e foram abertas trincheiras em plena rocha. 

A trincheira da Via Ápia, junto a Terracine, tem 4,44 metros de largura, 35 metros de comprimento e uma profundidade máxima de 35,55 metros. 

O maior túnel, entre Pouzzoles e Nápoles, mede 707,50 metros de comprimento, 6 metros de largura e 16 metros de altura. 

As pontes, que constituem obras de verdadeiro engenho e precisão, serão objecto de uma outra “Folha Solta”.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Dúvidas e Certezas




Ao ler este pensamento do poeta, fiquei a pensar se valeria a pena e seria pertinente e até, minimamente interessante, o que tinha rascunhado sobre o “Acordo Ortográfico”. 

Eu ainda não concordo com o “Acordo”, porque talvez não o conheça suficientemente, por incapacidade de percebê-lo e compreender o seu alcance e a sua contribuição para o avanço da maior difusão e influência da Língua Portuguesa no Mundo, porque não lhe reconheça aportes técnicos, científicos, etimológicos e “políticos”. 

Falei, recentemente, com pessoas influentes e responsáveis pela Cultura num dos Países da Comunidade a que pertencemos e, verifiquei que, longe de pacífica, a assinatura e prática do Acordo, não é considerada um assunto pertinente e prioritário nesse País. 

Penso mesmo que na maioria dos Países da Comunidade, o não será. 

Entre nós, salvo os defensores de interesses editoriais, os intelectuais que longe de reunirem o consenso dos seus pares, defendem a sua obra-prima, qual panaceia para todos os males de que enferma a nossa cultura linguística portuguesa, e aqueles que espreitam, vivem e exploram a mediatização, poucos serão os que se tenham dado à defesa do “Acordo”. 

A nós, simples mortais que estudámos a Língua Portuguesa, que a ensinámos, que a cultivamos e aperfeiçoamos, restam-nos, cada vez mais “Dúvidas”. 

Tenho uma boa dúzia de Enciclopédias, Dicionários de vários tipos, Prontuários, Gramáticas, Vocabulários, tratados sobre evolução e expansão da Língua Portuguesa. Recentemente a Internet veio facilitar a consulta de obras dos nossos autores que, sem contestação, melhor trataram a Língua Portuguesa. 

Visa, este esclarecimento, abonar a minha confissão de que cada vez tenho mais “Dúvidas”, sobre a melhor forma de escrever em Língua Portuguesa e, ainda, para afirmar a maior dessas dúvidas: sob o ponto de vista cultural, qual o interesse do “Acordo”? 

Termino com um apelo aos senhores que nos aparecem cheios de ideias e seguros de todas as certezas sobre os benefícios do “Acordo”e que o poeta chama, por isso, certamente, idiotas – entenda-se, os que têm muitas ideias -: 

Não gastem mais tempo em discussões académicas, não lancem mais argumentos sobre a vossa competência e capacidade para decidir sobre o que é bom, ou mau, para a defesa da Língua Portuguesa e a sua expansão no Mundo. Nós sabemos que são os melhores. 

Expliquem, ao comum dos mortais, as vantagens do “Acordo”, para Portugal, para a defesa da cultura portuguesa e para fortalecer os laços entre os milhões de almas que querem, tão só, perceber: 

Porquê o “Acordo”? 

Quais as vantagens culturais do “Acordo”?

Nota:

Pareceres negativos sobre o Acordo Ortográfico:
  1. Departamento de Linguística da Faculdade de Letras da U.L.
  2. Comissão Nacional de Língua Portuguesa.
  3. Direcção Geral do Ensino Básico e Secundário.
  4. Associação Portuguesa de Linguística.
  5. Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.
Prof. José Marques Valente

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Estradas romanas – I




Os romanos concluíram que a derrota em Breno (ataque da Gália em 390 a.C.) se ficou a dever a problemas de movimentação da sua pesada máquina de guerra, por falta de vias de comunicação. 

Eram utilizados caminhos de terra batida nas deslocações entre a capital e terras vizinhas; todavia já tinham, nessa altura, a Via Ápia, construída em 312 a.C., por Ápio Cláudio Cego, entre Roma e a cidade de Cápua. 

Nos contactos com os Cartagineses, os estrategas e engenheiros romanos estudaram as calçadas empedradas e daí nasceu a base para a definição das técnicas de construção das novas vias romanas que proliferaram por todo o Império, a um ritmo alucinante. 

A partir de Itália, através da Hispânia, Gália, Grã-Bretanha, Egipto e Ásia Menor, estendia-se uma rede de 79.469 quilómetros de grandes vias romanas. Desta malha destaca-se a Gália com 22.000 quilómetros. 

Juntando as vias secundárias, de menor qualidade, a rede viária do Império Romano atingiu 150.000 kms. 

Ao contrário de outras civilizações, os romanos não basearam o seu desenvolvimento comercial exclusivamente nos seus portos; privilegiaram as estruturas viárias que facilitavam o intercâmbio no interior continental e daí adveio uma expansão comercial fulgurante e um domínio militar eficaz sobre todo o vastíssimo império. 

Os vinhos e azeites da Hispânia, os cereais da Numídia e as cerâmicas e carnes da Gália, cruzavam-se nas estradas do império e afluíam a Roma. 

Mas, vejamos como foram construídas as estradas romanas que, passados mais de vinte séculos, ainda são merecedoras da nossa admiração: 

A largura das estradas variava entre 4,13 e 4,70 metros, havendo ainda um passeio, de cada lado, com um mínimo de 0,50 metros e que chegava a ter metade da largura da via. 

Junto de Roma, as vias tinham 20 metros de largura e os passeios, empedrados como as calçadas, ou, pelo menos revestidos com lajes, elevavam-se sobre aparelhos de 20 a 30 cm. 

De 18 em 18 metros, havia montadouros, para montar a cavalo, ou subir para as carruagens e de 1.481,50 em 1.481,50 metros, os marcos miliários (do latim milliarium, a partir de milia passum, “mil passos”). 

Estas colunas, cilíndricas, com 20 polegadas de diâmetro, de base rectangular e altura variável, pesavam cerca de 2 toneladas. 

Na base estava escrito o número da milha, relativo à estrada e, à altura dos olhos, constava a distância até ao Fórum Romano, além de outras indicações: responsável pela construção e encarregado da conservação. 

Estes miliários são fundamentais para que historiadores e arqueólogos possam determinar e estimar os trajectos das antigas vias romanas. 

Em Roma, no Capitólio, o milliarium assinala o km zero das estradas consulares de todo o império. 
 (cont.)

OK



-Tudo bem!... Completada a centena de “Folhas soltas”continuamos até que os leitores nos “mandem” parar, ou deixem de nos ler. 

A expressão OK, universalmente usada e aceite pelos dicionários de Língua Portuguesa, pronuncia-se “ó quei” e equivale a “está bem!”. 

A origem e etimologia do acrónimo, são desconhecidas. Todavia, referiremos algumas versões e curiosidades sobre esta expressão, que, embora banalizada, faz correr muita tinta. 

Foi usada, pela primeira vez, numa publicação escrita, em 23 de Março de 1839, quando Charles Gordon Green, editor do jornal “Boston Morning Post”, a escreveu no seu jornal. 

Etimologicamente há diversas teorias sobre as origens da expressão OK: 

Alemã – A expressão será proveniente de uma deformação de “All Correct” em “Oll Korrekt”, com origem no baixo Alemão “Olles Kloer”. 

Grega – A derivação provirá da expressão grega “Ola Kala”, que significava “tudo está bem”. Alguns estudiosos da língua Helénica atribuem OK a tal expressão. 

E.U.A. – Durante a guerra civil nos Estados Unidos ( guerra da Secessão 1861 – 1865) escrevia-se nas fachadas das portas “0 Killed”, quando não havia mortos, naquela residência. A expressão era, igualmente usada nos campos de batalha. Também, muito mais tarde, a expressão foi largamente usada na guerra do Vietname. 

Damos, a seguir, nota de algumas curiosidades. OK? 

Em Choctaw, língua nativa americana, a expressão “Okeh”, significava “sim”. 

Os escravos americanos, de origem africana, usavam “Hoc ille”, uma expressão latina, e também “Oc”, proveniente do occitano. Ambas as expressões significavam “sim”. 

O 8º presidente dos E.U.A., Martim Van Buren, assinava, em 1836, com o sobrenome de “Old Kinderhook”, que abreviava em O.K. 

Nos E.U.A., nos campos de algodão, os escravos apresentavam-se, ao capataz, com a carga e recebiam, em francês, o visto favorável com a expressão “Au quai”, enviando-os ao cais de carga. Os não franceses diziam “Oll Kway”. 

Um “O” formado pelos dedos polegar e indicador e os restantes levantados, era o sinal feito pelos soldados norte-americanos para indicar que tudo estava correcto, que havia Zero mortes. Nos relatórios onde estava tudo bem usava-se a expressão OK. 

As primeiras palavras proferidas por humanos na Lua: em 20 de Julho de 1969, depois do pouso do módulo lunar Eagle, na missão Apollo 11, o astronauta Edwin Aldrin disse “OK”, para Neil Armstrong que o precedera a pisar a Lua, pela primeira vez.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Liber…(dade, tário, tino)




Todos reconhecem – pelo menos qualquer compêndio assim define – que a liberdade tem limites e, por isso, é necessário interpretá-la.

O mais vulgarizado dos princípios é o que determina como termo da liberdade de cada um o exacto ponto em que começa a liberdade alheia. 

Muitos desses limites estão, mesmo, contemplados nas leis protectoras e reguladoras das liberdades. Alguns em leis fundamentais de diversos países. 

Já o libertário, geralmente associado à ideia de anarquista e o libertino, filosoficamente tido como o ímpio, irreligioso, ou incrédulo – no sentido de não crente –, têm muito mais liberdade, pois as suas convicções, em sentido ideológico, não colidem com a liberdade dos outros. 

A Sociedade organizada e civilizada tolera os ignorantes; todavia não os elege como heróis e, muito menos, não os proclama exemplos de sabedoria. 

Quando um ébrio ignorante, em plena praça pública, desata a debitar vitupérios, contra tudo e contra todos, ou é desprezado por inimputável, ou detido por ofender a Ordem e Moral públicas. 

Porém, se um Prémio Nobel de Medicina, por exemplo, se lembrar de pôr em causa os teoremas de Pitágoras, ou de Euclides, os Princípios de Arquimedes, ou de Pascal, proclama-se como respeitável, porque a sua liberdade lhe permite dizer, ou escrever, o que muito bem entender. 

Arroga-se o direito de expressar, livremente, a sua ignorância, arrogância, loucura, e por aí fora, até onde lhe apetecer. 

E como classificaremos, então, a prova de exame do aluno que tem toda a liberdade de debitar a mais pura ignorância, exprimindo-se como entender, pondo em causa, inclusive, tudo o que o seu desconhecimento não tem capacidade de analisar e criticar? 

Haverá algum estatuto que legitime o que é disparate, no consenso geral? 

Mas voltemos ao Prémio Nobel, que nos habituámos a ver como um semi-deus, um poço de sabedoria, um sábio omnisciente e infalível. 

Depois lembremos a lição de Apeles que mostrou ao sapateiro/sábio que não devia subir além da chinela…

Meditemos no princípio de Peter, que, inexoravelmente, demonstra que todos tendemos para a incompetência e, para finalizar, tenhamos a certeza de que quando o centro de gravidade da Torre de Pisa, sair da vertical da base de sustentação, ela cairá. 

Toda a vida tenho vindo a aprender; sou dos que não herdaram “back ground” como trampolim de partida e, a pulso, cheguei aos patamares de Peter. 

Mas os poços de sabedoria onde sempre gostei mais de beber foram, e são ainda, os da gente simples: sem lodo e com alguma profundidade. 

Gente que não precisa de invocar a sua liberdade para dizer o que pensa e usa o bom senso para não ofender, escandalizar e menosprezar os semelhantes. 

Gente que, se gosta e acredita, ama; todavia, se tem dúvidas ou é traída, despreza e abomina. 

Gente que não sabe ler diplomas, ou reconhecer prémios, mas detecta e sente o afecto, a dignidade, a honradez e, sobretudo…a autenticidade.

Dióspiro


                                                                                                                               

Há pouco tempo, ainda o velho diospireiro da Eira da Chã se mostrava bem vivo e recheado de frutos cor de laranja e sem quaisquer folhas. 

A árvore, em si, não tem qualquer importância, não passando de uma entre outras que já vão proliferando pelas redondezas. 

Porém, aí pelos anos cinquenta, há sessenta anos, portanto, foi a primeira vez que vi tal espécie e, não me constava que houvesse alguma outra na área de toda a aldeia. 

Com frutos tão coloridos, pendurados nos ramos, completamente despidos de folhas, numa altura do ano – finais de Outono – em que só restos de maçãs, laranjas e tangerinas se viam pela terra, eram motivo de romaria e objecto de admiração. 

Durante muitos anos limitei-me a comprar dióspiros; eram um dos frutos preferidos pela Irene – minha mulher – e qualquer boa frutaria da cidade exibia a espécie. Aliás diversas espécies, pois há mais que uma variedades, diferentes na cor e no sabor. 

Será por isso interessante saber um pouco mais sobre esta variedade de plantas, originárias da China e de cultura espalhada pelas Zonas Temperadas. 

Há três espécies de dióspiros (Lotus, virginiana e kaki). Esta última espécie engloba a maior parte das variedades produtoras de frutos. As outras duas espécies são mais usadas como cavalos de enxertia, ou porta-enxertos. 

Presumo que o diospireiro acima referido deve ser uma variedade da espécie kaki, porque tem folhagem caduca e frutos de um laranja escuro no estado de maturidade. 

Tem vida longa e resiste a temperaturas baixas, sendo sensível às geadas tardias na Primavera. É pouco amigo de ventos fortes e gosta de muita luminosidade. Dá-se bem em terras abertas e com bom escoamento de águas, terras fundas e bem estrumadas. 

Isto é quanto recordo dos cuidados que o Ti’Manel da Chã, que Deus haja, contava que lhe tinha dito o vendedor que lhe vendeu a planta, num mercado do Sardoal. 

Soube, depois, que o dióspiro é um fruto rico em taninos; por isso os frutos mal maduros são adstringentes e de sabor amargo. 

Há, porém, algumas variedades com teores baixos de taninos, geralmente com cores mais claras e consistência mais mole, designadas por variedades não-adstringentes. 

Como a maioria das frutas, o dióspiro é constituído principalmente por água (cerca de 83%). 

É relevante a sua riqueza em pro-vitamina A (caroteno), fibras solúveis (pectina) e potássio. 

Pertence ao grupo das frutas doces, daquelas que contêm elevado teor de hidratos de carbono de absorção rápida. 

São recomendados cuidados devido aos aportes energéticos e alterações de glicemia que pode provocar. 

Em contrapartida a fibra solúvel tem efeitos muito benéficos ao nível intestinal; o potássio é importante para o equilíbrio da tensão arterial e do tonus muscular, mas em casos de insuficiência renal não é recomendável. 

Devem ser preferidos, ao comprá-los, os frutos (dióspiros) que mantenham o pedúnculo e o cálice.