Vi esta palavra, pela 1ª vez, numa aula de Canto Coral, a propósito de uma canção da B. Baixa que ensaiámos: “O meu adufe”, cujos dois primeiros versos eram: “O arco do meu adufe / É de pau de laranjeira”.
Na altura, o tempo, ou, quiçá a timidez, não me proporcionaram perguntar que raio de coisa era aquela, pois sendo beirão nunca tal ouvira.
Porém, logo que pude consultar um dicionário, ficou desfeita a minha ignorância.
Trata-se de um instrumento musical popular português.
Já conhecido de Sumérios, Egípcios e Romanos, chegou à Península trazido pelos Árabes, a partir do séc.VIII.
O adufe é particularmente usado na Beira Baixa – entre Castelo Branco e a raia -, por grupos de adufeiras, que marcam presença em todas as romarias da Senhora do Almortão, junto de Idanha-a-Nova.
Destaca-se o centenário grupo “Adufeiras de Monsanto”.
O instrumento é formado por um arco quadrangular, de madeira, que serve de suporte a duas membranas de peles de animais (cabra ou ovelha), devidamente tratadas e bem esticadas.
Há referências documentais a arcos de forma triangular, mas não existe qualquer exemplar com essa forma, que se justificaria, unicamente, pela mais fácil manipulação.
O adufe mede cerca de 45 cm de lado (entre 35 e 50 cm) e ostenta, por norma, laços decorativos, chamados “maravalhas”, nos quatro cantos.
No interior tem sementes e pequenas soalhas, ou sonalhas (rodelas metálicas como as dos pandeiros, normalmente feitas de caricas espalmadas e perfuradas).
Também já foram encontrados guizos.
Normalmente tocado por mulheres, o adufe é segurado pelos polegares das duas mãos e pelo indicador da mão direita, deixando os restantes dedos livres para a percussão.
Na tradição oral refere-se que o arco do adufe é feito de pau de laranjeira.
Talvez por ser resistente, ser muito pouco atacado pelo bicho da madeira e ser, relativamente, leve.
Mas a simbologia popular e tradicional atribui à madeira do arco do adufe a ligação com a flor de laranjeira e, consequentemente, ao casamento.
Nos descantes das bodas era presença constante grupos de adufeiras, amigas dos noivos.
Também às peles usadas se atribui um forte simbolismo: as peles são diferentes – numa das faces a de um animal macho e na outra de um animal fêmea.
As tocadoras atribuem a este preceito a harmonia do instrumento e a maneira como ele soa.
Infelizmente restam poucos artistas capazes de tratarem as peles utilizadas.
Devido à forma quadrangular, o adufe divergiu do “bendir” dos Árabes e do “bodrum” dos Celtas.
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