domingo, 30 de março de 2014

MAÇÃO - Bilhete de Identidade


Quem desce o vale do Tejo, no comboio da Beira Baixa, ou pela auto-estrada que corta o nosso concelho, não nota que atravessa uma parte do Alentejo. 

A estrema natural do concelho, desde Barca da Amieira a sudoeste de Ortiga, seria o Tejo, se o concelho de Gavião não atravessasse o rio e viesse anexar as terras de Belver, enquadrando-as no Alto Alentejo.

Já pelo norte, oeste e sul, as delimitações dos concelhos de Proença-a-Nova, Vila de Rei, Sardoal e Abrantes são feitas, naturalmente, pelas linhas de água. 

Fisicamente é este rincão de 403 km2, com oito milhares e meio de almas, em 2001, que constitui o concelho de Mação – um, entre as mais de três centenas de Portugal, situado bem no seu centro geográfico. 

Reza a Geografia que o concelho de Mação faz parte do Distrito de Santarém e daí, quando a designação era usada, devia enquadrar-se no Ribatejo. 

Porém, pelas suas características, o concelho fazia parte da Beira Baixa, embora os usos se aproximassem do Alentejo, onde os “ratinhos” passavam grande parte do ano, em trabalhos agrícolas.

A diocese é Portalegre e Castelo Branco. 

O enquadramento no Ministério da Educação é, actualmente, a DREC de Coimbra. 

Já na hidráulica é a circunscrição de Santarém. 

Até há poucos anos a rede telefónica era a de Torres Novas. 

Presentemente o concelho enquadra-se na Região Centro e nalguns casos na Lezíria e Vale do Tejo e ali começa a Zona do Pinhal Interior Sul. 

Mas há ainda os aspectos judiciais, militares, e outros, directamente dependentes de Lisboa.

Para um adulto, com alguma cultura, este emaranhado de divisões, classificações, e dependências é, no mínimo, complexo. 

Para uma criança ou um adolescente, não será menos. 

Não sabemos o que se ensina na escola, mas ficamos curiosos e esperamos que nos elucidem.

Uma coisa é certa, quando por cá andamos e nos perguntam qual é a nossa terra, não enjeitamos as origens e dizemo-nos maçaenses ou, se assim quiserem, maçanicos.

O “Voz da Minha Terra” traz-nos, regularmente, as tão esperadas notícias, mais alegres ou mais tristes, segundo o ponto de vista de cada um. 

Ultimamente, porém, vem-se agravando e subindo de tom o “dize-tu-direi-eu” dos “políticos locais” que pouco refere de construtivo e pode ser muito pernicioso, provocando menos interesse pelo regresso às origens daqueles que ainda sonham!...

NOTA: Este texto foi escrito há 10 anos. Publicamo-lo, com esta ressalva, porque não nos parece desactualizado, salvo, é claro, no número de habitantes que é menor e tende a diminuir. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

O método


Quando uma história começa a bailar no pensamento, acaba por perturbar o desenvolvimento normal de qualquer escrita com cabeça, tronco e membros. Assim como o gato e o rato, aparece, desaparece, volta a aparecer, no meio da sequência do que estamos a escrever.

Nestes casos o melhor é fazer um parêntese, escrevendo o que anda a querer saltar, para que acabe por sossegar e ficar, em suspenso, até que, um dia, ou nunca, se pegue nisso e se avance com a ideia.

Como se as personagens estivessem sossegadas e, uma vez desassossegadas, tenham necessidade de ser acalmadas. Ou como uma criança que chora sem causa física aparente e está, tão só, a pedir a nossa atenção, ou a solicitar o nosso carinho. Uma vez atendida deixa de haver causa para o choro e vem o sossego.

Porém, não se julgue que este sentimento de frustração é raro e só ataca os mais carenciados, ou com espíritos mais sensíveis. A ausência, ou demora da satisfação de uma coisa, material ou sentimental, tem, sobre o ego e o sistema de auto-estima, um efeito potenciado que, enquanto não satisfeito, funciona como força de bloqueio e se manifesta das mais variadas formas, mais ou menos obsessivas.

Comprar um jornal é um acto reflexo, ou, se quisermos, um hábito. 

Enquanto o não temos, sentimo-nos incomodados com a carência dele e somos alertados por um alarme que, de tempos a tempos, e a intervalos cada vez mais curtos, nos lembra essa falta. 

Porém, depois de comprá-lo, quase não olhamos para ele, ou nem o chegamos a ler. 

As novidades da moda, os saldos ou, por exemplo uma viagem, são estímulos idênticos, que provocam reacções similares.

É certo que ao contrário dos discos rígidos dos computadores, que armazenam tudo o que lhes enviamos, o nosso cérebro tem poder selectivo e acaba por não estourar, ou crachar, por excesso de dados. 

É um prodígio da Natureza, mas um pouco de método não fará mal e podemos enviar mensagens classificativas e definidoras da prioridade, ou do que é secundário e supérfluo.

Todavia, se pensamos que isso é simples e linear, estamos enganados. 

Teoricamente será tão difícil lembrar como esquecer, embora a maior parte da nossa intervenção consciente seja no sentido de retermos o que admitimos e consideramos interessante, quer lendo mais que uma vez o que queremos fixar, quer usando formas de desenvolvimento da memória e pouco ou nada fazermos para treinar o esquecimento.

Somos, isso sim, máquinas muito perfeitas e com uma grande capacidade. 

Então o que será um esgotamento? Qual será, então, o papel do método? E o que é, de facto, o método?

PS – Esta “Folha solta” ultrapassa, um pouco, a simplicidade que me imponho quando escrevo estes pequenos ensaios. Que me desculpem os leitores.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Platina

         
                                                                                                 pepitas de platina

Existem objectos de platina desde a antiguidade, mas a primeira referência ao metal surge nos escritos de Júlio Caesar Scaliger, em 1557, ao descrever uma substância das minas da Colômbia: 

“Até agora não foi possível fundi-la pelo fogo, ou por qualquer das artes espanholas”.

Dois séculos depois, aparecem novas referências a um metal que surge misturado com o ouro, nas minas da Colômbia, e são enviadas para a Europa as primeiras amostras do metal. 

A primeira platina pura foi obtida em Inglaterra em 1803, por W. H. Wollaston.

O nome platina é um diminutivo, depreciativo, de plata (prata, em castelhano), dada a semelhança que à primeira vista existe entre os dois metais e era usado para definir a impureza indesejável que acompanhava o ouro extraído das minas.

O metal puro é branco, brilhante, dúctil e macio e tem a densidade de 21,45 g/cc (três vezes mais pesado que o ferro) e o ponto de fusão, muito alto, dá-se aos 1.769,3ºC.

Associam-se a este metal precioso (um dos mais raros do mundo), níquel, cobre, ouro, prata, e, sobretudo, irídio e utiliza-se no fabrico de materiais de laboratório, acessórios de aparelhagem eléctrica e, em pó - catalisador em várias reacções na química orgânica.

Aplica-se em joalharia, odontologia e próteses e o metro-padrão e o quilograma-padrão, internacionais, bem como as respectivas cópias, são fabricadas com platina iridiada (liga com 90% de platina e 10% de irídio).

Dos seis elementos que compõem o grupo dos metais de platina a ourivesaria e joalharia usam a platina, o paládio e o ródio. 

A platina começou a ser usada nos princípios do séc. XX, os restantes só começaram a aplicar-se nos anos trinta. Até aí as jóias eram de ouro, ou prata.

Em Portugal a platina usada em joalharia não pode ter percentagem de liga superior a 500 milésimas (lei de 1926 e alteração dos anos 30). A este toque corresponde um punção de garantia da contrastaria com uma cabeça de papagaio e a letra P (símbolo usado desde 1926).

O paládio é semelhante à platina na cor e propriedades, mas mais leve. Usa-se como liga, para juntar ao ouro, de que resulta o ouro branco. 

O ródio é mais duro e resistente ao uso e corrosão. É usado num banho electrolítico para melhorar o acabamento das jóias de ouro branco, prata ou platina, cobrindo-as com uma camada mais branca, resistente e brilhante.

Nos últimos anos fazem-se jóias com praticamente qualquer material, como titânio e nióbio, além de resinas e outros polímeros. 

Por sua vez a indústria automóvel é um dos grandes consumidores de platina, usando-a nos mecanismos de catalisação.

sábado, 1 de março de 2014

As formigas



                              
As 17 espécies de formigas existentes em Portugal, são uma pequeníssima amostra das quase 12.500 espécies existentes por todo o nosso planeta, excepto nas regiões polares. 

Junto com algumas vespas e abelhas, as formigas, como insectos eusociais, pertencem à Ordem Hymenoptera

Aos biólogos que se ocupam do estudo das formigas dá-se o nome de mirmecologistas.

Segundo Ted Schultz, na sua obra “In search of ant ancestors”, as formigas são o género animal com maior sucesso na terra, pois constituem 15 a 20% da bio massa terrestre; existem há mais de 100 milhões de anos, crendo-se que surgiram no Período Cretáceo, derivando de vespas do Período Jurássico.

De ovos a adultas demoram 6 a 10 semanas. As operárias vivem desde poucos meses até 3 anos. As rainhas têm maior longevidade, tendo, como máxima idade, 30 anos. 

A rainha produz uma feromona que indica às obreiras quando devem criar outras rainhas.

Desde sempre as formigas foram consideradas úteis ao ecossistema e estão entre os animais que mais trabalham; são capazes de transportar várias vezes o seu peso. 

A organização social das formigas é extremamente funcional: as sociedades são organizadas por castas a que correspondem tarefas perfeitamente definidas, atribuídas de acordo com o tamanho ou a idade de cada indivíduo.

Vivem, na maior parte dos casos em formigueiros, que chegam a ter muitos milhares de formigas e são formados por complexos sistemas de túneis e câmaras subterrâneas. 

Nas câmaras são alojadas as obreiras, armazenados os alimentos, alojada a rainha, havendo ainda espaços próprios para “berçário” e tratamento e cuidados com as larvas.

A rainha vive dentro do formigueiro, é maior que as restantes formigas e perde as asas depois de fecundada – põe ovos durante toda a sua vida –. 

Os machos aparecem apenas para fecundar uma nova rainha e depois da fecundação são impedidos de entrar no formigueiro e morrem. 

As funções de procura e transporte de alimentos, construção e manutenção do formigueiro, defesa e ataque, limpeza, guarda da entrada e tratamento e cuidados com ovos, larvas, pupas e crias, são atribuídas às fêmeas estéreis – as obreiras.

A comunicação é a maior maravilha das formigas. 

Deixam uma trilha de feromónio que pode ser seguida por outras formigas. 

Nessas feromonas ficam os sinais de abundância de comida, esgotamento, caminho para a colónia, obstáculos, perigos e predadores, caminhos alternativos. 

Como as trilhas mais bem sucedidas são seguidas por mais formigas, a quantidade de feromonas é maior e interpretado como mais vantajoso. 

Uma formiga esmagada emitirá um alarme de feromónio que dada a sua alta concentração leva as formigas mais próximas a disporem-se em ataque. 

As antenas sentem o cheiro e dão sinais ao cruzarem-se duas formigas. 

As formigas atacadas injectam ácido fórmico nos atacantes.