segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Trilogia da Educação


Numa das últimas visitas que fiz à oficina do meu Padrinho - já lá vão uns bons vinte ou trinta anos -, quedei-me em frente dos “posters”, espalhados pelas paredes da forja, envelhecidos e descorados, entre os quais as “Lições de Salazar”, que nos meus tempos de aluno e de professor, estavam pendurados nas escolas.

Conversa puxa conversa e, comentando o quadro em que se apresentava a TRILOGIA DA EDUCAÇÃO NACIONAL, dizia-me o mestre ferreiro e meu Padrinho, ao tempo nos seus quase oitenta anos:

Nos últimos tempos tenho passado umas temporadas, lá por Lisboa, em casa da minha Adélia. Gosto sempre de ver as coisas; porém, nos tempos que correm, tenho assistido a muitas coisas que não gostaria de ver. Há valores que são eternos!...
Estás a ver esse quadro! Aprendeste por ele e também ensinaste por ele: Os valores nele referidos: DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA constituem a base de qualquer educação, até dos que não acreditam nessa trilogia: os ateus, os anarquistas e os desenraizados, têm, no mínimo, que respeitar estes valores, como referências da esmagadora maioria.

Mas, depois do que para aí se vê, nem sabes a vontade que me dá de actualizar o quadro. Bastava uma simples letrinha para que retratasse os tempos modernos. Ficaria assim: ADEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA. Os ateus ficavam contentes e os outros já referidos também não desdenhariam a alteração. Acabei por sorrir, mas fiquei a meditar naquilo.

Há poucos dias, não me recordo se num dos blogues que sigo, regularmente, se no facebook, ou nalguma daquelas graças em que somos férteis, vi publicado algo semelhante à observação do meu Padrinho. Pensei:

Critiquei-o muitas vezes, pelas suas ideias fora de tempo, chamando-lhe “velho do Restelo”, sobretudo pela sua ideia e seus conselhos de que não deveríamos ter ido estudar. Mas o diabo do velho não tinha a cabeça oca e foi pena que nunca tenha tido oportunidade de estudar.

Não foi desprezível o aperfeiçoamento que deu à pequena indústria que desenvolveu no fabrico, artesanal, de balanças romanas – conhecidas em todo o País – e mereceriam ser compilados os trabalhos que desenvolveu nos versos e quadras que foi fazendo toda a vida, bem como nos variados estudos e meditações que foi escrevendo, em papéis avulsos.

Descanse em paz Padrinho Jesuvino.

Sem comentários: