Depois da infância, em S.Bartolomeu de Messines, onde se iniciou no estudo do latim, João de Deus, o 4º de 14 irmãos, partiu para o Seminário de Coimbra, aos dez anos.
Aos 19 deixou o Seminário e ingressou na faculdade de Direito da Universidade da cidade do Mondego, mas apenas dez anos depois, quase a completar 30 anos, viria a terminar o curso.
Sempre se dedicou mais às artes do que ao estudo do direito, vivendo muitas vezes em situações de quase indigência, pois os rendimentos das traduções, poesias, colaborações literárias e outros expedientes, eram fracos.
Numa das tertúlias, em que mais uma vez se destacou na defesa do amigo, Antero de Quental, começaram a apoiar o poeta e foi decidido que seria reunida e divulgada a obra de João de Deus, reconhecendo-lhe o devido e justo valor.
Surgiu também a ideia de uma candidatura a deputado às Cortes, o que lhe permitiria, pelo menos, viver.
Esta ideia foi avante e João de Deus acabou eleito, em 1868, pelo círculo de Silves.
Sobre o Parlamento, a imprensa da época atribuiu a João de Deus as seguintes considerações:
…”Que diacho querem vocês que eu faça no Parlamento? Cantar? Recitar versos? Deve ser (…) gaiola que talvez sirva para dormir lá dentro a ouvir música dos outros pássaros. Dormirei com certeza!”
Dia de anos
Com que então caiu na asneira
De fazer na quita feira
Vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse…
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado…
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal; porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!
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No 1º ano,
assistiu, regularmente, sem grande colaboração, às sessões; no ano seguinte
acabou por faltar a 10 das 13 sessões realizadas.
O
casamento, o nascimento dos três filhos e a passagem pelas Cortes, acabaram
por criar estabilidade na sua vida pessoal e uma maior disponibidade para
publicação sistemática da obra poética e dramática.
Depois,
Teófilo Braga reuniu e organizou os textos, acabando por sair, em 1893 – 3
anos antes da morte de João de Deus – a obra Campo de Flores.
Nos últimos
anos de vida continua a colaborar, activamente, na imprensa periódica, a
fazer traduções e adaptações.
Já, em 1880, por influência do seu grande amigo
Antero de Quental, escreve no jornal católico Cruz do Operário uma carta,
dizendo que:
“é socialista porque é cristão, e socialista porque ama os seus semelhantes…”
Todavia a
sua grande obra é a Cartilha Maternal, publicada em 1876, após
o falhanço do Método Português de António Feliciano de Castilho.
Pela sua
importância vamos dedicar uma Folha Solta a essa grande obra pedagógica que
acabou por imortalizar o nome de João de Deus, principalmente junto do povo.
Deixamos
aqui à esquerda o Dia de anos, em que ressalta toda a
capacidade de dizer, utilizando como ninguém as palavras e, com a mais repassada
simplicidade e ternura, diz tudo o que quer e de forma perfeitamente
acessível ao comum dos leitores
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