segunda-feira, 3 de outubro de 2011

FINALMENTE...




Um dos vícios, que venho conservando, ao longo dos anos, é a visita aos alfarrabistas, para ver, lembrar, consultar...e acabar por comprar.

Há dias, numa dessas casas, encontrei o "Finalmente...", um livro de leituras para a quarta classe, aprovado oficialmente, da autoria de três amantes e cultores da Língua Portuguesa.

Não resisti, é claro, e não estou arrependido; ... quando a classe quase não dava erros no ditado, e já ia bem na redacção, a Sra Professora abria o "Finalmente..." e ditava.

Era, sem dúvida, o mais difícil dos dois ou três livros de leitura, usados naqueles anos cinquenta.

Havia, então, o livro único de leituras para a quarta classe -- o de Manuel Subtil, Cruz Filipe, Faria Artur e Gil Mendonça -. Depois outros dois livros, aprovados oficialmente -- o Finalmente e o livro de Pires de Lima -, se bem me lembro.

Três ou quatro vectores são comuns a todos os livros de leituras referidos: a Pátria e os seus maiores valores, o País e as suas gentes, morfologia, usos e costumes e a História.

As Virtudes -- trabalho, honradez, altruísmo e dignidade -, e um conjunto de pequenas histórias, fazendo a apologia da solidariedade, amizade e boa vizinhança, eram espalhadas, criteriosamente, entre os textos de autores e escritores da nossa galeria de imortais.

Era lida e interpretada a poesia de Camões a Augusto Gil, a prosa de Júlio Dinis a Trindade Coelho. Teatro de Garrett e romances históricos de Herculano eram aflorados.

E, pobres crianças, não tinham esgotamentos; aprendiam a ler, escrever, interpretar, falar... Português.

A quarta classe, que nem sempre coincidia com o quarto ano de escolaridade, foi a meta de muitas gerações. Lamentamos que assim tenha sido.

Porém o lamento não pode ser menor quando lemos as estatísticas e confirmamos que gastamos mais recursos, com a educação, que a maioria dos países europeus e mandamos para a vida, Homens e Mulheres, que talvez saibam qualquer coisa de inglês, que conheçam todos os menus do telemóvel e tenham visto muito mais filmes que os seus antepassados, mas não sabem ler um livro, nem interpretar, declamar e sentir um poema ... porque nunca lhes ensinaram Português.



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