Nos 180 anos do nascimento de João
de Deus (n. 08MAR1830)
é oportuno e quiçá pedagógico, levar aos leitores uma das obras maiores desde grande
poeta do amor, da ternura e, sobretudo, da simplicidade.
Considerado, pelos seus pares, um
eminente poeta lírico, passou à História, principalmente, pela publicação da
Cartilha Maternal, por onde aprenderam, e ainda aprendem, as primeiras letras,
muitas gerações de portugueses. Por mais de 50 anos este método global ensinou
as crianças portuguesas.
No poema que se segue, Hino
de amor, que fazia parte do meu livro da segunda classe, são
usadas, de forma magistral as palavras e é criada toda uma envolvência que
mesmo tratando-se de crianças era uma das lições preferidas naqueles meus oito
anos. Relembre, estimado leitor, e delicie-se com tão sublime simplicidade:
Andava um dia
Em pequenino
Nos arredores
De Nazaré,
Em companhia
De São José
O Deus-Menino
Eis senão quando
Vê num silvado
Andar piando
Arrepiado
E esvoaçando
Um rouxinol,
Que uma serpente
De olhar de luz
Resplandecente
Como a do sol,
E penetrante
Como diamante,
Tinha atraído,
Tinha encantado.
Jesus, doído
Do desgraçado
Do passarinho,
Sai do caminho
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Corre apressado,
Quebra o encanto;
Foge a serpente;
E de repente
O pobrezinho,
Salvo e contente,
Rompe num canto
Tão requebrado,
Ou antes pranto
Tão soluçado,
Tão repassado
De gratidão,
Duma alegria,
Uma expansão,
Uma veemência,
Uma expressão,
Uma cadência,
Que comovia
O coração!
Jesus
caminha
No seu passeio;
E a avezinha
Continuando
No seu gorgeio,
Em quanto o via:
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De vez em quando
Lá lhe passava
À dianteira;
E, mal pousava,
Não afrouxava
Nem repetia;
Que redobrava
De melodia!
Assim foi indo
E o foi seguindo,
De tal maneira,
Que noite e dia
Numa palmeira,
Que havia perto
Donde morava
Nosso Senhor
Em pequenino,
(Era já certo)
Ela lá estava
A pobre ave
Cantando o hino
Terno e suave
Do seu amor
Ao Salvador
João de Deus
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