Os
plurais dos nomes terminados em –ão não poderiam ser tratados
numa simples Folha Solta.
Da escrita à acentuação, da analogia à etimologia
popular, passando pela regionalização, há imensos factos a considerar.
Deter-nos-emos, por isso, no que consideramos essencial para o comum dos
mortais, deixando o resto aos técnicos e investigadores.
Os
nomes terminados em –ão, apresentam 3 tipos de plural, de acordo com a
terminação latina correspondente, ou por influência da analogia:
· Derivados de nome latino terminado em –ones,
formam o plural em –ões.
Ex. acção (actione)- acções.
E, de igual modo: leão, oração, ladrão, lição, canção, etc..
· Derivados de nome latino terminado em –anus,
acrescentam a desinência –s.
Ex. mão (manus) – mãos.
E,
do mesmo modo: irmão, órfão, grão, cristão, cidadão, etc..
· Derivados de nome latino terminado em –anes,
formam o plural em –ães.
Ex. cão (cane) – cães.
E também: pão, capitão, hortelão, sacristão, etc..
Nota-1: Seria tudo
relativamente simples se estes 3 tipos fossem gerais e universais. Mas a
complicação começa agora e vai ao ponto de mesmo os bons gramáticos não estarem
de acordo.
· Há nomes que oscilam entre 2 das formas, podendo
adoptar-se qualquer delas: Corrimão / corrimões
ou corrimãos. Verão / verões
ou verãos.
· Outros nomes admitem 3 tipos de plural: Ancião / anciões,
anciães
e anciãos. Ermitão / ermitões,
ermitães
e ermitãos.
E também neste caso: aldeão,
alão, sultão.
OBS.:
Nestes casos preferimos o plural em –ões (processo de analogia),
dado que a maioria das palavras vindas do Latim, formam o plural em –ões.
Nota-2: Tomemos,
como referência, a palavra Ancião e as 3 formas de plural, sem uma distribuição
geográfica disponível nem uma justificação taxativa, para cada uma das formas.
Verificamos que os linguistas se dividem entre os que defendem que em Portugal se usa
mais anciões e no Brasil anciãos. Os Dicionários dos dois países são
omissos quanto a esta questão.
Todavia dados recolhidos em corpora
em linha indicam, exactamente, o contrário:
Consulta a 2 corpora, da Linguateca – o cetem Público (189,6
milhões de palavras provenientes do Jornal “Público”) e o ProjectoAC/DC corpoNILC/S. Carlos
(32,5 milhões de palavras de textos jornalísticos brasileiros), fornecem os
seguintes resultados:
Cetem Público: anciãos – 106 ocorrências, anciões
– 17 ocorrências e anciães – 1 ocorrência.
Projecto AC/DC: anciãos – 13 ocorrências, anciões
– 36 ocorrências e anciães – 0 ocorrências.
Nota-3: Referimos
agora a palavra Artesão, que admite 2 formas de plural, tendo, cada forma de
plural um significado próprio:
· Artesão – plural artesões (lavores para
decorar ou enfeitar, tectos ou abóbadas).
· Artesão – plural artesãos (artistas q/ trabalham, artesanalmente).
Por isso, não critique se tiver oportunidade de encontrar a seguinte
frase: “Os artesões das abóbadas das capelas, foram concebidos e
produzidos por artesãos portugueses”.
3 comentários:
Se começamos a analisar todas as variantes, ficamos a certa altura com a ideia que já não sabemos nem escrever nem falar.
Senhor professor José Valente tenha pena de nós que continuamos tão ignorantões.
Caro(a) Amigo(a):
Obrigado pelas suas palavras; os comentários são o melhor incentivos para quem escreve.
Como escrevi na "folha solta - 98", sob o título "Dúvidas e Certezas", publicado no blogue em 23FEV2012 ...confissão de que cada vez tenho mais "Dúvidas"...
E como as minhas publicações se aproximam já das 4 centenas, espero que não tenha chegado a saturação dos meus seguidores e simples leitores. Mas, o saber ainda não ocupa lugar e... vou escrevendo; alguém há-de ser sempre o meu leitor de primeira vez.
E deixe-me que lhe diga que o seu "ignorantões", vem muito a propósito. Obrigado.
Um grande abraço e até sempre.
LK - Não são nada saturantes as suas histórias e divagações, que acompanho com assiduidade. Espero continuar a acompanhar nem sempre com comentários mas com muito interesse.
Enviar um comentário