domingo, 25 de março de 2012

Capicuas /Palíndromos -1


                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      
Com números e à sua volta, desenvolveram-se crenças, superstições, passatempos e costumes. 

Na cultura do ocidente, associa-se o 13 a sentimentos de azar, ou falta de sorte.

Para os chineses e outras culturas do oriente, a presença de um, ou vários “oitos”, em qualquer aquisição é presságio de sorte. 

Em sentido abrangente, a capicua, ou palíndromo, é, normalmente associada a sorte e quer nos bilhetes de qualquer coisa, quer na numeração das notas, a descoberta de uma capicua é bem recebida e aceite como bom augúrio. 

Os filólogos de Barcelona reivindicam a criação da palavra capicua, “cap i cua” (cabeça e cauda), em catalã, nos finais do séc. XIX, para designar os números que podem ser lidos da esquerda para a direita, ou da direita para a esquerda. 

A Matemática vem estudando esses números desde a antiga Grécia, chamando-os palíndromos, à semelhança dos palíndromos da linguagem – palavras, ou frases inteiras, que podem ser lidas, em qualquer direcção. 

A palavra deriva do grego “palin” – trás + “dromos” – corrida, sendo, todavia, muito menos divulgada, ao comum dos mortais, que a velha capicua. 

Além da correcta significação, generalizou-se a designação de capicua para situações depreciativas: autoridades (e antigos inimigos) a cavalo, que não agradam a quem as vê; forma engenhosa, para nomear bissexuais, etc. 

Na oficina do velho ferreiro, entre almanaques e alfarrábios, havia papéis rabiscados, pendurados em pregos na parede. 

Descobri uma folha de papel pardo, com algarismos, contas e nomes de pessoas. 

Pedi para consultar tão estranha literatura e, ao ver-me em palpos de aranha, o meu padrinho, parou de malhar no ferro e veio ajudar-me, explicando: 

O que aí vês, não estudas lá no colégio; são coisas da minha lavra. São capicuas e números da sorte – que ainda não encontrei. 

Sabes, o compadre Alberto, convidou-me para padrinho do próximo filho e faz questão que seja eu a escolher o nome. 

Pois bem, se for cachopa será Ana, se for moço, há-de ser Oto. Isto porque são nomes capicua. Sabes o que isso é? 

Cheio de vaidade, respondi: nomes, ou números, que se podem ler de trás para diante, ou de diante para trás. Dizem que dão sorte e, se calhar, é por isso que o padrinho os escolhe. 

Ora, nem mais… 

Parece-me que começo a arrepender-me de ter sido tão contrário à decisão de teu pai e teu avô, quando me consultaram sobre a tua ida para os estudos!... 

(Continua)

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