domingo, 1 de abril de 2012

Ler um livro



Ao contrário do que dizia o filósofo grego – Plínio, de seu nome –, os espíritos imortais fugiram das estantes das bibliotecas, sacudiram poeiras e algumas teias de aranha e pairam no virtual, chegando num simples clic ao visor de qualquer “note book”ou telemóvel, mesmo de baixo custo. 

A memória que tanto cuidado nos dava quando estudámos os compêndios escolares, tantas atenções merecia e tanto era enaltecida, terá perdido a importância? 

Creio que não, continua a ser base indispensável da estrutura do saber. 

Mas a massa cinzenta necessária ao ensino de há décadas, é libertada para outras actividades do intelecto. 

Hoje temos muito saber acumulado, disponível sem intervenção da memória; embora provavelmente as sinapses das células nervosas trabalhem em maior complexidade e muito maior quantidade que nos tempos, acima referidos. 

A informação disponível no dia-a-dia, metendo-se pelos olhos dentro, agredindo a capacidade de qualquer criança, espevitando-a, pode equiparar-se à que manipulava qualquer licenciado de então. 

Volta a surgir a importância da leitura, estimulante da compreensão rápida, factor de fácil expressão, de capacidade de selecção e de velocidade de reacção e elaboração de decisão. 

Meditemos nas palavras de José Luís Borges: “que outros se gabem dos livros que lhes foi dado escrever; eu gabo-me dos que me foi dado ler…” 

Pousando nas brasas do “red-line” da vida moderna, arrefeçamos os nossos observadores e estimulemos o seu sentido crítico – qual advogados do diabo –, lembrando-lhes que para dispormos de todos esses terabytes / nanobytes, de informação, nesses galácticos armazéns de informação avulsa e nem sempre expurgada de joio, alguém trabalhou horas, meses, lustros e, daqui a dias, séculos, para compilar, sistematizar, digitar e digitalizar tudo isso. 

A inteligência virará, um dia, digital, virtual, ou outra coisa qualquer, mas a sensibilidade, o riso e o choro, o sopro da vida de uma qualquer personagem, perdurarão e não é líquido poder-se hoje admitir que venham a entrar nos computadores, ou seus sucessores. 

A cultura será tudo isso, mas os livros continuarão a existir e regressarão às estantes, após o desassossego. 

Leia-os.

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