(Escrito nos inícios da década de 90)
Vivemos na época do “e - qualquer coisa”.
Como sempre tem acontecido ao longo da História, a moda pegou, rápida e definitivamente, em Portugal.
Temos e-mail, e-learning, e-commerce, e-business, e-working..
Este pomposo e mediático “- e” serve para quase tudo.
Até para explorar os incautos com o “e-loving” na Internet e chamadas de valor acrescentado.
Nos campos de futebol, na televisão, nos autódromos, os grandes patrocinadores da publicidade que nos imerge, trocaram os tabacos e bebidas alcoólicas pelos operadores e sistemas de comunicação.
Toda a gente distingue o digital do analógico, o virtual do real … o que tem “-e”, do tradicional.
Numa breve análise conclui-se que a diferença entre telefonar de um telemóvel e de um telefone convencional é apenas a “portabilidade” do primeiro.
Todavia deve acrescentar-se o rol de oportunidades e maçadas, incluindo custos acrescidos, que são subtraídos ao conhecimento dos utentes e passaram a constituir hábitos do mais pacato dos cidadãos.
Com a Internet, menos lucrativa para os grandes pseudo-mecenas da nossa cultura, passa-se algo de diferente.
Vale a pena analisar, neste ponto de vista, o fenómeno em Portugal.
Estamos nos 10 países do mundo com maior número de telemóveis, por habitante. Na Internet – e não faltam ofertas de ligações gratuitas – estamos na cauda dos países da U.E.
Temos o mais baixo nível de leitura e consumo de livros e revistas – não lemos por prazer e também não sentimos necessidade de o fazer –.
A televisão encarrega-se de sugar todos os tempos livres da maioria dos portugueses.
Todos os anos, todos os Orçamentos de todos os Governos, prometem mais escolas ligadas à Internet, mais investimentos em TI (tecnologias de informação).
Em todos os próximos anos, todas as escolas, vão estar ligadas “on-line”. Caminhamos, a passos de gigante, para a “sociedade da informação”, como nos dizem os políticos e os “media”.
Mas conduzirá mesmo à “sociedade de informação” uma tão pródiga disponibilização de tecnologias?
É que têm sido esquecidas as pessoas e os computadores não trabalham sozinhos; os simples “ratos”, embora sem fios, ainda precisam dos dedos que os “cliquem”.
A formação dos quadros públicos e o apoio às acções desenvolvidas por actividades privadas, na área do desenvolvimento da pessoa humana são condicionantes incontornáveis do avanço tecnológico da Humanidade.
Comecemos a cuidar das crianças, ainda antes de nascerem... mesmo ainda antes de serem concebidas.
Na realidade, pondo os pés bem assentes no chão e pensando “analogicamente”, um simples livro é algo de muito complexo, tecnicamente inacessível e perfeitamente inútil, para um analfabeto que o não pode ler.
Para alterar mesmo as coisas, comecemos pelo princípio, ensinemos as pessoas a ler!...
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